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Mercado Digital

- Publicada em 13 de Abril de 2022 às 08:44

Metaverso: o novo mundo que habitaremos

Geração atual de crianças é nativa digital e tem mais familiaridade

Geração atual de crianças é nativa digital e tem mais familiaridade


PATRICIA COMUNELLO/DIVULGAÇÃO/JC
Vitor tem 10 anos e reagiu com naturalidade ao ouvir adultos falarem sobre o metaverso, durante evento recente que foi com a mãe, a jornalista Grazielle Araujo. A palavra da moda resume o novo ambiente de realidade virtual e estendida que aproxima ainda mais o digital do físico, amplificando a nossa vida online.
Vitor tem 10 anos e reagiu com naturalidade ao ouvir adultos falarem sobre o metaverso, durante evento recente que foi com a mãe, a jornalista Grazielle Araujo. A palavra da moda resume o novo ambiente de realidade virtual e estendida que aproxima ainda mais o digital do físico, amplificando a nossa vida online.
Ao ver imagens de como será esse novo mundo, ele reagiu com a tranquilidade de quem já compreendia muito bem o que estava sendo dito. "Ah, já estou acostumado com isso nos games. A gente tem até uma moeda para fazer compras, os V-bucks", explicou o garoto, enquanto os adultos ali presentes, de diversas gerações do varejo gaúcho, buscavam respostas sobre o impacto do novo mundo.
O garoto estava se referindo ao universo que povoa um dos games que fazem mais sucesso com a galera da sua idade, o Fortnite, no qual os participantes podem comprar skins para personagens. "Uma skin a R$ 24,90 é a mais barata, mas a R$ 37,00 já vale a pena", detalha o filho de Grazi (como é mais conhecida), que, no último Natal pediu de presente a familiares e ganhou gift cards para gastar no "mercado" do jogo. Recentemente, inclusive, a companhia desenvolvedora de jogos Epic Games, que detém os direitos do Fortnite, e a Lego, anunciaram que criarão, juntas, um metaverso focado em crianças.
Voltemos para o Vitor. Para além de comprinhas, ele revela mais sobre a rotina que vivencia na plataforma. Aliás, admite que prefere encontrar os amigos nos games, onde todos ficam conectados online, cada em sua casa, do que se encontrar fisicamente.
O comportamento e a naturalidade do filho da jornalista ao falar deste assunto refletem um típico integrante daquela que já foi apelidada de Geração M, de Metaverso, situa Natália Vargas, especialista em tendências na WGSN, empresa global que estuda comportamento e consumo. "A geração Alpha, também chamada de Geração M, de Metaverso, será diretamente impactada e moldada por esse novo universo à medida que ambos crescem e atingem a maturidade simultaneamente", revela.
Nascida entre 2010 e 2025, é a primeira geração a ter sua vida inteira, desde o nascimento até os primeiros anos de vida, compartilhada na internet, conecta Natália. A cada semana nascem 2,8 milhões de novos Alphas que terão, inevitavelmente, o maior poder de compra no futuro.
Natália diz que "o metaverso", não exatamente com esta denominação, já estava no radar da empresa. Em 2018, estudos identificavam a ascensão do movimento do terceiro espaço e como isso afetaria a dinâmica da sociedade. A pandemia acelerou a migração coletiva para o digital, o que criou condições essa convergência definitiva.
"A junção entre a realidade física e o digital se torna cada vez mais real. O metaverso é um espaço virtual ininterrupto que deve se tornar a nova maneira através da qual a sociedade e a cultura serão interligadas, com potencial de alterar a maneira como consumimos, vivemos e nos comunicamos nos próximos anos", arremata a integrante da WGSN. O diretor de Inovação da Accenture Technology, Daniel Franulovic, comenta que estamos diante de uma mudança cultural que provocará uma transformação da forma como a gente usa a internet hoje em dia. "O Metaverso é mais que uma tecnologia, é um conceito. Tem muito hype e frenesi, mas a nossa visão de futuro é que estamos diante da própria evolução da internet. Vamos vivenciar uma expansão do mundo físico que a gente habita", projeta.
Para as novas gerações, como no caso do Vítor, esse movimento acontece sem sobressaltos. "Enquanto nós, adultos, sofremos durante a pandemia para nos adaptarmos às novas ferramentas e aplicativos de negócios e reuniões, a geração nativamente digital já passa horas on-line. Para eles, a conexão do mundo físico e digital já é uma realidade", analisa.
De fato, para compreendermos a curva de adoção do Metaverso, precisamos falar sobre letramento digital, destaca o CEO e diretor de inovação da DB, Eduardo Peres. "Por um lado, temos uma geração que precisa se ambientar e superar um estranhamento do uso de algo diferente. Por outro lado, temos uma geração de jovens com elevada proficiência na utilização de ambientes virtuais imersivos, principalmente em decorrência do uso em jogos e participação de universos 3D. O caminho é remover a fricção de uso para algumas pessoas, enquanto para outras a adoção será totalmente natural", observa.

Divisão entre físico e virtual não faz mais sentido, aponta Paulo Pedó

A divisão entre físico e virtual já não faz mais sentido. Isso ficou muito claro na pandemia, com a possibilidade de estarmos digitalmente presentes em qualquer situação, não importando a localização física.
"A aceleração da tecnologia através dos recursos de Realidade Virtual, do aumento exponencial do processamento, do 5G e da Inteligência Artificial, além da digitalização do dinheiro através dos protocolos de Blockchain e dos Non-Fungible Tokens (tokens não fungíveis), NFTs, tornarão isso possível em um nível muito maior e real", analisa o diretor de Negócios Digitais da Melissa, Paulo Pedó.
Para ele, não estamos falando de um futuro muito distante. "Estamos diante de algo que vem sendo construído há décadas, e parece estar maduro para ganhar uma escala exponencial mais cedo do que imaginamos", avalia.
Um cenário que abre uma oportunidade gigante para as empresas ampliaremos seus negócios em ambientes até então explorados apenas de forma marginal. "Isso vai muito além dos processos de omnicanalidade que já fazem parte da nossa rotina. É uma ampliação da realidade que permite também uma experiência imersiva que não tem fronteiras quando pensamos no relacionamento entre as pessoas e as marcas", destaca Pedó.
A Grendene está trabalhando em diversos projetos de inovação via o Bergamotta Labs e as principais marcas da companhia, como Melissa, Rider e Ipanema. "Estamos nos preparando para essa nova realidade. São projetos que vão desde NFTs, processos imersivos de compras e novos produtos e serviços. Um deles, inclusive, será lançado nesta semana: a Melissa NFTs, primeira coleção de tokens não fungíveis da marca", revela.
Este é apenas um exemplo de que, se o foco das pessoas está neste novo mundo de oportunidades que a união do mundo físico e virtual inauguram, é para lá que as marcas irão. "Estamos diante da economia da atenção. No momento em que decidirmos ficar no metaverso, nos relacionando com alguém, assistindo a conteúdos, fazendo viagens ou comprando, a tendência é que a economia se transporte para lá. Por isso, é natural que tenha varejo, moda, pagamento e entretenimento nesse novo ambiente", relata o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra.

Tecnologias irão revolucionar rotina de empresas e a vida das pessoas

Na DB VRoom, usuários podem interagir em ambiente que simula mundo físico

Na DB VRoom, usuários podem interagir em ambiente que simula mundo físico


DB/Divulgação/JC
Imagina que você está construindo uma estrada num canteiro de obras e, de repente, irá para o ambiente digital para aprimorar algumas coisas do projeto. Ao final, se reúne com o seu time em um escritório no metaverso para agendar os próximos passos e as inspeções de segurança da obra, que acontecerão de forma presencial.
Em um futuro cada vez mais próximo, as pessoas pularão entre esses mundos diariamente, aponta a consultoria Accenture, que aposta no modelo de metaverso contínuo, um espectro de mundos, realidades e modelos de negócio digitalmente aperfeiçoados e preparados para revolucionar a vida e as empresas na próxima década.
"As empresas já estão investindo em interoperabilidade para garantir que as pessoas possam ter uma experiência única, com hoje temos ao sair do Instagram e entrar no Tik Tok. No Metaverso, sairemos do ambiente do Fortnite e entraremos no Horizon, do Facebook, por exemplo, como se estivéssemos atravessando a rua no mundo físico", exemplifica o diretor de Inovação da Accenture Technology, Daniel Franulovic
Com a corrida das grandes corporações para serem as primeiras a chegar ao olimpo deste universo paralelo, o sonho dourado dos mais puristas, de termos um ambiente único, deverá ser difícil de ser alcançado.
"Embora a integração tenha um papel relevante para o futuro, essa não é uma preocupação prioritária para a maioria das empresas que estão produzindo metaversos. Neste contexto, não devemos falar de um metaverso, mas sim de metaversos", destaca o gerente sênior de inovação do DBLAB e pesquisador, José Masiero.
Mas, não é porque o mundo da tecnologia não está indo nessa direção que devemos desconsiderá-la. "Na DB, acreditamos nas potencialidades sociais e de negócios de um ambiente virtual imersivo e interativo que seja orientado pela inclusão, diversidade e segurança. Nos referimos a este ambiente como metaverso aberto. Nesta perspectiva, poderíamos transitar com nossos avatares por diferentes ambientes, e nossa experiência nestes ambientes seria de nossa propriedade", defende.
 

17 carreiras emergentes no metaverso

Sobre carreiras e profissões no metaverso, mais insights provocativos. A PageGroup, referência mundial em recrutamento especializado de executivos, listou 17 áreas emergentes.
O metaverso tem tudo para se tornar a nova internet e gerar um ambiente totalmente novo e propício para novas oportunidades de trabalho, avalia a gerente sênior do PageGroup, Juliana França. "Já há especialistas nesse universo, especialmente com formação técnica, para tornar esse ambiente mais propício para novos negócios e para o entretenimento", diz.
  1. Gestor de Investimentos
  2. Gestor de patrimônio & imobiliário digital
  3. Especialista em estruturação de linhas de crédito
  4. Analista de taxas de transação virtual
  5. Gerente de Seguros Financeiros
  6. Engenheiro de Hardware
  7. Gerente de Segurança
  8. Desenvolvedor de ecossistema
  9. Gerente de Segurança da Informação & Riscos
  10. Especialista em Segurança Cibernética
  11. Engenheiro de Tecnologia de metaverso
  12. Desenvolvedores de avatares
  13. Cientista de pesquisa em metaverso
  14. Estilista de moda digital
  15. Designer digital
  16. Diretor de eventos
  17. Influenciador avatar

Web3 e 5G habilitam gama de possibilidades inovadoras

Mendes projeta de dois a três anos para experiências geradas pelo metaverso deslancharem

Mendes projeta de dois a três anos para experiências geradas pelo metaverso deslancharem


AQUIRIS/DIVULGAÇÃO/JC
Na última NRF Retail's Big Show, em Nova York, em meados de janeiro, a maior feira de inovação e tendência do varejo no mundo, metaverso foi a buzz word. Lá, a sul-coreana Emma Chiu, diretora global da consultoria global Wunderman Thompson (WT), protagonizou a sessão mais disputada e deu recados importantes, a partir de pesquisas que a empresa vem fazendo desde a eclosão da realidade imersiva e experiência em realidade aumentada.
Um detalhe importante: a palavra metaverso realmente entrou com tudo em relatórios de grandes marcas em meados de 2021. Um deles é o Into the Metaverse, assinado pela WT, que destaca que, à medida que mais tempo de nossas vidas está no mundo online, fica mais difícil distinguir a vida "real" do que é vivido digitalmente.
"O potencial do metaverso vai além do domínio digital, permitindo interações que removem as fronteiras do físico e do digital", conceitua a diretora da Wunderman Thompson, que provoca: "O metaverso já existe? Não exatamente. No entanto, as sementes estão plantadas. É só uma questão de tempo", projeta.
O relatório reuniu dados de 3.011 usuários nos Estados Unidos, Reino Unido e China. Um dos achados é que 93% dos participantes apostam que a tecnologia é o futuro. "O metaverso vai acabar sendo uma internet 3D com fator da imersão", observa o cofundador da fabricante de games Aquiris Israel Mendes. Elementos a serem usados, que ainda enfrentam barreira de preço, mas cuja demanda explodiu na demanda, os óculos de VR para gerar a interação vão fazer a diferença, admite o empreendedor, que atenta para uma fricção no uso.
"A experiência (metaverso) é de um game, pois é um convite para sair do mundo real para o lúdico. Vai levar uns dois a três anos para deslanchar. Posso morrer pela língua, porque a tecnologia anda rápido, mas todo mundo vai ter de se dar conta de como desenvolver uma experiência para o usuário", reforça.
Em 2021, o Metaverso emergiu com cara de novidade, após o criador do Facebook, Mark Zuckerberg, ter rebatizado sua companhia de Meta (de olho no mundo escalável de negócios e receitas). Esse novo mundo, porém, já tinha sido descrito em 1992 pelo autor de Snow Crash, Neal Stephenson, e construído, como um típico MVP (mínimo produto viável), em 2003, com o Second Life.
Mas em 2022, a história é outra. A capacidade de processamento computacional, a chegada do 5G e da Web3, marcada pela descentralização, virtualização e privacidade, são fortes habilitadores deste novo mundo de possibilidades que surgem as NFTs, DeFi (finanças descentralizadas) e o próprio metaverso.

A fluidez digital no estabelecimento de relações interpessoais

O metaverso, como todo novo conceito em nascimento, expressa o nosso tempo, a transformação tecnológica e, ao mesmo tempo, relacional que vivenciamos, define o neurocientista, futurista e professor livre-docente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Álvaro Machado Dias.
O especialista comenta que enxerga dois tipos de metaverso. Um deles é o virtual, que se dá na interação social gamificada, com uso de óculos de Realidade Virtual, e que isola a pessoa do mundo físico. "É um contínuo de transformação tecnológica, e o que define se está mais dentro ou fora é a fluidez digital no estabelecimento de relações interpessoais", conceitua o futurista.
Enquanto o mecanismo dos games segue um script com uma recompensa determinada, o metaverso tem menos script e mais desenho pró-interação e construção, criando um campo para reprodução das forças que moldam a socialização fora do universo digital.
A outra demarcação é feita em relação ao uso de óculos de realidade virtual (VR) e realidade aumentada (AR) para gerar a experiência ou a interação. "Você mergulha no mundo de projeções de hologramas. O corpo está parado, mas você anda por um game", descreve o neurocientista. Ele vê esta ferramenta associada a experiências curtas no mundo do entretenimento, pois as pessoas não suportariam ficar muito tempo devido ao impacto no funcionamento biológico do cérebro e sua conexão com o organismo. "É complexo aguentar o descompasso entre a ação na tela e o corpo pelo uso prolongado", explica Dias.
E tem o metaverso aumentado, no qual não se perde a visão do mundo, como no uso do Google Glass, que projeta uma nova camada com mais informações. "Este tem chance de revolucionar a vida das pessoas", aposta o professor.