Quatro projetos criados por colaboradores de Furnas, e desenvolvidos para solucionar dores sentidas por eles no dia a dia da operação, estão prestes a se tornar uma startup, com opção de compra futura pela companhia. Subsidiária do grupo Eletrobras, Furnas atua na geração, transmissão e comercialização de energia elétrica e está presente em 15 estados e no Distrito Federal.
“Temos um esquadrão interno montado para fazer esse modelo inédito e desafiador de intraempreendedorismo se tornar realidade até terceiro trimestre de 2021”, aponta o gerente de Desenvolvimento e Inovação de Capital Humano e líder de inovação aberta de Furnas, Thiago Peixoto. Esses quatro projetos somam, juntos, um valuation estimado de R$ 20 milhões.
O ponto de partida é a preparação e a transformação em uma empresa das ideias vencedoras da Olimpíada Nacional de Inovação das Empresas Eletrobras. O programa de intraempreendedorismo contou com 198 colaboradores inscritos das oito empresas do grupo, que foram desafiados a criar soluções para problemas que eles identificaram na empresa.
A partir das ideias geradas, o passo seguinte seria a sua transformação em protótipos. E foi aí que veio a percepção que existiam limitadores internos para que esses projetos avançassem. É o caso, por exemplo, da necessidade de abrir uma requisição para a criação do software e seguir na esteira de todos os demais projetos de Furnas.
“Com isso, aquele grupo de inovadores engajados, que maratonou durante dois meses para estruturar uma proposta e desenvolver o MVP, acabava perdendo o ânimo ao descobrir que demoraria de seis meses a um ano para ter a sua solução desenvolvida pela TI ou pela fábrica de software”, analisa Peixoto.
Como existia essa dificuldade de recrutar recursos internos para construir os produtos, a decisão foi por qualificar e empoderar um grupo de colaboradores inovadores e empreendedores a fazer isso. Em 2020 foi assinado um protocolo de intenções para a criação de uma venture builder, a primeira em uma empresa de economia mista e em um mercado controlado, como o de energia.
Para apoiar essa iniciativa, Furnas conta com a parceria de players do mercado, como é o caso da GROW+, aceleradora de startups e gestora de investimentos que nasceu em Porto Alegre e hoje tem atuação nacional.
“Pesquisamos o mercado, entramos em contato com várias empresas e vimos que, como era um tema novo, muitos não entendiam direito o que a gente queria. A GROW+, então, captou a ideia e desenvolvemos juntos o lab de prototipação”, conta o gestor de Furnas.
Seguindo o conceito de lean startup, foi construído um espaço de aprendizado que possibilitou a validação das hipóteses dos intraempreendedores por meio da criação de protótipos dos projetos de inovação aberta propostos.
O CEO da GROW+, Paulo Beck, comenta que houve uma verdadeira renovação da cultura organizacional das equipes de Furnas a partir do uso das metodologias ágeis. “As pessoas foram preparadas para resolver os problemas corporativos com criatividade e integração, e tudo de forma colaborativa”, ressalta.
Para o executivo mesmo sendo uma empresa com algumas amarras, já que é estatal, conseguiu fazer o que todas as corporações desejam hoje em dia. “Tirar do papel boas ideias, prototipar e colocar no mercado em alta velocidade é o suprassumo da inovação. E eles fizeram isso com maestria”, ressalta Beck.
Depois da etapa de prototipação, os colaboradores passam pela jornada do empreendedor, na qual são preparados para fazer essas ideias chegarem ao mercado. A parceria neste caso é com a Booming. “O grande desafio é conduzir o processo de desenvolvimento de intraempreendedores em uma sociedade de capital misto, algo incomum no Brasil, e muito diferente dos programas de inovação conhecidos e já praticados no mercado de empresas privadas”, destaca o CEO da empresa, João Braga.
Pelo modelo idealizado, o empreendedor colaborador funda a sua startup e recebe de Furnas esse apoio que precisa para fazer o projeto escalar – a empresa de energia, por sua vez, depois passa a ter a opção de compra de uma parte da operação. “Tudo ainda é muito novo e estamos estudando melhor como será feito, mas já é uma quebra de paradigma. É o que eu chamo de uma endostartup, ou seja, uma startup que nasce a partir da vontade dos colaboradores fundarem e se tornarem os sócios majoritários do novo negócio”, destaca Peixoto.