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Mercado Digital

- Publicada em 20 de Janeiro de 2021 às 16:06

A mobilidade do futuro precisa ser multimodal e compartilhada, alertam gestores

Livia Pozzi, Douglas Tokuno e André Stein apontam tendências para mobilidade do futuro

Livia Pozzi, Douglas Tokuno e André Stein apontam tendências para mobilidade do futuro


WILLIAM BOTLENDER/ARTE JC
Você sabia que em São Paulo, maior cidade brasileira, cada carro privado carrega, em média, 1,4 ocupante? Um veículo de uma tonelada, ou mais, para cada indivíduo, e ainda com alto índice de ociosidade, pois muitas vezes ficam em estacionamentos por mais de 90% do tempo.
Você sabia que em São Paulo, maior cidade brasileira, cada carro privado carrega, em média, 1,4 ocupante? Um veículo de uma tonelada, ou mais, para cada indivíduo, e ainda com alto índice de ociosidade, pois muitas vezes ficam em estacionamentos por mais de 90% do tempo.
Os desafios para construirmos cidades mais inteligentes passam por grandes mudanças que, mais do que tecnológicas, são comportamentais.
“A mobilidade do futuro, com certeza, vai ser elétrica, autônoma e formada por diversas modais que se interligam pelo ar, terra e mar. Mas, acima de tudo, ela precisa ser compartilhada”, alerta o Head do Waze Carpool para a América Latina, Douglas Tokuno.
Ele participou do segundo episódio da série O Futuro Acelerado, do Mercado Digital | Jornal do Comércio, ao lado da diretora de operações 99/Didi, Livia Pozzi, e André Stein, CEO da Eve Urban Air Mobility, spin-off recém lançada pela Embraer, que nasce com a missão de desenvolver o ecossistema da Mobilidade Aérea Urbana (UAM), o que inclui a criação e certificação do veículo elétrico de decolagem e pouso vertical (eVTOL), com custo 50% a 70% mais acessível que um helicóptero.
Impacto da Covid-19 na mobilidade urbana
Livia Pozzi - A mobilidade foi diretamente impactada pela Covid-19. Na 99, já na segunda semana de março do ano passado, tivemos uma queda drástica nos números de corridas. Mas, já tínhamos vivido essa experiência do coronavírus dois meses antes na China, então, desenvolvemos alguns playbooks de atuação, como os processos de sanitização de carros, que nos permitiu atuar de forma rápida. Em relação ao perfil de uso, o que vimos de imediato acontecer foi uma queda de corridas nas regiões mais ricas da cidade, já que as pessoas conseguiam, provavelmente, trabalhar de casa. Ao mesmo tempo, 55% das pessoas relataram aumento de uso de transporte por aplicativo como uma solução segura, no sentido de evitar aglomerações. Vimos também uma grande redução de idas e voltas, de pontos de interesse tradicionais como shoppings e restaurantes, e crescimento dos trajetos entre endereços residenciais.
André Stein - O impacto que sentimos foi um pouco diferente, pois nosso produto ainda vai demorar alguns anos até chegar ao mercado. Mas, claro que fomos afetados, ainda que indiretamente, pois somos uma spin off da Embraer, e a aviação foi impactada. O que mudou com a pandemia foi a percepção. Afinal, como serão as novas cidades? Com a videoconferência vindo para ficar, vamos deixar de ter a necessidade de mobilidade aérea urbana? Vai acabar o trânsito? De um modo geral, essa mobilidade vai voltar, as cidades continuam crescendo, o mundo continua ficando mais populoso, então a questão do trânsito urbano não vai necessariamente diminuir no longo prazo. Isso vale tanto para a aviação que existe hoje, como para essa mobilidade aérea urbana que a gente está trazendo para o futuro, que não vai substituir o que temos hoje, como os carros, mas vai se tornar mais uma opção para as pessoas.
Douglas Tokuno: É realmente uma crise sem precedentes, mas também um acelerador de mudanças. Em Porto Alegre, a queda do uso do Waze no dia 25 março atingiu o ápice negativo, -75% comparado com o período anterior da pandemia. Durante o ano, sentimos uma grande mudança no uso do Waze. Antes, as pessoas usavam para ir ao trabalho ou para a faculdade, e isso caiu muito e não recuperou ainda. Porém, houve um aumento das viagens de longa distância, ou seja, trajetos acima de 150 km. Isso já passou dos níveis que a gente tinha antes da pandemia. Outro tipo de viagem que a gente tem visto que aumentou bastante são as de conveniência, como para ir para ao supermercado, postos de gasolina e lojas.
Integração dos modais 
Douglas Tokuno - A Eve, da Embraer, vai lançar no futuro um veículo voador, mas ela precisa de outros modais para fazer essas conexões, como o carro e a bicicleta, por exemplo. Acho super importante que a gente consiga conectar o máximo de modais possíveis e, para isso, o tema da mobilidade precisa ser colocado em discussão – temos expectativa de que isso seja intensificado agora com as novas administrações municipais que assumiram. Vemos essas tendências acontecendo na Europa e algumas cidades do Brasil já estão anunciando a expansão da mobilidade ativa, por meio de bicicleta e caminhadas. Toda dinâmica de como as empresas vão trabalhar neste cenário de pandemia impacta muito a mobilidade, mas, acho que ninguém, em sã consciência, vai querer aquela realidade que a gente tinha antes nas cidades. Governo, empresas privadas que estão explorando a mobilidade e a sociedade civil tem que refletir sobre isso. Precisamos de espaço para poder experimentar, com responsabilidade, e criar soluções em conjunto. Os incentivos também ajudam a construir essa nova cultura. Quando a gente era criança, não precisava usar cinto de segurança, e agora é um absurdo não usar. Da mesma forma, é um absurdo as pessoas andarem sozinhas com um carro de uma tonelada. Espero para o futuro, que a sociedade continue evoluindo para ter cada vez mais na construção de uma mobilidade melhor para todo mundo.
André Stein - A gente acredita muito no compartilhamento. Aliás, esse tema está no DNA da aviação porque, tirando raríssimas exceções em que as pessoas contam com seu próprio avião executivo, nós usamos a aviação de uma maneira compartilhada desde sempre. Compramos um assento na aeronave para voar com outras pessoas. A ideia é alavancar cada vez mais esse logica, fazendo esse compartilhamento da maneira mais otimizada possível. Quando criamos a EmbraerX, estávamos olhando muito a questão da mobilidade, mais até do que a própria aviação. Pensamos em todas as transformações que aconteceram com a internet e decidimos levar isso para o mundo físico, ou seja, a lógica de as pessoas e os bens também irem de um ponto “A” para “B” de um jeito muito simples, integrado e barato. É o que a gente chama de internet da mobilidade. Criar essas conexões vai depender das várias caixinhas, ou seja, da integração de modais. Tem um momento que o usuário vai pegar a scooter, o carro e o avião, para uma viagem internacional. Mas, tudo isso tem que ser integrado.
Livia Pozzi - Concordo 100%. Queremos construir uma melhor jornada para o usuário. Esse é o foco, e a gente não pode falar dessa essa visão sem pensar em integração, em como garantir a primeira e a última milha de forma que as pessoas tenham a melhor opção para aquela rota, naquele momento. Hoje, no Brasil, nós temos diversas soluções de preços diferentes, mas ainda são concentradas no uso de uma corrida intermediária de carro. Na China, um dos principais ramos que cresce para a gente é o uso da bicicleta. Fazemos milhões de corridas diárias de bicicletas, também chamadas de mobility as a service. Quando a gente fala de micromobilidade, precisamos de uma infraestrutura que permita isso, que as cidades sejam acessíveis e as pessoas consigam usar isso de forma segura. Sempre temos que tratar esses temas junto com os governos. É uma conversa que caminha em conjunto.
Deslocamentos mais inteligentes 
Douglas Tokuno - Temos um programa, o Waze for Cities, em que a gente compartilha dados com as cidades de forma gratuita e totalmente anonimizados. Conversamos muito sobre como o poder público pode usar os dados gerados por empresas ou pela própria infraestrutura que eles têm, como os radares e semáforos, para melhorar a mobilidade da população. Mesmo que a pessoa não use o Waze hoje, ela está, eventualmente, sendo impactada por uma melhoria que foi feita na mobilidade urbana porque os usuários do Waze contribuíram e porque a gente compartilhou esse dado com a cidade. Então, isso é algo que a gente vê e quer muito avançar nessa agenda de ter essa parceria próxima de compartilhamento de colaboração para que a gente tenha um impacto maior.
Livia Pozzi - Hoje, em São Paulo, cada carro privado carrega, em média, 1,4 pessoa. Olha a quantidade de oportunidade que nós temos de reduzir o trânsito. O veículo de aplicativo substitui de 4 a 13 veículos privados, que ficam cerca de 95% do tempo ociosos, parados em estacionamentos. Então, são todos dados que corroboram que a gente ainda está dando só o primeiro passo. A pandemia não acelerou apenas uma mudança de comportamento, mas também mostrou que precisamos transformar a infraestrutura atual, torná-la mais otimizada e inteligente, considerando os dados que nós temos.
O futuro da mobilidade nas nossas cidades
André Stein - A cada ano, o brasileiro perde um mês, em média, no trânsito. O impacto disso na economia chega a quase 4% do Produto Interno Bruto (PIB). É algo que precisa ser melhorado. Um dos caminhos é buscar ideias inovadoras, mas sempre mantendo o olhar de ecossistema, porque não é uma  bala de prata que vai resolver tudo. Por isso começamos a desenvolver um veículo aéreo para a mobilidade urbana. Isso significa, literalmente, pegar todo o benefício que a aviação trouxe para as viagens regionais e internacionais e levar para dentro da cidade, para mais próximo das pessoas. É nisso que estamos trabalhando com a Eve.
Livia PozziO futuro da mobilidade é autônomo, elétrico e compartilhado. Acreditamos na democratização do acesso e de tudo o que vem com isso. Esse caminho envolve um trabalho em conjunto com os órgãos públicos, análises de estudos, compartilhamento de dados e um diálogo para que a gente possa ter melhores legislações para esse tema. 
Douglas TokunoQuando a gente pensa em futurologia, temos que tirar o foco só da tecnologia. O carro autônomo, por exemplo, não vai resolver o problema de trânsito. Ele vai trazer muitas melhorias em segurança, sem dúvida, mas o comportamento das pessoas é o mais importante. Se temos hoje 1,4 pessoa por carro em uma cidade como São Paulo, com o carro autônomo vai continuar igual. Precisamos pensar na mobilidade compartilhada em todos os níveis e trabalhar juntos, cada um fazendo a sua parte. É muito comum os indivíduos reclamarem do trânsito na terceira pessoa, muitas vezes, sozinhos de dentro da sua SUV gigante, usando muita gasolina. Reclamamos do trânsito, mas somos parte do trânsito, pois geramos esse trânsito. A mobilidade, com certeza, vai ser elétrica, autônoma e formada por diversas modais, pelo ar, terra e mar. Mas, ela precisa ser compartilhada. 
Acompanhe também o primeiro episódio da série O Futuro Acelerado, que abordou temas como a cultura digital e a inovação aberta em um bate papo com o Chief Technology Officer (CTO) e diretor de Inovação Digital do grupo Natura &Co para a América Latina, Luciano Abrantes, o diretor global de Tecnologia da Informação e Digital da Gerdau, Gustavo França, e o cofundador e CEO do Distrito, Gustavo Araujo.
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