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POR Patricia Knebel

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Mercado Digital

- Publicada em 07 de Dezembro de 2020 às 14:46

A pandemia é devastadora para a economia criativa, diz Richard Florida

Para especialista, estamos mais conscientes sobre a importância dos espaços de convivência

Jaime Hogge/Divulgação/JC

Os bairros urbanos mais animados e produtivos são povoados e ativos 24 horas por dia. São lugares onde as pessoas vivem, trabalham, brincam, fazem compras e vão à escola. Ao pensar no futuro das cidades, é para essa direção que devemos olhar, sugere o teórico americano e professor da Universidade de Toronto, Richard Florida. Ele foi um dos pensadores que participaram do Festival POA2020 – Exponencialidade para Todos, que aconteceu até a última sexta-feira. O evento 100% on-line reuniu grandes nomes como a filósofa Djamila Ribeiro, o futurista Jason Silva e a neurocientista Suzana Herculano e debateu temas como inovação, tecnologia e criatividade. Nesta entrevista, Florida comenta sobre as mudanças na estruturação das cidades que a Covid-19 está acelerando e alerta que a pandemia está sendo devastadora para a economia criativa.

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Mercado Digital – A Covid-19 está, de fato, transformando as cidades?

Richard Florida – A Covid-19 e as crises relacionadas à pandemia não são tanto desreguladores ou rompimento com o passado, mas aceleradores das mudanças que já estavam em andamento. Por exemplo, já estávamos vendo a tendência de atração das pessoas para os subúrbios e comunidades rurais, incluindo famílias sendo retiradas da cidade em busca de espaços maiores e maior acessibilidade. Por outro lado, com a Covid-19, continuaremos a ver os jovens migrando para as cidades, à medida que elas se tornem mais baratas, e a contínua concentração de setores como finanças, mídia, entretenimento, entre outros, que exigem agrupamento.

Mercado Digital – Que mudanças as cidades devem experimentar no cenário pós-pandemia?

Florida – As cidades precisarão transformar as comunidades em comunidades mais completas. Como Jane Jacobs (escritora e ativista política) explicou há muito tempo, os bairros urbanos mais animados e produtivos são povoados e ativos 24 horas por dia, pois são lugares onde as pessoas vivem, trabalham, brincam, fazem compras e vão à escola. Idealmente, eles contêm uma mistura de rendas, educação e etnias. Para atingir esse objetivo, teremos que reimaginar nossas comunidades como locais de trabalho vivos, mais integrados e incluindo mais espaços ao ar livre, ruas ativas e reposicionamento de espaços subutilizados, como transformando estacionamento em centros comunitários e espaços de reunião.

Mercado Digital – Fazer isso exige cabeças criativas. Como tem sido os impactos da crise na economia criativa?

Florida – A pandemia tem sido devastadora para a economia criativa. Mais de um terço dos criativos e artistas estão desempregados. Prefeitos de todo o mundo veem esta crise tendo um impacto de longo prazo nas artes e na economia criativa. As cidades precisarão desenvolver planos de recuperação abrangentes para seus setores criativos e culturais, e isso deve incluir a oferta de assistência técnica e comercial para empresas, o desenvolvimento de novas plataformas para mostrar o talento local e a mudança da cultura de massa para a cultura local.

Mercado Digital – Assim como as empresas criam plataformas para os funcionários darem ideias que melhoram o dia a dia do trabalho, deveríamos fazer isso dentro de uma perspectiva coletiva para melhorar os ambientes em que vivemos?

Florida – Claro. Nos tornamos muito mais conscientes sobre a importância de nossos espaços de convivência. Além de lugares onde vivemos e nos reunimos com nossas famílias, nossas casas se tornaram lugares onde criamos e idealizamos. Assim como reimaginamos nossos espaços de escritório, precisaremos projetar nossos espaços para inspirar nossa criatividade individual e coletiva.

Mercado Digital - Como você vê a cidade do futuro?

Florida – Simplificando, não estamos vendo a morte de cidades. Nossas grandes comunidades sobreviverão; elas experimentaram grandes testes no passado. Eu sou um otimista: a crise da Covid-19 criou uma oportunidade única na vida de abordar a longa história de divisões e injustiça econômica nas cidades e construir comunidades mais prósperas, justas e resilientes no futuro.

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