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Mercado Digital

- Publicada em 02 de Setembro de 2020 às 18:26

Vem aí uma grande aceleração, projeta Ricardo Amorim

Amorim diz que já vivíamos uma grande evolução mesmo antes da pandemia

Amorim diz que já vivíamos uma grande evolução mesmo antes da pandemia


MARIANA CARLESSO/JC
Ao que tudo indica, o pior momento para a economia mundial e brasileira pós surgimento da Covid-19 já passou. Não que a retomada esteja sendo fácil – os dados do Produto Interno Bruto (PIB) anunciados essa semana mostram que o Brasil teve, no segundo trimestre, a maior queda da economia na sua história. “Voltamos ao nível de 2009. Jogamos fora 11 anos, e hoje a nossa economia é 15% menor do que era em 2014”, analisa o economista Ricardo Amorim, personagem da LIVE desta semana do projeto Mentes Transformadoras. Mas, se a confiança voltar, o que, segundo ele, deve acontecer assim que tivermos uma vacina crível e disponível para o maior número possível de pessoas, poderemos avançar na transformação que já vinha acontecendo. Para Amorim, vem aí uma grande aceleração. “Não estávamos estáveis, já vivíamos uma grande evolução do ponto de vista da tecnologia, social e dos novos modelos de negócios. A pandemia acelerou a curva, e vai seguir acelerando no pós-pandemia”, projeta. Amorim é formado pela USP e pós-graduado em Administração e Finanças Internacionais pela ESSEC, de Paris. Atua no mercado financeiro desde 1992 e trabalhou em Nova York, Paris e São Paulo, sempre como economista e estrategista de investimentos. É um dos apresentadores do programa Manhattan Connection, considerado o economista mais influente do Brasil e também tem atuado como investidor anjo de startups. É o co-fundador da Smartrips, da AAA Inovação e da Mentoria Ricardo Amorim.
Ao que tudo indica, o pior momento para a economia mundial e brasileira pós surgimento da Covid-19 já passou. Não que a retomada esteja sendo fácil – os dados do Produto Interno Bruto (PIB) anunciados essa semana mostram que o Brasil teve, no segundo trimestre, a maior queda da economia na sua história. “Voltamos ao nível de 2009. Jogamos fora 11 anos, e hoje a nossa economia é 15% menor do que era em 2014”, analisa o economista Ricardo Amorim, personagem da LIVE desta semana do projeto Mentes Transformadoras. Mas, se a confiança voltar, o que, segundo ele, deve acontecer assim que tivermos uma vacina crível e disponível para o maior número possível de pessoas, poderemos avançar na transformação que já vinha acontecendo. Para Amorim, vem aí uma grande aceleração. “Não estávamos estáveis, já vivíamos uma grande evolução do ponto de vista da tecnologia, social e dos novos modelos de negócios. A pandemia acelerou a curva, e vai seguir acelerando no pós-pandemia”, projeta. Amorim é formado pela USP e pós-graduado em Administração e Finanças Internacionais pela ESSEC, de Paris. Atua no mercado financeiro desde 1992 e trabalhou em Nova York, Paris e São Paulo, sempre como economista e estrategista de investimentos. É um dos apresentadores do programa Manhattan Connection, considerado o economista mais influente do Brasil e também tem atuado como investidor anjo de startups. É o co-fundador da Smartrips, da AAA Inovação e da Mentoria Ricardo Amorim.
Mercado Digital – Você projeta que teremos uma grande aceleração nos próximos anos. Como será esse movimento?
Ricardo Amorim – Somos todos taxistas. Se o Uber mudou a vida de quem trabalhava com táxi, imagina o que vai acontecer quando o carro autônomo for uma realidade. E isso vale para todos nós. As revoluções estão acontecendo e, ou a gente entra no processo de transformação, ou seremos atropelados por ele. As pessoas costumam avaliar esse momento que vivemos considerando que as coisas estavam estáveis, a pandemia chegou, chacoalhou e aí a partir disso é que viria algo diferente. Mas, não acredito nisso, pois as coisas não estavam estáveis. Seja em termos de tecnologia, socialmente ou nos modelos de negócios, estávamos em uma tremenda transformação. A pandemia acelerou a curva, e vai seguir acelerando no pós-pandemia. Existem milhares de ideias sendo geradas por pessoas conectadas no mundo todo, sem falar nas novas tecnologias que serão a base para esse crescimento, como o 5G e a Inteligência Artificial. E, claro, temos dinheiro. Na medida em que as pessoas param de investir em renda fixa porque já não vale a pena, por exemplo, passam a investir em ações, em imóveis e separam parte para financiar ideias. Nunca houve tanto dinheiro financiando inovação e nunca o mundo viu tanta inovação.
Mercado Digital – Como a mudança de hábitos está potencializando essa transformação?
Amorim – A mudança de hábitos que a pandemia trouxe é outro impulsionador. Vamos pensar no home office. Pesquisas já mostram que muitas pessoas não querem voltar para o escritório. Para o gestor, se ele quiser dar esse benefício ao seu colaborador, ainda vai conseguir reduzir custo. E o que acontecerá com os restaurantes localizados ao do lado das grandes zonas de escritórios em São Paulo, por exemplo, se tivermos menos pessoas trabalhando nestas áreas? Outro ponto de mudança é com o trânsito. Se tem menos pessoas indo trabalhar e o trânsito melhora, as pessoas podem escolher espaços para viver maiores para viver, mais longe, mas com custos menores. Isso muda o perfil de demanda de imóveis nas cidades. Se as pessoas podem trabalhar remotamente, talvez acabem escolhendo viver no interior, e aí se cria, por exemplo, oportunidade para quem quer criar uma nova escola nas cidades menores. Só com o exemplo do home office, já vemos que, com uma primeira mudança, vem muitas outras junto. Essa é a grande aceleração. A gente já vivia um processo de transformação brutal, e ele se acelerou. Quem entender bem isso verá as maiores possibilidades de evolução da humanidade, mas quem não entender, vai ficar obsoleto.
Mercado Digital - Como você analisa a evolução da crise causada pela Covid-19 e o poder de resposta do mundo?
Amorim – Do ponto de vista macroeconômico, a economia mundial vinha bem, e o Brasil, finalmente, estava entrando em um ciclo de recuperação mais sustentável depois de anos horrorosos. Mas aí veio a pandemia, afetando primeiro a Ásia, Europa e depois as Américas. À priori, os países que foram impactados primeiro deveriam ter menos condições de lidar, mas foi o contrário. Os asiáticos foram os que tiveram consequências humanas e econômicas menores, e fundamentalmente porque a Ásia passou por várias outras pandemias nos últimos anos, como suína e aviária, e tinha protocolos e respostas adequadas. A Europa foi pega desprevenida, teve números assustadores no início, mas a resposta foi mais firme. Quando chegou nas Américas, especialmente Estados Unidos e Brasil, vimos uma opção pelo meio caminho. ‘Vai pra casa, mas não muito’, e acabamos no pior dos mundos, com efeitos da economia paralisada e um número de mortos significativo. A história começa mal nestas regiões. Mas, em resposta a isso, o mundo veio com maior estímulo econômico que a gente já viu, tanto do lado fiscal como monetário. Governos do mundo inteiro reduziram as taxas de juros para os menores índices da história – no Brasil, a taxa Selic está em 2% - bancos centrais injetaram dinheiro como nunca vimos. E, para completar, os governos fizeram pacotes de estímulos fiscais significativos.
Mercado Digital – Como esses pacotes de estímulos impactaram a economia brasileira?
Amorim – No Brasil foram duas as medidas chave para fazer a economia parar de afundar e, já a partir de maio, começar a subir. A primeira foi flexibilização do mercado de trabalho, para as empresas manterem pessoas trabalhando com redução de carga horária e salario. Se não fosse isso, teríamos mais 9 milhões de desempregados. Mas, o que fez a economia voltar a subir mesmo foi a renda e poder de consumo injetados com o auxílio emergencial. Todo mês, mais de 66 milhões de brasileiros recebem mais de R$ 50 bilhões. Em geral, isso vai para população de renda mais baixa, que ao receber gasta, e ao gastar faz com que empresas vendam.
Mercado Digital – O pior já passou?
Amorim – O fundo do poço da economia brasileira, e em boa parte do mundo, foi abril. Em maio começou a se recuperar forte. O problema é que, mesmo com essa recuperação, não foi nem de perto o suficiente para cobrir buraco cavado dos meses anteriores. Prova é o dado do PIB, que mostra que tivemos no segundo trimestre deste ano a maior queda da economia na história. Voltamos ao nível de 2009, jogamos fora 11 anos e a economia é hoje 15% menor do que era em 2014. O grande problema é que essa recuperação vai perder força, porque o motor dela, que são esses 50 bilhões, não podem ser mantidos sempre. Quando ele acabar, vai tirar poder de consumo e a economia vai perder força. Uma questão interessante é ver como será quando sairmos deste estimulo que vem do auxílio emergencial e passar para o que vem via crédito. Com a taxa de juros tão baixa e as linhas de crédito disponíveis, se houver uma retomada da confiança dos consumidores, empresários e do setor financeiro, podemos ter nos próximos anos um crescimento muito forte baseado na expansão de crédito, tanto para as empresas como para os consumidores. Mas as contas públicas precisam ser colocadas em ordem, o que depende da reforma administrativa, para cortar gastos do governo, e de um amplo programa de privatização. Aí a dívida pública não será uma preocupação. Se isso não acontecer, as empresas e instituições financeiras vão começar a se preocupar com a solvência brasileira, e o que veremos foi o que aconteceu no segundo mandato da Dilma Rousseff: confiança some, investidores indo embora, economia colapsa e, inclusive, consequências políticas.
Mercado Digital – Do que depende a volta da confiança para podermos projetar um ano de 2021 mais positivo?
Amorim – Precisamos de uma vacina para a Covid-19 crível e disponível para muita gente, e de uma queda brutal das taxas de contaminação no Brasil. Esses dois fatores vão determinar como vamos começar 2021. Isso será fundamental para a retomada de algo mais próximo ao que consideramos normal da atividade econômica. Enquanto tivermos medo da perspectiva futura, vamos gastar menos e a economia terá menos força. O mesmo acontece com os empresários, que não vão querer construir uma nova fábrica se estiverem preocupados com a perspectiva futura, e com as instituições financeiras. Se tivermos essa situação da doença mais controlada e mais confiança, que depende disso, vejo uma possibilidade de retomada forte ano que, mas que também vai depender do cenário político e do comprometimento do governo com as reformas. E os últimos sinais neste sentido não foram positivo, pois desde a saída do Sergio Moro o governo teve a sua base de sustentação fragilizada.
Mercado Digital – Você acredita que podemos ter uma volta da inflação?
Amorim – No curto prazo, o que envolve esse ano e até o início de 2021, não, justamente porque não tem demanda. Enquanto as empresas tiverem dificuldade de vender, não terão como subir preços, mesmo com eventuais aumentos de custo que estão tendo que fazer. Mas, em algum momento, se tivemos cenário de crescimento e expansão de crédito, provavelmente teremos inflação, mas não acredito que seja em patamares descontrolados. Outro cenário no Brasil e no mundo é que quando tivermos a retomada econômica e níveis de desemprego mais baixos, o que vai demorar ainda, se esses estímulos não forem retirados, também poderemos ter a alta de inflação.
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