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Livros

- Publicada em 02 de Junho de 2022 às 17:33

O fim da infância e seus fantasmas

Os abismos (Editora Intrínseca, 272 páginas, R$ 59,90, tradução de Elisa Menezes), romance da premiada escritora colombiana Pilar Quintana , ganhou o prestigiado Prêmio Alfaguara 2021 e teve os direitos adquiridos para vários países. Em síntese a narrativa fala sobre o fim da infância e seus fantasmas.
Os abismos (Editora Intrínseca, 272 páginas, R$ 59,90, tradução de Elisa Menezes), romance da premiada escritora colombiana Pilar Quintana , ganhou o prestigiado Prêmio Alfaguara 2021 e teve os direitos adquiridos para vários países. Em síntese a narrativa fala sobre o fim da infância e seus fantasmas.
Pilar é autora de cinco romances e um livro de contos. A cachorra, traduzido em vários idiomas e publicado no Brasil pela Intrínseca, recebeu o Prêmio Biblioteca de Narrativa Colombiana, o English Pen Translates Award e o Liberaturpreis na Alemanha, além de ter sido finalista no Prêmio Nacional de Novela, na Colômbia, e do National Book Award, nos Estados Unidos.
Cláudia, oito anos, mora com os pais num apartamento duplex em Cáli, tomado por plantas que escorrem pelas paredes e se embrenham pelos cômodos e se enroscam nos móveis. A vida familiar também parece enroscada, como uma selva. A mãe, entediada e deprimida, está em conflito com os caminhos impostos pela vida. O pai omisso se refugia no silêncio ou se expressa vagamente, em frases evasivas.
No livro anterior de Pilar, A cachorra, a protagonista tinha o desejo de ser mãe, sem conseguir realizá-lo. Neste Os abismos temos justamente o contrário: uma mulher que encontra grande dificuldade com a maternidade. Cláudia vê a mãe deitada por dias na cama, obcecada por celebridades femininas que morreram de modo trágico, como Grace Kelly e tenta se aproximar dela, que se afunda em solidão.
Nesse livro sensível e chocante, em meio à beleza e à violência da natureza, confrontando desejos inconfessos, criança e mãe se encontram e, assim, o destino da mais velha parece se debruçar sobre o abismo contra o qual tantas outras mulheres também já se depararam.
Segundo o La Nación, "é interessante como a escrita da autora capta o mundo interno dos protagonistas: as plantas, as falésias, a névoa densa falam de suas emoções contidas."

Lançamentos

  • Segredos do Mato Alto (Editora do Pampa, 112 páginas, R$ 50,00), primeiro romance policial de Paula Deconto, natural de Garibaldi, traz uma aldeia e personagens que apresentam contradições universais da alma humana, como os mistérios, a maldade e o humor. Narrativa envolvente, que vai muito além do mero suspense.
  • O Almanaque de Fran Lebowitz (Todavia, 288 páginas, R$ 74,90), da celebrada jornalista Fran Lebowitz, traz dois dos três livros que escreveu: Metropolitan Life e Social Studies. Fran era famosa colunista da Interview, imortal revista fundada por Andy Warhol, e os livros trazem os textos.
  • Links e Backups (Physalis Editora, 56 páginas, R$ 39,00), de Maria Luiza Puglia, nutricionista, psicopedagoga e escritora de ficção infantojuvenil, pergunta: será possível formatar as nossas memórias sem backups? Ou vamos perdendo os links para nossas antigas dores e alegrias? Sair da infância é pegar a estrada ou shippar memórias e sonhos?

Arte e Magliani no Iberê

Atualmente está meio difícil conceituar com clareza e exatidão o que seja arte. Definições clássicas apontam para expressão de ideal estético, manifestação humana que produz coisas tidas como belas pela sociedade, habilidade para executar finalidade prática ou teórica ou mesmo conjunto de meios e procedimentos para produzir algo. Nesses nossos tempos, é claro que a arte tornou-se mais complexa, tanto no fazer quanto na reflexão sobre ela. Na década de 1960 a arte conceitual abriu mão do formalismo e dos objetos para se concentrar em ideias e conceitos. Hoje leigos e especialistas, aqui e ali, dizem não saber mais exatamente o que seja arte.
Mercado, estética e crítica vão ditando regras, e os leilões de arte vão acontecendo freneticamente. Esses dias, o famoso retrato em silk-screen de Marylin Monroe, de Andy Warhol, foi vendido em leilão por US$ 195 milhões, um recorde para obra de arte de artista norte-americano.
Essas breves considerações são feitas para falar da desafiante arte de Maria Lídia Magliani ( 1946-2012), objeto de grande exposição na Fundação Iberê Camargo, que pode ser apreciada até dia 31 de julho. A mostra ocupa o terceiro e o quarto andar da instituição e apresenta 200 trabalhos, entre pinturas, gravuras e cabeças, que percorrem, de modo cronológico, os cinquenta anos de produção artística de Magliani.
Por sua força e originalidade, Magliani é marco importantíssimo nas artes e na cultura brasileira destas últimas décadas. Com curadoria de Denise Mattar e Gustavo Possamai, a mostra recorreu a instituições de todo o Brasil, como o Museu de Arte do Rio, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, o Margs, a Fundação Vera Chaves Barcellos e o Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo de Pelotas para buscar as peças.
Primeira mulher negra a formar-se no atual Instituto de Artes da Ufrgs, nasceu em Pelotas e veio, com a família humilde para Porto Alegre, onde desenvolveu o encanto pelo desenho, pela pintura, pela música, pela leitura e pelo cinema. Magliani sempre teve consciência das coisas e pessoas de seu tempo e, a exemplo do mestre Iberê Camargo, procurava fazer arte não para enfeitar o mundo, mas para provocar inquietação, ação e reflexão sobre a vida e as pessoas. Magliani soube retratar muitas questões e pessoas de nosso mundo contemporâneo, e seus personagens e traços fortes demonstram a alta sensibilidade e a marcante intensidade de uma artista verdadeira, autêntica, que não veio ao mundo para fazer concessões.
No silêncio e na solidão do local de trabalho, lutando muitas vezes contra si, a doença e o tempo, o artista procura e encontra revelações que vão se transformar em obras. Como diz o velha afirmação em latim: Ars longa,vita brevis. A arte é longa e a vida é breve. Magliani, ao longo de décadas, procurou sua verdade e seus caminhos. Na exposição, os visitantes poderão seguir sua trajetória.

A propósito...

Se é absolutamente certo que a arte deve ocupar os territórios da liberdade e da criatividade, mesmo quando reverencia passados e tradições, e mesmo considerando que, em nosso mundinho aldeia global pós-moderno, quase tudo está incerto, sem fronteiras ou critérios definidos, certo também é que o tempo é quem proporciona a melhor avaliação sobre os artistas e as artes. A pátina do tempo cai sobre a obra de Magliani mostrando uma pessoa, uma artista e uma arte importantes e duradouras, pessoais. Visitando a mostra, não é preciso perguntar o que é arte e, muito menos, o que deve fazer um artista. Está tudo lá. Basta percorrer o acervo, usar todos os sentidos e, claro, ler as frases da Magliani e contemplar bem as fotos. O resto serão as percepções e desdobramentos intermináveis que as boas obras de arte proporcionam.