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Livros

- Publicada em 10 de Dezembro de 2021 às 03:00

Passado e futuro, ciência e política

O dia em que voltamos de Marte (Crítica, 368 pág, R$ 64,90) de Tatiana Roque, professora de matemática da Universidade Federal do Rio de Janeiro, autora de História da Matemática, livro vencedor do Prêmio Jabuti em 2013, contempla desde o Século das Luzes até o Antropoceno, pesquisa nossos caminhos científicos destes últimos 400 anos de história e nos auxilia a traçar projetos para o futuro.
O dia em que voltamos de Marte (Crítica, 368 pág, R$ 64,90) de Tatiana Roque, professora de matemática da Universidade Federal do Rio de Janeiro, autora de História da Matemática, livro vencedor do Prêmio Jabuti em 2013, contempla desde o Século das Luzes até o Antropoceno, pesquisa nossos caminhos científicos destes últimos 400 anos de história e nos auxilia a traçar projetos para o futuro.
Durante séculos a ciência e a política se uniram por projetos de mundo, passando a confiança de que trariam soluções para boa parte das dificuldades enfrentadas pelos seres humanos. Como um foguete ascendendo aos céus, a humanidade parecia esperançosa em direção a um mundo sempre melhor. A descoberta das mudanças climáticas, todavia, colocou essa expectativa em crise e nossa visão do futuro ficou nebulosa.
Tatiana pergunta o que as mudanças climáticas podem fazer por nós, invertendo a pergunta crucial de nosso tempo. "Falar de pensamento científico é uma luta contra trevas. O mundo é assombrado por demônios cada vez mais audaciosos. Esse livro é uma boa forma de exorcismo" , escreveu o professor e pensador Leandro Karnal na contracapa da obra de Tatiana, que, em síntese, apresenta uma abrangente história da ciência e do poder com pistas para buscarmos um novo presente.
"A ciência diz que estamos comprometendo nosso futuro. Forças políticas e econômicas contestam. Fatos se tornam opcionais. Verdades , escolhidas como convém. No entretempo, a Terra esquenta, as florestas perecem, os peixes somem, as populações pobres sofrem ainda mais" escreveu Marcelo Gleiser na orelha deste livro que vem em boa hora, para voltarmos a ter esperanças em nós e no futuro.
Tatiana, em síntese, mostra uma história que redireciona a ciência e a tecnologia e as coloca como aliadas em lutas democráticas para resolver problemas ambientais e mudanças climáticas. É muito.

Lançamentos

  • Herança - Os protocolos e os mandamentos dos pioneiros- Lições para a eternidade (AGE Editora, 240 pág, R$ 47,00), de Felipe Daiello, engenheiro, empresário e escritor, é o romance que completa a trilogia Sagas da Fortuna, que teve Vida e Fortuna publicados anteriormente. A obra mostra nossas heranças portuguesas e humanas, com grandes personagens.
  • Confraria 1523 - História de parceria e bom humor (Farol 3, 84 pág), do consagrado jornalista e escritor Flávio Dutra, traz textos, depoimentos e fotos da confraria ímpar, composta por ele, Charles Tizato, Antonio Bavaresco Jr., José Antônio Vieira da Cunha, Eduardo Vital, Liana Zogbi, Laís Porcellis, Pedro Macedo, Sérgio Rotta e o saudoso Flávio Porcello.
  • Ininterruptos, choremos ruas dentro dos ossos (Class, 74 pág, R$ 36,00), novo livro do professor e escritor Delalves Costa, finalista do Prêmio Academia Riograndense de Letras, tem ensaio de Carlos Nejar, que escreveu: "E com alegria, o RGS ganha mais um criador de força, com sotaque próprio, peculiar. E muito honrará sua já imperiosa literatura."

Para que servem escritores?

Num mundo cada vez mais tecnológico, rápido, e que envolve a quase todos, freneticamente, num mar infinito de imagens, sons e palavras , fica no ar mais uma vez a velha pergunta: qual a função dos escritores e da literatura? Terminada a 67ª. Feira do Livro, removidas mais uma vez as eternas barracas temporárias, permanecem as histórias para o próximo ano.
Contar histórias é tão essencial, humano e antigo como andar a pé e respirar. Sem histórias, sem poesia, sem teatro e sem cinema não dá. Ou, se dá, seria um mundo que não valeria a pena. Nas cavernas pré-históricas, ao redor do fogo, para espantar o medo da noite, acalmar as angústias do dia e esquecer das lutas domésticas e das batalhas com os javalis, as pessoas contavam histórias.
Para salvar a própria pele a rainha Sherazade, nas Mil e Uma Noites, contava uma história por noite ao Rei Shariar e conseguiu ser amada para sempre e sobreviver. A literatura já registrou o sagrado, na Bíblia, o Livro dos Livros. Literatura já foi projeto estatal e, claro, não deu certo. Nem poderia e ainda bem. Literatura e liberdade são irmãs xifópagas. Nada de cirurgia para elas.
Escritores já usaram (e usam) do talento da pena para divulgar ideias, partidos, políticas, filosofias e outras coisas. Funcionou aqui e ali, mas, ao fim e ao cabo, as verdadeiras palavras e histórias não precisam de muletas para circularem pelo tempo e pelo planeta. Mario Quintana, sábio, disse que uma boa causa não salva um mau poema. É por aí.
Mesmo depois de tanta história, ciência, sapiência, academias e acadêmicos, a verdadeira literatura, em qualquer forma, segue livre de amarras, regras e manuais. Literatura não é enciclopédia, livro de história, tratado científico ou filosófico. Literatura da boa é outra coisa, é liberdade total, ilimitada, individual. É a descoberta do novo por cada um. Num mundo que acha que sabe tudo, a literatura mostra que não é bem assim.
Quem sou eu, quem és tu, quem somos nós para dizer qual o papel do escritor e da literatura? Cada um descobre seu próprio papel. Claro, algumas regrinhas de legibilidade mínima e algumas cortesias estéticas para os leitores seguem valendo. A comunicação precisa acontecer, mas não é preciso fabricar best-sellers como quem faz salsichas. Nada contra os deliciosos hot-dogs, claro. O papel da literatura e do escritor é procurar a novidade e seguir mostrando que a vida de um livro é quase sempre tão imprevisível quanto a vida de uma pessoa.
Alguns anos atrás, livros de colorir para adultos e crianças surgiram e fizeram muito sucesso, em vários lugares do mundo. Parece que a moda parou, sem maiores explicações sobre sua origem e destino. Magia, mistério do mundo das palavras e dos livros. Aliás, Harry Potter e outros mágicos estão aí para mostrar que existem mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia, como escreveu William Shakespeare, um dos gigantes da literatura universal.
 

A propósito...

Num fim de ano em que estamos meio perdidos entre tantas notícias verdadeiras, falsas e meio-falsas, informações científicas desencontradas, historiadores que inventam até memórias e "narrativas" diversas, e num momento em que os cenários político, econômico, social, ético, cultural e filosófico desafiam nossos nervos mais internos, há o conforto e refúgio das boas histórias, dos ótimos escritores e das narrativas que nos levam a personagens, viagens e mundos reais e fantásticos. Nos mergulhos neles e em nós mesmos, nem sempre vamos responder quem somos, de onde viemos e para onde vamos, mas sempre vamos nos tornar mais humanos e entender que o caminho da humanidade deve ser esse mesmo, livre, infinito e misterioso.