Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Livros

- Publicada em 16 de Julho de 2021 às 03:00

Humberto Werneck, um cronista brasileiro

Coletânea de crônicas do consagrado jornalista e escritor mineiro Humberto Werneck

Coletânea de crônicas do consagrado jornalista e escritor mineiro Humberto Werneck


ARQUIPÉLAGO EDITORIAL/DIVULGAÇÃO/JC
Sempre se comentou que a crônica é um gênero que tem tudo a ver com o Brasil, onde floresceu como em poucos lugares do mundo. Rubem Braga, grande jornalista, entre outros mestres, proporcionou ao gênero verdadeiro status literário independente, com suas crônicas sobre tudo e nada. É, algumas das melhores eram quando ele estava sem assunto...
Sempre se comentou que a crônica é um gênero que tem tudo a ver com o Brasil, onde floresceu como em poucos lugares do mundo. Rubem Braga, grande jornalista, entre outros mestres, proporcionou ao gênero verdadeiro status literário independente, com suas crônicas sobre tudo e nada. É, algumas das melhores eram quando ele estava sem assunto...
O Espalhador de Passarinhos (Arquipélago, 176 páginas, R$ 39,90), segunda edição da coletânea de crônicas do consagrado jornalista e escritor mineiro Humberto Werneck, se insere nas melhores tradições da crônica brasileira, com sua abordagem espirituosa e linguagem coloquial, tratando de temas do cotidiano.
Werneck nasceu em Belo Horizonte em 1945 mais vive em São Paulo desde 1970. Foi correspondente em Paris do Jornal do Tarde e trabalhou em grandes veículos de imprensa, como o Jornal do Brasil, Veja e Playboy. Pela Arquipélago, publicou os volumes de crônicas Esse inferno vai acabar e Sonhos rebobinados e O pai dos burros: dicionário de lugares-comuns e frases feitas.
Os textos de Werneck tratam de memórias de menino, das aventuras de um quixotesco perpetuador da cantoria dos bicudos, da educação sexual na Idade Média dos anos 1950, de futebol, de aspectos de entrevistas com celebridades como Gilberto Gil e Clarice Lispector, do dia do juízo final e da arte de escrever cortando palavras, entre outros temas.
As crônicas de Werneck têm aquele gostoso sabor antigo que é bem diferente das crônicas atuais, que se tornaram, na maioria das vezes, pequenos artigos de opinião, falando de pandemia, política e futebol, com tons e palavras mais ásperos, em meio a polarizações, palavrões e agressões que andam pautando nossos tumultuados dias.
O autor não foge totalmente de falar das barbaridades nacionais e escreveu: "O espetáculo de lambança cívica que boa parte da classe política brasileira não se cansa de encenar me faz outra vez pensar se já não passa da hora de levar a sério uma ótima ideia do escritor Cyro dos Anjos e instituir o voto contra".
Como se vê, oportuna a segunda edição da coletânea de Humberto Werneck, colocando umas luzes e umas cores para nossos cansados ouvidos e retinas. 

a propósito...

Bom, está quase na hora de terminar de preencher este nobre espaço público que ocupo. Sou a favor da presentificação, de viver o agora ou nunca, sou a favor da liberdade, do caos organizado, de brincar de ser sério e de levar a sério a brincadeira e acho melhor a gente ir decorando os improvisos para os momentos pós-pandemia. Que venham logo os tempos de euforia que costumam acontecer depois de longas crises e pestes, como nos casos da gripe espanhola e das guerras mundiais. Enquanto isso, vamos tentando fazer o melhor. Não está fácil. Depois do relato terrível de um amigo com Covid, tive um pesadelo. No final, estava sozinho no hospital e alguém tinha levado minhas roupas. Se cuide, respire lento, reze e tenha paciência com o atarantado cronista municipal, que precisa dos teus bons pensamentos e de tuas orações diurnas e noturnas. (Jaime Cimenti)

Depauperados, pandemia, cringe e etc

Eu e as torcidas do Flamengo, do Inter, do Grêmio e de tudo quanto é time brasileiro ou estrangeiro e de tudo quanto é seleção do planeta, estamos absoluta e definitivamente esgotados física e mentalmente com esses assuntos de pandemia, vacina, lockdown, confinamento, álcool, propé e outras "amenidades". Até me lembrei de um adjetivo tirado de um velho baú, tipo assim cringe, que é depauperado.
Esse negócio de cringe, aliás, nova palavrinha para cafona, boko moko, demodée, brega, kitsch ou coisa parecida, acho um saco. A gurizada da Geração Z (nascidos a partir de 1995) usa a expressão para pegar no pé dos Millenials, os "velhos" que nasceram entre as décadas de 1980 e 1990. Eu que nasci em 1954 me nego a ser chamado de Museu do Cairo ou coisa parecida. Retro, vintage, nem pensar. Moderno também não me interessa. Não estou na moda. Sou minha própria moda. Me chamem de eterno que vou ficar feliz. Como o Woody Allen, quero ser imortal em vida. Não bebi, não fumei e não cheirei nada, mas estou meio impossível hoje, mas tudo é possível nesse mundo de Deus ou dos ateus, graças a Deus.
Acho que foi o Zózimo do Amaral que escreveu: brega é perguntar o que é brega. Chique é não responder. Atualizando: cringe é a senhora sua mãe, cringe é perguntar o que é cringe. Chique é não responder.
Voltando para o depauperado, só para poupar vocês de consultar o onisciente, onipresente e onipotente Google, digo que o adjetivo significa afetado por decréscimo de recursos financeiros, que experimentou perda acentuada de energia física; abatido; agastado; debilitado; dessorado; enfraquecido e extenuado. Depauperados estamos, mas temos que deixar o velho "normal" e buscar o novo "normal". Dizem que a hora mais escura é aquela antes do sol nascer. Nesta hora, durma bem, se possível.
Faz tempo, aliás, que o velho conceito de "normalidade" foi para o espaço. Nessas tumultuadas jornadas pós-modernas, normal é o que você acha que é normal ou normais são os outros quando concordam contigo. Vistos de longe, claro, que de perto, como disse o normal Caetano, ninguém é normal.
Tem um gênio aí da arte do pensamento que disse que cada ser humano é um gênero individual e, assim, em vez dos apenas 20 ou 30 gêneros criados ultimamente pelos estudiosos, temos quase oito bilhões de gêneros na terra. Normal. Nada contra nada, contra ninguém, vamos em frente. Cada um rolando sua bola redonda no seu quadrado ou sua bola quadrada no espaço redondo. Cada um tentando não se afogar nas agitadas águas da sociedade líquida do saudoso Bauman.
Falando em arte, só para embolar mais um pouco esse papo lisérgico de hoje, atualmente parece que ninguém sabe ao certo o que seja arte. Quem se atrever a elaborar definições por favor envie mensagens para a redação, lembrando que não há definições definitivas e que o colunista pode não gostar delas.

lançamentos

Escola do Grêmio - Formando atletas e cidadãos (Editora AGE, 94 páginas, R$ 47,00), de João de Los Santos, historiador, pesquisador e mestrando em Memória Social e Patrimônio Cultural pela UFPEL, conta a trajetória da Escola que completa 50 anos e se consolidou a cada ano formando grandes jogadores.
Roteiro para virar adulto (Class, 60 páginas, R$ 38,00) de Fischel Báril, escritor, arquiteto e cozinheiro, traz poemas apresentados por Donaldo Schüler. Versos sensíveis tratam de tempo, saudade, vida, morte, pais, filhos, amor e outros temas, como "Ela bordou/ um céu e um mar/ com a linha do horizonte".
Ossos Açucarados (Rusga, 95 páginas, R$ 40,00), de Rafael Farina, fala da geografia e do tempo constituindo sentimentos. Uma autópsia em cada página, em cada estação: "Os semáforos ainda não voltaram a ranger/ mas os primeiros sinais de primavera/ já transformaram a cama numa espécie de canteiro/ de uma cidade do interior".