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Livros

- Publicada em 13 de Novembro de 2020 às 03:00

Cinco séculos de contradições norte-americanas

O momento é mais do que adequado para a leitura de Estas verdades (Intrínseca, 1.072 páginas, R$ 99,90), de Jill Lepore, professora de história norte-americana em Harvard e redatora da The New Yorker. Jill é autora do best-seller A história secreta da Mulher-Maravilha e de The Book of Ages: The Life and Opinions of Jane Franklin, finalista do National Book Award.
O momento é mais do que adequado para a leitura de Estas verdades (Intrínseca, 1.072 páginas, R$ 99,90), de Jill Lepore, professora de história norte-americana em Harvard e redatora da The New Yorker. Jill é autora do best-seller A história secreta da Mulher-Maravilha e de The Book of Ages: The Life and Opinions of Jane Franklin, finalista do National Book Award.
Em síntese na monumental obra Jill mergulha profundamente nas contradições norte-americanas ao longo de cinco séculos e faz uma análise consistente sobre as conquistas e retrocessos na luta pelos direitos civis no país. Thomas Jefferson, terceiro presidente dos Estados Unidos, foi um dos mais eloquentes defensores dos ideais de democracia, liberdade e igualdade, como deixou registrado na Declaração de Independência, que conduziu as colônias à separação definitiva da Grã-Bretanha.
Jefferson tinha mais de 600 escravos e esteve envolvido em polêmica envolvendo Sarah Hemings, uma escrava com quem teve seis filhos. Ele encarna a contradição que é o centro do dilema norte-americano: uma potência construída a partir de causas nobres que convive com intolerância, segregação racial e brutalidade com povos nativos.
A partir de Jefferson, Lepore vai fundo e suas visões são relevantes nesse momento onde movimentos feministas como o #MeToo e protestos antiracistas do Black Lives Matter. Lepore traça a história dos Estados Unidos e a evolução dos direitos civis no país, com articulação de pautas como a união homoafetiva e a legalização do aborto.
A autora igualmente fala de redes sociais e intervenção religiosa na política e questiona se ao longo desses 500 anos as premissas fundadoras de Jefferson foram comprovadas ou desmentidas. Sobre o livro, escreveu Bill Gates: "O relato mais honesto, e mais bem escrito, que já li sobre a história dos Estados Unidos".
Enfim, a obra revela bem a América se alternando entre o medo da mudança e o da estagnação, presa em idealizar o passado e esperando por dias futuros melhores.

Eleições

Pois então vamos, republicanamente, votar dia 15, domingo. Nossa república foi proclamada por um marechal que era amigo do imperador e admirador da monarquia. Ele assumiu com poderes ditatoriais e, depois, foi eleito de modo indireto. O resto é História. Bom lembrar que atualmente somente metade das pessoas no mundo podem votar diretamente para eleger seus representantes.
Então, vamos votar, o voto é o ponto máximo do exercício da democracia. A história do voto vem de longe e algumas narrativas míticas celtas e hindus falavam sobre participação dos druidas e sacerdotes na escolha de seus líderes políticos. Mas foi na Grécia Antiga, em Atenas, século V a.C., que o sistema de eleições começou realmente. Somente homens adultos, livres, nascidos em Atenas e possuidores de treinamento militar votavam. Somente vinte por cento da população era eleitora. Mulheres e estrangeiros ficavam de fora.
Em Roma, por volta do século II a.C., foi criada uma urna para depósito dos votos, que antes eram públicos e, por isso, causavam alguns problemas, especialmente quando as eleições não eram precedidas dos já famosos e humanos conchavos. Até o século XIX, o voto como um direito estendido à maioria dos cidadãos era pouco observado e, mesmo nos Estados Unidos da América, um dos grandes focos da liberdade e da autonomia, o voto era restrito a poucos.
Em meio a esta história eleitoral mundial complexa, tão diversa em vários países, o Brasil, no governo Vargas, em 1932, reconheceu o direito ao voto feminino. Foi um gesto pioneiro. A partir de 1932 o voto passou a ser secreto.Algumas nações europeias permitiram tal direito a partir dos anos 1970. Quanto aos analfabetos, no Brasil, uma emenda constitucional de 1985 permitiu seu direito de votar.
No Brasil da Quarta República, entre 1945 e 1960, tivemos quatro eleições diretas. Entre 1964 a 1985, no período militar, ficamos sem eleições diretas para presidente, voltando a elas em 1989, quando foi eleito Collor.
Especialmente no período da Primeira República, a fraude marcou as eleições. Manipulação de atas eleitorais, compra de votos pela concessão de favores e intimidação de eleitores, o "voto de cabresto", o "curral eleitoral", eram comuns e, em muitos casos, o vencedor teve suspeitos 90% dos votos.
No mundo atual alguns pensadores e professores falam em declínio do sistema democrático e apontam para tendências autoritárias em vários países. Como foi dito, atualmente metade da população mundial não vota para a escolha dos líderes políticos. Evidentemente o tema é altamente complexo, mas merece atenção, estudo e reflexão permanente, devido à sua magnitude e abrangência. Sempre bom lembrar o gigante Winston Churchill: "Democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais". E democracia não se faz sem voto, livre iniciativa, liberdades civis, liberdade de imprensa e transparência. A História demonstra que em mais de dois mil anos o sistema democrático, com eleições livres e diretas, segue mostrando sua força. Extremismos de todo tipo foram experiências ruins.
 

a propósito...

Então é isso, amigos eleitores, é exercer o sagrado direito do voto livre, direto e secreto, com a maior consciência possível e dentro do clima mais civilizado e pacífico que pudermos construir. Violência, intolerância, ódios e preconceitos devem ficar de fora, a bem da melhor vida e do melhor convívio. Não é fácil, há milênios as pessoas lutam por esses ideais. Depois de tantos esforços, de tantos sacrifícios e de tantas vidas dedicadas ao desenvolvimento humano, não seria justo, saudável e inteligente apelar para atitudes pré-históricas e bárbaras e jogar no lixo o futuro que queremos. E vamos lutar contra as fakenews, as pesquisas duvidosas, os cabrestos eletrônicos, as censuras e as manipulações. Boca de urna e boca do povo devem imperar. Mentiras têm pernas curtas, mesmo essas bem produzidas nas redes sociais. O povo não é bobo! Boa eleição! (Jaime Cimenti)
 

lançamentos

  • O Ickabog (288 páginas, Rocco, R$ 69,90), novo infantojuvenil de J.K. Rowling, autora de Harry Potter, na versão em português, tem ilustrações de 34 crianças de vários estados brasileiros. Três são gaúchas. Elas venceram um concurso relativo à fábula sobre monstro temível, aventura, mistério, amizade e superação.
  • Entre outras mil (Diadorim Editora, 148 páginas), romance de estreia de Rochele Bagatini, traz prosa madura e fluente, com muitas mulheres em frente ao espelho. Diz Luiza Milano na apresentação: "Rochele mobiliza recursos que devolvem muito do cotidiano daqueles que já experimentaram a sensação de viver em nossa própria vida um pouco de ficção. Ou vice-versa".
  • Estrangeiro (Libretos, 80 páginas, R$ 39,00), primeiro livro de poemas para adultos do professor e escritor Marion Cruz, autor de livros para crianças. Dilan Camargo escreveu: "Marion mergulhou no fundo de suas memórias poéticas para se reencontrar com o seu próprio estrangeiro e de lá extraiu preciosidades literárias".