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LIVROS

- Publicada em 14 de Junho de 2019 às 03:00

A vida russa de Púchkin

Não há a menor dúvida de que o genial Aleksandr Púchkin (1799-1837) é o maior ícone cultural da Rússia, fundador da literatura moderna do país e que o romance em versos Eugênio Onêguin (Ateliê Editorial, 224 páginas, R$ 78,00) representa para as letras da Rússia o mesmo que Os Lusíadas para Portugal, A Divina Comédia para a Itália, Dom Quixote para a Espanha e as peças de Shakespeare para a Inglaterra.
Não há a menor dúvida de que o genial Aleksandr Púchkin (1799-1837) é o maior ícone cultural da Rússia, fundador da literatura moderna do país e que o romance em versos Eugênio Onêguin (Ateliê Editorial, 224 páginas, R$ 78,00) representa para as letras da Rússia o mesmo que Os Lusíadas para Portugal, A Divina Comédia para a Itália, Dom Quixote para a Espanha e as peças de Shakespeare para a Inglaterra.
A edição bilíngue da obra encadernada, em formato 18x25cm, ora publicada no Brasil pela Ateliê, com primorosa tradução dos versos e das notas por Alípio Correia da França Neto e Elena Vássina, mostra bem porque o livro, de leitura obrigatória nas escolas, já foi chamado de "enciclopédia da vida russa".
Mesclando habilmente romance e poesia, em 384 estrofes de 14 versos cada, a obra mostra o narrador, o dândi Onegin, de São Petesburgo. Jovem, aristocrata, militar, entediado com os prazeres, fica solteiro. Conhece o poeta Vladimir Lensky e a jovem Tatiana, no exterior. Ela lhe manda uma carta de amor, ele não responde e pessoalmente a rejeita.
Onegin se envolve com Olga, irmã de Tatiana e namorada de Lensky. Os dois duelam. Onegin mata o amigo. Tatiana casa com um príncipe e mais tarde reencontra Onegin, que vive em sua mansão em meio a livros e personagens. Ele tenta conquistá-la, sem sucesso.
Púchkin atinge o que muitos classificaram de "perfeição estilística", tirando de palavras comuns conteúdo poético, e, com clareza de expressão e a fluência verbal, passa a impressão de absoluta espontaneidade e leveza.
Segundo o celebrado e saudoso professor Bóris Schaiderman (1917-2016), que colaborou como consultor e revisor da tradução, "poucos lograram semelhante flexibilidade do verso octossílabo em português". Elogio merecido aos tradutores desse clássico russo, que permanece vivo e atual como uma das grandes obras da literatura universal.
Fundada em 1995, a Ateliê Editorial leva ao público livros de alta qualidade editorial, em edições cuidadosas, com ótimas traduções, dando atenção a forma, conteúdo e expressão. O universo do livro agradece.
 

O dia do amor

Pensando bem, ao invés do Dia dos Namorados, deveríamos celebrar o Dia Universal do Amor. Nada contra, tudo a favor dos casais apaixonados - de todos os tipos e idades - abraçados, se beijando, trocando palavras e carinhos e planejando almoços, cineminhas, passeios, barzinhos, casas, viagens, animaizinhos, filhos ou simplesmente curtindo a intensidade infinita e eterna de momentos que vão acontecer milhões de vezes na memória, mesmo quando os pombinhos estiverem separados, tipo um vivendo no Japão e outro no Rio de Janeiro. Bom, pode ser que se reencontrem décadas depois, presencialmente, ou nas telinhas desse mundo plano. Pode ser que se reencontrem em outras vidas, em outros planetas, tempos e dimensões. Tudo é possível nesse mundo de Deus, Deuses ou sem Deus, como quiserem.
Mais importante do que pessoas e namorados é o amor. O amor em si, acima de tudo e todos. Os infinitos tipos de amor. O amor por si próprio (que uns dizem ser o único amor eterno), amor pelos familiares, parentes, vizinhos, amigos, namorados e amor pelas coisas da natureza real. Amor pelo mar, pelas estrelas, pelos animais, pelas flores, árvores e outros seres vivos. Amor também pelos bens imateriais, pelos mundos espiritual, intelectual, filosófico, científico e religioso, entre outros mundos. Cada ser humano é um mundo. Se qualquer tipo de amor habitar esse mundo, melhor.
Ninguém deve e nem precisa amar todo mundo, feito um santo, nem ser amado por todos feito batata frita, pizza, chocolate, sorvete, Nutella e outras unanimidades. Há quem pense que, na vida, conseguimos amar realmente poucas pessoas. Melhor amar alguns próximos ou algo do que não amar nada e ninguém e, no final, ir lá para o andar de cima de mãos e coração vazios. Sim, melhor amar a si próprio primeiro, que aí é mais fácil e provável que os outros te amem.
Esses dias uma mulher casou-se consigo mesma. Não foi a primeira, não será a última. É a sologamia, as autobodas ou o autocasamento, escolha aí o termo que achar melhor. A novidade já tem uns dez anos. Prometer fidelidade a si mesmo e ajuda na saúde e na doença até a morte deve ser mais fácil do que no casamento tradicional.
Mas fica uma pergunta, à moda de Fernando Pessoa, nesse planeta onde quase todo mundo é vários. Se a pessoa é muitos, como é que o autocasamento? Quem casa com quem? A lua de mel será uma orgia com todos os "eus"? E as discordâncias consigo mesmo ou com os outros "eus", quem vai mediar? Ah, e existe divórcio de si mesmo? Pois é, mesmo morando sozinha a pessoa pode fugir de casa. Isso é o velho cúmulo da rebeldia.
Dizem que esses dias uma pessoa que casou consigo mesma foi no psicoterapeuta e falou:" Doutor, não estou nada bem, acho que sou umas nove pessoas, elas estão brigando, umas querendo me abandonar, e meu casamento está em múltipla crise. Não sei o que fazer". Ele respondeu: "Fique calma, sente aí que nós 16 vamos, ao menos, tentar resolver isso", com expressão de quem já tinha visto aquele filme.
 

Lançamentos

  • Se você para, você cai (L&PM editores, 208 páginas, R$ 38,00), sexta obra do consagrado médico, escritor e professor-doutor J.J. Camargo, traz histórias de emocionante humanismo, como a de médicos que morreram tentando transplantar órgãos, a bela homenagem ao médico e escritor Moacyr Scliar e relatos de gratidão, amizade e valorização da vida.
  • Contos de Pampa e Fronteira (Via Pampa), com temas candentes gaúchos, organizados por Anna Mariano Mottin e Débora Mutter, tem contos delas, de Maria da Graça Rodrigues, Colmar Duarte, Cláudio Corrêa Noronha, Athos Ronaldo Miralha da Cunha, Fernando Pereira da Silva Filho, Jair Portela, José Francisco Botelho, Lúcio Carvalho, Marga Cendón, Newton Alvin e Valéria Surreaux.
  • Areia movediça (Intrínseca, 352 páginas, R$ 44,90), romance mais recente da advogada e escritora sueca Malin Persson Giolito, traz a saga da jovem bonita, popular e estudiosa que, no tiroteio na sala de aula, vê seu namorado e sua melhor amiga morrerem e se torna a única culpada. O livro inspirou a famosa séria do Netflix.
 

A propósito...

É isso. É melhor e maior Dia Universal do Amor, de todas as espécies, do que apenas o limitado Dia dos Namorados. Ame, desame, reclame, proclame, mame e desmame. Prometa acertar e prometa falhar. Ame e dê vexame, como disse o Roberto Freire. Se presenteie, escreva para você, o comércio vai gostar e vai vender mais cartões, flores, bombons, joias, livros, DVDs etc. Mostre que o amor é o principal e é quem deve ganhar no final do jogo, de preferência de goleada, ou pelo menos, por um a zero. É isso, melhor não ficar empatando-se ou aos outros. Empate é muito chato, frio e sem graça. Amor não tem nada a ver com zero a zero.