Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

LIVROS

- Publicada em 27 de Setembro de 2018 às 22:45

Dá para salvar a democracia?

Democracias tradicionais estão em colapso? Essa é a grande questão que dois conceituados professores de Harvard, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, respondem em sua recente obra Como as democracias morrem (Editora Zahar, 272 páginas, tradução de Renato Aguiar e prefácio de Jairo Nicolau), publicada nos Estados Unidos da América em janeiro deste ano. A obra mereceu grandes elogios da crítica, é sucesso de público e figura como best-seller do The New York Times.
Democracias tradicionais estão em colapso? Essa é a grande questão que dois conceituados professores de Harvard, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, respondem em sua recente obra Como as democracias morrem (Editora Zahar, 272 páginas, tradução de Renato Aguiar e prefácio de Jairo Nicolau), publicada nos Estados Unidos da América em janeiro deste ano. A obra mereceu grandes elogios da crítica, é sucesso de público e figura como best-seller do The New York Times.
A pergunta gigante surge no momento em que se discute o modo como a candidatura e a eleição de Donald Trump se tornaram possíveis. Os autores confrontam a situação de Trump com rupturas democráticas emblemáticas da manipulação do sistema eleitoral no Sul dos Estados Unidos no século XIX aos casos contemporâneos de Hungria, Turquia e Venezuela, passando pela Europa dos anos 1930 e as formas distintas de ditaduras de Pinochet, no Chile e Fujimori, no Peru. A ascensão de Hitler e Mussolini, a onda populista de extrema-direita na Europa e as ditaduras militares dos anos 1970 na América Latina são analisadas, num painel dos rompimentos da democracia destes últimos 100 anos.
Steven e Daniel passaram os últimos vinte anos estudando o colapso dos regimes democráticos na Europa e América Latina e em seu livro oferecem uma análise alarmante do processo de subversão da democracia que ocorre hoje nos Estados Unidos, a partir da eleição de Trump. Os autores mostram que as democracias atualmente não terminam com uma ruptura violenta, nos moldes de uma revolução ou golpe militar e, sim, com o lento e constante enfraquecimento de instituições críticas - como o judiciário e a imprensa - e a erosão gradual de normas políticas de longa data.
A obra foi considerada pelo The Philadelphia Inquirer como o grande livro político de 2018 e o The New York Times a chamou de guia lúcido e essencial. Nosso O Estado de São Paulo disse que o livro é essencial para entender a política atual, e alerta os brasileiros sobre os perigos para a nossa democracia.
É verdade, as histórias presentes no livro nos são, infelizmente, bastante familiares e é preciso aprender com os erros e acertos dos outros, para não ficar repetindo experiências desastrosas. Aí dá para pensar em salvar a democracia, ou, ao menos recriá-la e adaptá-la para nossos dias.

Lançamentos

A arte de tratar - Por uma psicanálise estética (Artmed, 184 páginas), do consagrado e premiado escritor, médico comunitário, psicanalista e professor Celso Gutfreind, traz belos e profundos textos, fruto de incontáveis pesquisas e leituras, sobre arte pictórica, escultórica e narrativa, envolvendo Freud esteta e a ciência de sua psicanálise. A obra situa-se, com muita sensibilidade e inteligência, justamente entre a arte e a ciência, lembrando que a psicanálise é uma artística ciência.
Escolas Italianas no Rio Grande do Sul - Pesquisas e documentos (Educs,160 páginas), dos professores universitários e pesquisadores Gelson Leonardo Rech e Terciane Ângela Luchese, da Universidade de Caxias do Sul, na serra gaúcha, narra a história das escolas, apresenta uma reflexão metodológica sobre o tema e transcreve documentos primários. A obra contribui com os estudos em História da Educação e traz tema injustamente pouco tratado pelos estudiosos da imigração italiana.
O amor é uma festa (Buqui, 56 páginas) da escritora feminista e humanista Ms. Marinez Full, com capa e ilustrações de Chana de Moura e apresentação do jornalista e escritor Léo Gerchmann, traz textos poéticos e comoventes escritos por crianças sobre casamentos e famílias homoafetivos, amor, irmãos e convivência. A obra traz uma visão extremamente humana e rica sobre as novas e diferentes relações que estão aí. Segundo o IBGE, mais de 50% das famílias atuais não são nucleares.

Ventos de outubro

Depois deste tenebroso inverno a desabrochante primavera, as flores dos ipês e os ventos de outubro. Rinites, sinusites, otites, artrites e outras ites ficam para trás. Para trás os ventos, as chuvas, os frios, as doenças, os hospitais e os velórios de mais um inverno gaudério. Daqui a pouco a eterna Feira do Livro e os duzentos tons caramelos e chocolates nas peles dos gaúchos. Mais três contas de luz, de caseiro e de condomínio e o veraneio nas nossas paradisíacas praias, com a guia gorda do IPTU dos municípios litorâneos e o convívio com os amigos, que é o ouro da estação.
Falo sério, ocupo este importante espaço público e cumpro o dever social de jornalista para tratar das tumultuadas, altamente divididas e estressantes eleições. Quinze dias de campanha ainda. Melhor esperar para decidir o voto, que antigamente era secreto e que ainda pode ser. Antigamente se dizia que de urna, barriga de grávida e cabeça de juiz não se sabia o que esperar. De barriga de grávida a gente prevê o futuro. Das urnas e das cabeças dos magistrados é difícil.
Dizem por aí que pesquisas eleitorais e pareceres jurídicos são a favor de quem paga a conta. Será? A urna e boca da urna são as pesquisas mais confiáveis, nesse País onde até os passados remotos e recentes são imprevisíveis como as previsões para o futuro dos videntes e dos profissionais que dizem como e onde viveremos nos tempos dos Jetsons, que ainda não chegaram.
Antes os políticos e partidos davam facadas (ainda dão, até via o terrível financiamento público) nos eleitores e nos cofres. Hoje tem eleitor dando facada em candidato. Por enquanto o vencedor dos debates sem grandes números ou propostas é o sono reparador e a vencedora das eleições, por ora, é a absoluta ausência de tédio. Nem precisa pesquisa comprada para saber disso.
Democracia nunca foi lá muito simples, desde as pracinhas gregas, mas será que os brasileiros nunca vão entender que "se a gente não se Raoni, a gente se Sting"? Entre a direita, a esquerda e o centro, a maioria prefere dar uma boiada para não sair da briga do que dar um boi para não começá-la. Não está fácil para ninguém.
Se a pessoa fica quieta, é murão, habitante da muralha da China, onde iam antigos pássaros tropicais de bicos enormes. Se a criatura eleitora apoia A, B, C ou Zebra e declara, encrenca com amigos, inimigos, parentes, conhecidos e desconhecidos. Se não vota, anula ou vota em branco, é antidemocrático, não quer jogar o jogo, onde, pelo visto, vão ganhar os mesmos jogadores conhecidos da torcida. Você decide. Ou não. Será que já decidiram por você?
Fique esperto. A esperança é a última que morre. Ela é um urubu pintado de verde, como disse o Mario Quintana, que em versos falou nada entender da questão social, que apenas fazia parte dela. Poetas sabem mais, são a antena da raça. O povo, sábio, diz que em casa sem pão, todos brigam e ninguém tem razão. Quando a economia está mal, brigas e divisões aumentam. Tomara que nossa economia se descole de vez da política e que micro, pequeno e médio empresários sejam incentivados. Eles fornecem uns 90% dos empregos.

A propósito...

Pelo visto, mais uma vez, nas eleições, não conseguiremos nos unir ou formar uma maioria razoável e, mais uma vez, as urnas vão revelar divisões e problemas futuros. Pelo menos a gente poderia baixar um pouco a bola nas redes (anti)sociais, nas casas e nos bares e tentar respeitar os que pensam diferente. Ao menos a gente pode sonhar em ver, a partir de janeiro, uma oposição menos deletéria, um parlamento mais patriota, uma justiça republicana e uma imprensa mais imparcial. Quem perder, quem ganhar, deve pensar que estamos juntos nessa mesma canoa furada e que não adianta ficar dando tiros nos próprios pés ou nos pés dos outros. A canoa já tem furos o bastante. Deus, Nossa Senhora Aparecida e todos os santos nos ajudem, que uns andam dizendo que estávamos melhor quando estávamos péssimos. (Jaime Cimenti)