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- Publicada em 20 de Setembro de 2018 às 22:38

O marxismo ocidental

Vivemos num mundo em que as diferenças, especialmente político-econômicas, falam mais alto que as ideias de paz, colaboração e união surgidas em torno da globalização. A história não acabou. Ninguém é hegemônico. Ao menos, não hegemônico em todo o planeta. No Ocidente e no Oriente, fundamentalismos e autoritarismos estão pegando. Muitos autores falam em enfraquecimento, em morte das democracias.
Vivemos num mundo em que as diferenças, especialmente político-econômicas, falam mais alto que as ideias de paz, colaboração e união surgidas em torno da globalização. A história não acabou. Ninguém é hegemônico. Ao menos, não hegemônico em todo o planeta. No Ocidente e no Oriente, fundamentalismos e autoritarismos estão pegando. Muitos autores falam em enfraquecimento, em morte das democracias.
Mais do que nunca, é preciso tentar, ao menos, entender as grandes ideias político-econômicas que moldaram o século XX e pensar em novos rumos. O marxismo ocidental (É Realizações, 352 páginas, R$ 74,90), do brilhante diplomata, sociólogo e crítico literário José Guilherme Merquior, falecido precocemente aos 49 anos, é uma oportuna reedição da obra lançada em 1985, que foi elogiada por John Gray, reeditada por Octavio Paz e eleita Meu livro do ano no Financial Times.
Merquior, que fez parte da Escola de Frankfurt, também denominada teoria crítica, inicia com estudos cuidadosos sobre Hegel e Marx. Ele e outros intelectuais de esquerda não comprometidos institucionalmente com a União Soviética avaliavam, especialmente, temas culturais. A obra altamente polêmica é considerada um ponto alto do ensaísmo brasileiro e mostra-se atual para compreensão do quadro político mundial, ainda que publicada antes da queda do muro de Berlim e do ocaso do regime soviético.
O brilhante painel de Merquior descortina um horizonte pós-marxista no pensamento radical contemporâneo e trata do estudo e da crítica a pensadores como Régis Debray, Castoriadis e Claude Lefort, entre outros. A obra, originalmente publicada em inglês, polemiza com as figuras mais benquistas da Filosofia e do pensamento contemporâneos e ainda polemiza com não marxistas. Merquior se considerava politicamente social liberal e anarquista cultural. Foi um grande pensador da tradição ocidental e produziu mais de 20 livros.
Como se vê, uma obra essencial para entender o complexo quadro político-econômico que vivemos e para mostrar visões críticas sobre pensadores e obras que marcaram a vida política e cultural do século XX.

Lançamentos

Querida Konbini (Estação Liberdade, 152 páginas, tradução de Rita Kohl), da premiada escritora chinesa Sayaka Murata, é best-seller internacional. No interior de uma konbini, uma loja de conveniências japonesa, Keiko, 36 anos e nenhum envolvimento romântico, vai mostrando o que é ser "normal" e, ao mesmo tempo, retrata com humor nossa sociedade contemporânea.
O fascínio (Martins Livreiro Editora, 120 páginas), quinta edição da novela do consagrado escritor e cineasta gaúcho Tabajara Ruas, é narrativa que mergulha no mito dos caudilhos gaúchos, sonda o demológico e busca a eficaz utilização dos clichês do romance noir. O fantástico e o policial estão juntos para mostrar política corrompida e manipulação da história. O pampa vazio é o cenário perfeito.
Diário de um nerd (Ciranda Cultural, 160 páginas), de Philip Osbourne, com tradução de Fabio Teixeira e prefácio de Pedro Duarte, traz textos e ilustrações sobre um nerd que, claro, gosta de roupas transadas, superpoderes, brincar de super-homem e supernerd. Um lugar secreto, um vilão com motivações bem inusitadas e lutas com guardas superfortes, que disparam raios laser, estão no volume.
 

Ser gaúcho, ser rio-grandense

Há muito tempo perguntamos o que é ser gaúcho. A resposta não é fácil e, em certo sentido, dá para dizer que é quase impossível. A própria palavra gaúcho não tem origem etimológica definida. A origem do "gaúcho", habitante de vários países, de vários pampas, que fala várias línguas, que usa diversas vestimentas e porta objetos diversos como armas e violões, andando a cavalo ou a pé, não está, ao que se saiba, totalmente esclarecida. Depois de mais de dois séculos de aparecimento, na literatura, na história, na sociologia e na antropologia, o gaúcho se tornou um de nossos mitos sagrados, com críticas, elogios, dúvidas, certezas e porteiras abertas para o infinito. La pampa es un cielo al revés, poetizou o eterno Atahualpa Yupanqui.
O grande escritor argentino Jorge Luís Borges escreveu que ser gaúcho é destino. Há quem diga que ser gaúcho é uma dádiva, um orgulho e que nossas façanhas devem ser globalizadas. Somos os únicos gaúchos, opa, brasileiros, que cantam com brio seu hino. Entre os ventos que nos chicoteiam no inverno, em meio às chuvas e à estética do frio, e entre as flores, frutos, pássaros e calores do verão e da primavera, somos viventes que ganham, perdem, empatam, digladiam, discutem, fazem as pazes e tocam a existência adiante, nessa querência amada.
Ano passado, o embaixador jubilado e historiador Fernando Cacciatore, com seu livro A origem do gaúcho e outros ensaios (Editora Buenas Ideias, 130 páginas) lançou novas luzes iluministas sobre o tema. Com independência, liberdade de pensamento e cultura, Cacciatore enfrenta ideias estabelecidas e trata da hegemonia dos escritores do Nordeste brasileiro e do Prata sobre a questão. É boa contribuição para melhor conhecermos o passado e para poder projetar nossos passos futuros.
Estamos em plena Semana Farroupilha, momento especial de primeira para reverenciar nossos antepassados e nossas tradições, momento de lembrar com carinho o mestre Paixão Côrtes, homem bom, que deve ter sido muito bem recebido pelo patrão lá de riba. Paixão, por certo, está proseando e mateando com o Glaucus Saraiva, o Barbosa Lessa e outros luminares que nos deram tanto, pedindo apenas que tivéssemos amor por nossas origens e por nosso chão. Há formas de contar história e formas de fazer história. É bom que tenhamos visões variadas, pontos de vista diferentes e que possamos, ao mesmo tempo, reverenciar o passado, criticá-lo quando for o caso e seguir adiante melhores.
Desde os primeiros gaúchos, sem paradeiro, com hábitos por vezes selvagens, até nossos gaúchos fixados nos campos e nas cidades, portando iPhones e tablets enquanto cavalgam, o caminho foi bem longo e trabalhoso. Viemos de longe, há séculos. Tomara que a gente possa ir longe, claro que sempre voltando para os campos e as serras deste nosso amado berço, chão e túmulo.

A propósito...

Ser gaúcho não é apenas ser pampeano. Ser gaúcho é ser rio-grandense. Somos um rico mosaico de etnias e culturas. Somos descendentes de índios, negros e europeus, somos Chuí, Bagé, Porto Alegre, Torres, Iraí e mais 492 municípios. A mesclagem produziu as mulheres mais bonitas e inteligentes do planeta. Nossa rivalidade Grenal em várias áreas nos divide e, aí, brigamos. E então os de fora levam vantagem. Sonhei com a Festa Rio-Grandense. Todos juntos, pensando que campos, serras e o Rio Grande são maiores do que nós. Churrasco, salsichão, galeto, quibe, bacalhau, paella, feijoada, frango xadrez, polenta, charque, tainha, ambrosia, sagu, chimarrão, cachaça, cerveja e vinho. Todos abraçados cantando o Hino Rio-Grandense e pensando que a vida é a arte do encontro.