Quando a solidão é bem-vinda

Tão ou até mais grave que a falência das pessoas jurídicas será a falência das pessoas físicas. E acenar com juros muito baixos não esconde o fato de que a conta tem que ser paga mais adiante.

A taxa de letalidade do coronavírus no mundo tem se mantido em torno de 5%, pelo menos até ontem. Mas é aquela coisa de média, como no exemplo clássico do sujeito que está com os pés no forno e a cabeça na geladeira.

Durante a gripe H1N1, a salvação parcial da lavoura foi o Tamiflu. Desta vez, os laboratórios ainda não conseguiram elaborar algo parecido. Salvo o uso de medicamentos criados para outras moléstias que podem ser eficazes nesta. Mas há muitas controvérsias.

Porque a arrecadação de impostos parou. Por isso, o painel do Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo foi desligado.

A Santa Casa dará continuidade à assistência de doentes que não podem esperar o fim da pandemia. Com o ok da Secretaria da Saúde, estão abertas agendas para alguns casos, como oncologia, transplantes, cardiologia, pré-natal, pneumologia, traumatologia e pós-operatório. Para outros casos, as agendas são parciais.

Será muito difícil o presidente Jair Bolsonaro escapar de processos de impedimento quando a situação melhorar. Também será muito difícil para manter as bases de apoio nas duas Casas do Congresso Nacional. Mesmo que não queiram, a pressão em contrário será formidável.

O Capitão só pode contar com milagre desses de primeira grandeza e ao cubo se a curva de infecções do coronavírus cair de forma constante e acentuada. Fora disso, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) pode começar a pensar em tirar seu melhor terno do guarda-roupa.

A par do avanço do vírus, a indústria está fazendo limonada do limão, mudando radicalmente sua planta. Cervejarias artesanais estão produzindo álcool gel, e indústrias de calçados e têxteis estão fabricando máscaras, casos da Rasen, de Gramado, e da Alpargatas.

As usinas de açúcar e álcool podem fabricar um ou outro sem maiores complicações. Como se diz nesse segmento, basta virar a chave. Talvez seja essa uma tendência, empresas de "virar a chave", empresas multifuncionais dependendo da sua vocação inicial.

Não deixa de ser irônico: a humanidade descobriu maravilhas no espaço sideral com o telescópio Hubble, mas é refém de seres microscópicos.

Em julho de 1944, faltando um ano para terminar a guerra que já se sabia que seria vencida pelos aliados, a cidade americana de Bretton Woods sediou um encontro com as potências mundiais para estabelecer um gerenciamento econômico mundial das relações comerciais e financeiras para o pós-guerrra. Foi o berço do FMI. Tem gente achando necessário um novo Bretton Woods.

Prefeito de Gramado, Fedoca Bertolucci (PDT) decidiu não congelar totalmente as atividades econômicas do município, em caráter provisório, após reunião com o Gabinete da Crise. Justificativa: a todo momento somos surpreendidos com notícias da área da saúde que provocam mudanças nas decisões. A maior parte sente-se como Fedoca: são tantas as informações oficiais que não dá para saber em quem acreditar.

Prevendo a aplicação do factum principis (fato do príncipe) pelo fechamento das empresas, por ordem do poder público, o deputado estadual Eric Lins (DEM), que é procurador do Estado, encaminhou dois ofícios ao Executivo. Um sugere a suspensão por 60 dias da parte estadual do simples nacional e o outro a suspensão do vencimento dos parcelamentos das dívidas fiscais de tributos estaduais.

Entre outras tantas iniciativas solidárias, há um portal onde se exibem todas as notícias oficiais sobre o vírus, sem fake news, e que ainda permite que as pessoas se conectem com profissionais da saúde de forma on-line, tudo gratuito e sem fins lucrativos: covid.pling.net.br.

É impressionante a ingenuidade dos que acreditam nas informações falsas, mesmo absurdas. Uma criança com boa escolaridade não cairia em algumas dessas arapucas. É por isso que o Brasil tem tantos vigaristas. Os sem-noção dão mais que chuchu em cerca.

O pior é que o envio de mensagens inbox contamina mais que postagens do Face comum. Já começa aí a ingenuidade, porque pensam que só eles têm essa "brilhante" ideia. Quando começa com "repassem sem dó", fuja, porque é fake, especialmente vídeos.

O Congresso Nacional quer se meter e até bloquear medidas do Banco Central. Aí que mora o perigo. A maior parte das Suas Excelências não sabem nem trabalhar juros compostos, o que dirá entender de política monetária. Seria o caos em dobro.