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Cinema

- Publicada em 14 de Janeiro de 2022 às 03:00

Ausência e aprendizado

Hélio Nascimento
Desde que começou sua carreira como diretor, em 2002, com Confissões de uma mente perigosa, George Clooney deixou clara sua opção por um cinema focalizado em figuras reais e personagens que, por sua participação no teatro da realidade, tenham algo a dizer, sem transformar os filmes em dispensáveis dissertações. Os trabalhos seguintes, principalmente Boa noite e boa sorte, em 2005, uma reconstituição da importância do papel da imprensa em situações em que valores fundamentais são ameaçados e também sobre a importância que ela poderia adquirir no espaço ocupado pela televisão, deixaram claro que o cinema contava com mais um realizador participante daquele grupo disposto a propor ao público um cinema maduro e reflexivo. Seu novo filme, Bar doce lar, confirma, pela coerência e pela forma de narrar, a presença de um realizador disposto a permanecer fiel a um cinema que recusa artificialismos e coloca o ser humano como figura central. Baseado na autobiografia do escritor J.R. Moehringer, o filme aborda a narrativa de forma a transformá-la num filme sobre uma trajetória em que o aprendizado é composto por elementos que colocam o protagonista numa estrada que o leva ao amadurecimento. O cinema, várias vezes, já abordou tal tema. Em seu novo filme, Clooney não tem a pretensão de inovar ou causar qualquer tipo de revolução narrativa. Ao contrário, mesmo dividindo a ação em dois tempos, opta por permanecer fiel aquela linguagem clássica, na qual se expressou a grandeza de mestres do passado. E sempre é importante lembrar que mesmo aqueles momentos revolucionários da história do cinema não abdicaram do personagem, sem o qual não há ficção que mereça ser acompanhada.
Desde que começou sua carreira como diretor, em 2002, com Confissões de uma mente perigosa, George Clooney deixou clara sua opção por um cinema focalizado em figuras reais e personagens que, por sua participação no teatro da realidade, tenham algo a dizer, sem transformar os filmes em dispensáveis dissertações. Os trabalhos seguintes, principalmente Boa noite e boa sorte, em 2005, uma reconstituição da importância do papel da imprensa em situações em que valores fundamentais são ameaçados e também sobre a importância que ela poderia adquirir no espaço ocupado pela televisão, deixaram claro que o cinema contava com mais um realizador participante daquele grupo disposto a propor ao público um cinema maduro e reflexivo. Seu novo filme, Bar doce lar, confirma, pela coerência e pela forma de narrar, a presença de um realizador disposto a permanecer fiel a um cinema que recusa artificialismos e coloca o ser humano como figura central. Baseado na autobiografia do escritor J.R. Moehringer, o filme aborda a narrativa de forma a transformá-la num filme sobre uma trajetória em que o aprendizado é composto por elementos que colocam o protagonista numa estrada que o leva ao amadurecimento. O cinema, várias vezes, já abordou tal tema. Em seu novo filme, Clooney não tem a pretensão de inovar ou causar qualquer tipo de revolução narrativa. Ao contrário, mesmo dividindo a ação em dois tempos, opta por permanecer fiel aquela linguagem clássica, na qual se expressou a grandeza de mestres do passado. E sempre é importante lembrar que mesmo aqueles momentos revolucionários da história do cinema não abdicaram do personagem, sem o qual não há ficção que mereça ser acompanhada.
O tema da ausência paterna e da crise familiar é exposto desde os momentos iniciais. Do pai praticamente só resta a voz, que o protagonista ouve pelo rádio. Mas por vezes, esta figura tão importante, se desintegra diante do filho, principalmente pela agressão física a outros personagens e pela decadência exposta em palavras e atitudes. É a agressividade exposta e que tem como contraponto a figura do tio, personagem substituto e uma espécie de guia e também portador daquele afeto necessário na caminhada para o futuro. Na parte dedicada à juventude do principal personagem, o filme, cujo roteiro foi escrito por William Monahan, escapa de armadilhas e ingenuidades e focaliza outro gênero de decepção. Uma paixão vai aos poucos se desfazendo pela realidade, enquanto a luta por uma afirmação no mundo da palavra escrita vai encontrando obstáculos, por vezes difíceis de serem enfrentados. Note o espectador a maneira como o diretor filme duas cenas idênticas na forma, mas opostas no conteúdo. Numa delas o protagonista sai como vitorioso do gabinete do editor-chefe. Em outra a decepção é evidente. A ligação entre duas, filmadas da mesma forma, parece sintetizar a essência da jornada humana.
Um outro ponto a ser considerado é a maneira como são dirigidos os intérpretes. Todos estão perfeitos, distante dos excessos e de dispensáveis dramatizações. O filme, nesse sentido, é um belo exemplo. O personagem do tio tem no ator Ben Affleck um intérprete admirável, na maneira como faz viver diante do espectador o pai substituto. E Daniel Ranieri confere a seu personagem uma autenticidade que por vezes lembra aquela de Enzo Staiola, vivendo o menino Bruno, em 1945, em Ladrões de bicicleta, de Vittorio de Sica. É realmente importante constatar que o neorrealismo italiano, além de exercer grande influência no cinema iraniano, continua vivo em obras produzidas pela grande indústria cinematográfica. E também em muitas cinematografias espalhadas pelo mundo. Essa busca pelo real, esse interesse por personagens verídicos, este fascínio por situações que revelam a essência de certos fatos, todas essas opções revelam que o cinema pode ser enriquecido por inovações formais, mas não deixará de ser a reconstituição da realidade. Filmes como Bar doce lar são obstáculos colocados diante da marcha do retrocesso.
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