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Cinema

- Publicada em 26 de Novembro de 2021 às 03:00

A força das imagens

Hélio Nascimento
Em seu segundo longa-metragem, o diretor Alexandre Moratto enriquece o atual cinema brasileiro com um filme que centraliza seus esforços em fazer das imagens o instrumento ideal para que a ideia central apareça não em discursos feitos para agradar plateias preparadas para aplaudi-los e sim em situações e, principalmente, em imagens que traduzam para a expressão cinematográfica a essência do que está sendo narrado. 7 prisioneiros, que esteve em poucos cinemas e agora pode ser visto na tela pequena, merece atenção, pois é um bom exemplo de talento e profissionalismo. Apresentado ao púbico como um ensaio sobre o que tem sido chamado de escravidão moderna, o filme não deixa de ser certamente um olhar severo sobre aquilo que, acobertado de diversas maneiras e por muitos interessados, mostra problemas criados por engrenagens cruéis e transformadoras de seres humanos em peças manipuladas de forma a gerar apenas lucro. O tema não é novo e dele o cinema vem tratando de várias maneiras, desde três peças clássicas como Metropolis (1926), de Fritz Lang; A nós a liberdade (1931), de René Clair, e Tempos Modernos (1936), de Charles Chaplin. Tal trio dificilmente será superado, mas nada impede que ele continue servindo de inspiração, principalmente quando tal modelo é enriquecido por variações que o modernizem e assim o tornem atual.
Em seu segundo longa-metragem, o diretor Alexandre Moratto enriquece o atual cinema brasileiro com um filme que centraliza seus esforços em fazer das imagens o instrumento ideal para que a ideia central apareça não em discursos feitos para agradar plateias preparadas para aplaudi-los e sim em situações e, principalmente, em imagens que traduzam para a expressão cinematográfica a essência do que está sendo narrado. 7 prisioneiros, que esteve em poucos cinemas e agora pode ser visto na tela pequena, merece atenção, pois é um bom exemplo de talento e profissionalismo. Apresentado ao púbico como um ensaio sobre o que tem sido chamado de escravidão moderna, o filme não deixa de ser certamente um olhar severo sobre aquilo que, acobertado de diversas maneiras e por muitos interessados, mostra problemas criados por engrenagens cruéis e transformadoras de seres humanos em peças manipuladas de forma a gerar apenas lucro. O tema não é novo e dele o cinema vem tratando de várias maneiras, desde três peças clássicas como Metropolis (1926), de Fritz Lang; A nós a liberdade (1931), de René Clair, e Tempos Modernos (1936), de Charles Chaplin. Tal trio dificilmente será superado, mas nada impede que ele continue servindo de inspiração, principalmente quando tal modelo é enriquecido por variações que o modernizem e assim o tornem atual.
O filme de Moratto, no entanto, não se limita a expor a chaga da escravidão contemporânea. Pela maneira como a expõe já mereceria atenção e respeito, mas vai além disso, focalizando igualmente outro drama, tão grave quanto o primeiro ressaltado. Ele, provavelmente, tem igual poder deletério, pois embora não explicitando sua ação age de forma silenciosa e de forma a impor seus falsos valores, corrompendo personagens que chegando ao palco da crise aos poucos se transformam de coadjuvantes a protagonistas, movidos pela ambição e atraídos pelas benesses oferecidas pelo poder. Provavelmente por ter no papel de um dos chefes da organização criminosa um ator famoso como Rodrigo Santoro, a atenção maior esteja dirigida para a força opressora. Acontece, no entanto, que outra figura relevante na trama é a do jovem Mateus, vivido pelo também talentoso Christian Malheiros. Os dois se equiparam em relevância. A sutileza que o diretor utiliza para compor o desenvolvimento de tal encontro é um fato a ser destacado. Por coincidência ou não, os nomes dos personagens remetem a dois dos evangelistas, num deles faltando apenas uma letra. Tal fato nos permite a constatação de que o filme de Moratto está falando de personagens que habitam o mesmo mundo, até porque de certa forma, como o filme acentua, ambos tem passado semelhante e estão dele tentando se afastar.
Exemplo significativo de encenação cinematográfica é a tentativa de fuga de outros prisioneiros, quando Mateus parece impedir a si próprio de procurar um caminho que o torne livre. E na verdade é disso que se trata. Ele, aos poucos, vai se tornando seu próprio carcereiro e prefere ascender no mundo que o aprisiona, tornando-se uma espécie de auxiliar de seu opressor. A tentação vence, mas a dor da traição permanece na marca da queimadura. A utilização do cenário também merece ser ressaltada. Os edifícios que cercam a nova senzala simbolizam a indiferença da sociedade, mesmo que seja curta a distância que a separa de uma realidade raramente exposta. 7 prisioneiros é um significativo exemplo de cinema comprometido com o tempo presente e distante de fantasias alienantes. A arte das imagens em movimento tem sido vítima, nos últimos tempos, de muitas agressões. E é reconfortante constatar que entre os resistentes se encontram também entre nós representantes de uma tendência que se recusa a integrar o coro dos que celebram rituais destinados a exaltar mentiras e superficialidades, preferindo as complexidades que, quando bem abordadas, permitem o surgimento de riquezas reveladoras. Acreditando na força das imagens, Moratto nos oferece um filme distante de qualquer ingenuidade e um expressivo exemplo de como físico e alma podem ser triturados pelas deformações presentes no sistema que habitamos.
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