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Cinema

- Publicada em 18 de Novembro de 2021 às 18:23

Cenas brasileiras

Hélio Nascimento
A morte de Nelson Freire, acontecimento que teve expressiva repercussão aqui e no exterior, devido ao grande prestígio adquirido pelo pianista, sempre visto pela crítica internacional de música como um dos maiores de todo o mundo, fez com que no Brasil fosse muito citado o documentário a ele dedicado por João Moreira Salles, no ano de 2008. Na época, o cineasta chegou a dizer que estava cansado de registrar em imagens aspectos deprimentes da realidade brasileira e procurou algo positivo. Atualmente, é possível afirmar que tal tarefa se tornou ainda mais difícil, mas não impossível, algo confirmado pela ação do realizador, atuante em atividades editoriais e na manutenção de centros culturais. O diretor do documentário dedicado ao músico permanece fiel a tal busca. No seu comentário sobre o desaparecimento do artista, prestado ao jornal O Estado de São Paulo, ele afirmou, entre outras coisas, o seguinte: "Nelson encarava valores de um humanismo essencial a todo o projeto de civilização decente - a transmissão da beleza, o imperativo moral do trabalho bem feito, a recusa a toda vulgaridade e espalhafato". O curioso - e agora estamos falando da crítica cinematográfica - é que raramente o documentário Nelson Freire é citado pelos jornalistas que escrevem sobre cinema, que não esquecem de lembrar Santiago, outro grande momento do gênero, realizado pelo mesmo cineasta. Não lembrar Nelson Freire certamente dá razão a Paulo Emílio Salles Gomes, que costumava criticar a desatenção dada pelos críticos cinematográficos a outras manifestações artísticas. E certamente é importante ressaltar que o filme sobre Freire não foi esquecido pelos críticos de música e professores da área, que muito o citaram há alguns dias, o que evidencia sua importância, pois ao cinema cabe dialogar com toda a sociedade e não com espaços dela.
A morte de Nelson Freire, acontecimento que teve expressiva repercussão aqui e no exterior, devido ao grande prestígio adquirido pelo pianista, sempre visto pela crítica internacional de música como um dos maiores de todo o mundo, fez com que no Brasil fosse muito citado o documentário a ele dedicado por João Moreira Salles, no ano de 2008. Na época, o cineasta chegou a dizer que estava cansado de registrar em imagens aspectos deprimentes da realidade brasileira e procurou algo positivo. Atualmente, é possível afirmar que tal tarefa se tornou ainda mais difícil, mas não impossível, algo confirmado pela ação do realizador, atuante em atividades editoriais e na manutenção de centros culturais. O diretor do documentário dedicado ao músico permanece fiel a tal busca. No seu comentário sobre o desaparecimento do artista, prestado ao jornal O Estado de São Paulo, ele afirmou, entre outras coisas, o seguinte: "Nelson encarava valores de um humanismo essencial a todo o projeto de civilização decente - a transmissão da beleza, o imperativo moral do trabalho bem feito, a recusa a toda vulgaridade e espalhafato". O curioso - e agora estamos falando da crítica cinematográfica - é que raramente o documentário Nelson Freire é citado pelos jornalistas que escrevem sobre cinema, que não esquecem de lembrar Santiago, outro grande momento do gênero, realizado pelo mesmo cineasta. Não lembrar Nelson Freire certamente dá razão a Paulo Emílio Salles Gomes, que costumava criticar a desatenção dada pelos críticos cinematográficos a outras manifestações artísticas. E certamente é importante ressaltar que o filme sobre Freire não foi esquecido pelos críticos de música e professores da área, que muito o citaram há alguns dias, o que evidencia sua importância, pois ao cinema cabe dialogar com toda a sociedade e não com espaços dela.
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O Hino Nacional Brasileiro, cuja música foi composta em 1831 por Francisco Manoel da Silva e considerada a mais bela de todas do gênero por um crítico musical de Londres, escalado por seu jornal para tal tarefa, durante a Copa do mundo de 2002, só teve sua letra escrita em 1909 por Osório Duque Estrada, depois oficializada em 1922 para os festejos do centenário da Independência. Isso não impediu que num filme brasileiro desenrolado no século 19 aparecessem personagens cantando o hino com tal letra. Este é um dos tantos equívocos gerados pela falta de informação e ausência de interesse, algo que vem sendo registrado nos últimos anos em certas manifestações que têm a pretensão de um certo proselitismo e não passam de movimentos desprovidos de credibilidade. Mas a melodia de Manoel da Silva recebeu do cinema brasileiro a mais bela homenagem no final de Memórias do Cárcere, de Nelson Pereira dos Santos. O filme, talvez o maior de nosso cinema, era baseado em relato autobiográfico de Graciliano Ramos que foi preso pelo governo federal após a tentativa de tomada de poder pela Aliança Nacional Libertadora (não confundir com aliança de nome semelhante fundada em 1967) em 1935, num movimento que passou à história como Intentona Comunista. O filme de Santos, realizado em 1983, na fase final do regime militar iniciado em 1964, se desenrolava durante outra ditadura, mas obviamente falava sobre acontecimentos mais recentes. Sua antológica e bela cena final, com o protagonista saindo de uma prisão então simbólica, era a imagem de um país ferido, caminhando com dificuldade e procurando novos caminhos. Em tal cena e depois nos créditos, o cineasta utilizava as variações escritas por Louis Moreau Gottschalk, compositor americano que morreu no Rio de Janeiro em 1869, tendo o Hino como referência. A peça era utilizada em outros trechos do filme, mas só no epílogo o tema mais conhecido aparecia em sua plenitude. Este foi um dos mais notáveis encontros entre um hino nacional e o cinema. Outro exemplo é a utilização feita por Jules Dassin, cineasta norte-americano exilado na França, do hino nacional grego em Aquele que deve morrer, no ano de 1957. Outros cineastas utilizaram hinos nacionais, mas poucos como Nelson, que soube mesclar a dor do passado e a esperança no futuro, sem nenhum traço de demagogia e alcançando o equilíbrio entre emoção e lucidez.
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