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Cinema

- Publicada em 05 de Novembro de 2021 às 03:00

Documentário e ficção

Hélio Nascimento
O documentário American factory, que recebeu o Oscar da categoria em longa-metragem no ano de 2020, não perdeu e certamente nunca perderá a relevância. O filme continua disponível na Netflix e certamente interessará a todos os que consideram o gênero uma das mais importantes formas de expressão cinematográfica. Infelizmente, o documentário, que continua sendo praticado e exibido em todo o mundo, raramente é visto nas telas brasileiras, mesmo que aqui três notáveis exemplos tenham sido produzidos: Nelson Freire (em função da morte do pianista nesta semana, o Canal Curta! exibe o filme no sábado, às 22h, e também é possível assistir pelo Globoplay, com acesso aberto para não assinantes) e Santiago, de João Moreira Salles, e Edifício Master, de Eduardo Coutinho, que conseguiram espaço raramente conquistado por outros. American factory, realizado por Steven Bognar e Julia Reichert, descreve o processo iniciado pelo fechamento de uma fábrica da GM em cidade que passa a enfrentar um grave problema de desemprego. A situação parece resolvida com a chegada de uma empresa chinesa, que no local instala uma fábrica de vidros para veículos automotivos. Junto com o investimento, a empresa traz da China operários que passam então a conviver com seus colegas norte-americanos. O tema do choque cultural é então desenvolvido, mas não é o único, pois o documentário também explora com expressiva habilidade as situações enfrentadas por trabalhadores em ambos os países, já que a obra também tem cenas filmadas na nação de origem da nova fábrica, revelando condições de trabalho em alguns casos condenáveis. E nem humor falta, principalmente na cena em que um operário americano empunhando um cartaz pedindo a criação de um sindicato faz referência a Sally Field em Norma Rae, filme realizado por Martin Ritt em 1979. Numa época em que tanto se fala em uma nova guerra fria, agora entre Estados Unidos e China, é valioso conhecer o documentário de Bognar e Reichert, para se constatar as complexidades criadas pelo globalismo e pela própria ação de forças econômicas em movimento.
O documentário American factory, que recebeu o Oscar da categoria em longa-metragem no ano de 2020, não perdeu e certamente nunca perderá a relevância. O filme continua disponível na Netflix e certamente interessará a todos os que consideram o gênero uma das mais importantes formas de expressão cinematográfica. Infelizmente, o documentário, que continua sendo praticado e exibido em todo o mundo, raramente é visto nas telas brasileiras, mesmo que aqui três notáveis exemplos tenham sido produzidos: Nelson Freire (em função da morte do pianista nesta semana, o Canal Curta! exibe o filme no sábado, às 22h, e também é possível assistir pelo Globoplay, com acesso aberto para não assinantes) e Santiago, de João Moreira Salles, e Edifício Master, de Eduardo Coutinho, que conseguiram espaço raramente conquistado por outros. American factory, realizado por Steven Bognar e Julia Reichert, descreve o processo iniciado pelo fechamento de uma fábrica da GM em cidade que passa a enfrentar um grave problema de desemprego. A situação parece resolvida com a chegada de uma empresa chinesa, que no local instala uma fábrica de vidros para veículos automotivos. Junto com o investimento, a empresa traz da China operários que passam então a conviver com seus colegas norte-americanos. O tema do choque cultural é então desenvolvido, mas não é o único, pois o documentário também explora com expressiva habilidade as situações enfrentadas por trabalhadores em ambos os países, já que a obra também tem cenas filmadas na nação de origem da nova fábrica, revelando condições de trabalho em alguns casos condenáveis. E nem humor falta, principalmente na cena em que um operário americano empunhando um cartaz pedindo a criação de um sindicato faz referência a Sally Field em Norma Rae, filme realizado por Martin Ritt em 1979. Numa época em que tanto se fala em uma nova guerra fria, agora entre Estados Unidos e China, é valioso conhecer o documentário de Bognar e Reichert, para se constatar as complexidades criadas pelo globalismo e pela própria ação de forças econômicas em movimento.
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Todo filme de ficção não deixa de ser também, em parte, um documentário. E mesmo quando o cinema ficcional naufraga no mar da mediocridade disfarçada de fantasia, ele não deixa de expressar certas características de uma época em que não apenas o cinema serve de instrumento destinado a afastar o espectador da realidade. É, portanto, um documentário involuntário. O documentário nasceu com o cinema e o trabalho de seres humanos anônimos esteve presente na primeira sessão dos Irmãos Lumière, pois entre os filmes exibidos estava A saída dos operários da fábrica. Em vários momentos de American factory, aquela cena reaparece, forçada pelas circunstâncias ou talvez utilizada de forma deliberada. Sempre é necessário lembrar que o documentário britânico dos anos 1930, um movimento comandado por John Grierson, e no qual Alberto Cavalcanti teve papel relevante, seja como realizador, seja como orientador, em obras como Coal face e Night mail, é o ponto mais importante do gênero e dedicou ao trabalho atenção especial. Da focalização do trabalho e do cotidiano de seres humanos, o documentário com o passar do tempo começou a eleger personagens, seja pela aproximação a suas atividades, seja por entrevistas, algo que foi chamado de cinema verdade, cuja invenção foi atribuída por Jean-Luc Godard a Charles Chaplin, no epílogo de O grande ditador.
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Claramente uma fantasia, a série Round 6 não deixa de ser, também, um documentário, na medida em que coloca o dinheiro como grande senhor, contemplado com devoção e que, caindo das alturas, resolverá os problemas dos envolvidos num jogo mortal. O cinema da Coreia do Sul tem dado mostras recentes de vitalidade, com alguns de seus realizadores mostrando que a nossa arte tem ainda muitos espaços a serem descobertos. Esta série, na essência um longa-metragem de várias horas, foi realizado por Hwang Dong-Hyuk, que revela como a ficção pode se transformar num documentário. Por outro lado, é importante as citações e homenagens feitas a Fritz Lang, René Clair, Charles Chaplin e Stanley Kubrick, deste último com referências a De olhos bem fechados e a 2001: uma odisseia no espaço, cuja trilha sonora é lembrada com a utilização de O Danúbio Azul, de Johan Strauss. É o sistema de educação coreano atuando também no ensino do cinema.
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