Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cinema

- Publicada em 20 de Agosto de 2021 às 03:00

Influências e aproximações

Hélio Nascimento
Se o cinema descende de todas as artes que o precederam, é, portanto, natural à sua sobrevivência que tenha procurado em sua trajetória aproximação com elas. Isso não significa constatar que filmar uma peça de Shakespeare ou um romance de Machado de Assis seja suficiente para conferir a um filme importância ou significado. É necessário, antes de mais nada, procurar as forças originais expostas pela criação do método que permitiu ao cinema a primeira arte de ter o poder de manipular imagens em movimento, tendo por muitos anos tal monopólio, como observou Federico Fellini. Tais forças são vigorosamente expostas na obra de gênios pioneiros como David Griffith e Serguei Eisenstein. No primeiro, a grandiosidade das cenas de batalhas, o paralelismo dramático possibilitado pela montagem permitiram que se fosse pela primeira vez visto algo que se afastava de forma robusta das limitações impostas pelo passado, entrando em conflito com as normas em vigor e criando assim uma nova forma de expressão. Algo que não passou despercebido ao segundo. Se Griffith iniciou o processo, Eisenstein foi quem logo em seguida enriqueceu o cinema com arrojadas experiências narrativas. Mesmo que a antológica e mais famosa cena do cinema, a das escadarias de Odessa no Encouraçado Potemkin, não utilize a técnica chamada de montagem de atração, na qual duas imagens diferentes encaminham o espectador para uma terceira ideia, mesmo naquele momento, as imagens das estátuas dos leões simbolizando o início da revolta é a expressão clara de algo só possível no cinema. Mais tarde, em Alexander Newski, ele praticamente filmou uma cantata de Serguei Prokofiev, as imagens fazendo uma espécie de leitura da partitura, escrita originalmente para o filme. E depois nas duas partes de Ivan, o Terrível, além de se aproximar da ópera, fez um verdadeiro documentário sobre o teatro. E também é importante ressaltar que enquanto vigorou o pacto de não agressão entre a União Soviética e a Alemanha, Eisenstein dirigiu uma versão de A Valquíria, a segunda parte da tetralogia wagneriana, encenada no Teatro Bolshoi.
Se o cinema descende de todas as artes que o precederam, é, portanto, natural à sua sobrevivência que tenha procurado em sua trajetória aproximação com elas. Isso não significa constatar que filmar uma peça de Shakespeare ou um romance de Machado de Assis seja suficiente para conferir a um filme importância ou significado. É necessário, antes de mais nada, procurar as forças originais expostas pela criação do método que permitiu ao cinema a primeira arte de ter o poder de manipular imagens em movimento, tendo por muitos anos tal monopólio, como observou Federico Fellini. Tais forças são vigorosamente expostas na obra de gênios pioneiros como David Griffith e Serguei Eisenstein. No primeiro, a grandiosidade das cenas de batalhas, o paralelismo dramático possibilitado pela montagem permitiram que se fosse pela primeira vez visto algo que se afastava de forma robusta das limitações impostas pelo passado, entrando em conflito com as normas em vigor e criando assim uma nova forma de expressão. Algo que não passou despercebido ao segundo. Se Griffith iniciou o processo, Eisenstein foi quem logo em seguida enriqueceu o cinema com arrojadas experiências narrativas. Mesmo que a antológica e mais famosa cena do cinema, a das escadarias de Odessa no Encouraçado Potemkin, não utilize a técnica chamada de montagem de atração, na qual duas imagens diferentes encaminham o espectador para uma terceira ideia, mesmo naquele momento, as imagens das estátuas dos leões simbolizando o início da revolta é a expressão clara de algo só possível no cinema. Mais tarde, em Alexander Newski, ele praticamente filmou uma cantata de Serguei Prokofiev, as imagens fazendo uma espécie de leitura da partitura, escrita originalmente para o filme. E depois nas duas partes de Ivan, o Terrível, além de se aproximar da ópera, fez um verdadeiro documentário sobre o teatro. E também é importante ressaltar que enquanto vigorou o pacto de não agressão entre a União Soviética e a Alemanha, Eisenstein dirigiu uma versão de A Valquíria, a segunda parte da tetralogia wagneriana, encenada no Teatro Bolshoi.
Outra aproximação importante do cinema com outra arte aconteceu em 1956, ano em que Henri-George Clouzot realizou Le Mystère Picasso. Nunca exibido comercialmente no Brasil, o filme foi mostrado em sessão aberta ao público no Salão de Atos da Ufrgs. Utilizando uma técnica que permitia a filmagem que permitia ao público acompanhar a técnica do pintor, inclusive com uma sequência primorosa na qual figuras se transformaram em outras. Também Alain Resnais homenageou Picasso no documentário Guernica, em 1950. Antes, em 1948, o cineasta havia iniciado sua carreira com um curta dedicado a Van Gogh. O pintor holandês mereceu a atenção de vários diretores, mas o filme mais notável sobre ele ainda é o que Vincente Minelli realizou em 1956, exibido Brasil com o título de Sede de Viver, com o ator Kirk Douglas no papel principal. Outro grande diretor, Jacques Becker, realizou em 1957, Os amantes de Montparnasse, sobre Modigliani, com Gérard Philippe como protagonista. Não são os únicos filmes a prestarem homenagem à arte que está entre as princesas influenciadoras do cinema, talvez a que mais influenciou.
Provavelmente, o mais surpreendente encontro do cinema com outas artes aconteceu em 1959, quando Alain Resnais realizou Hiroshima, meu amor. Conta a lenda que a autora do roteiro, a escritora Marguerite Duras, tentou contar um drama em termos do que ela achava que era cinema. Resnais pediu então que ela esquecesse o cinema e escrevesse uma obra literária com muita ênfase nas palavras e sem medo de exageros. O resultado é que aquela obra-prima terminou sendo, entre outros méritos, uma homenagem à poesia e à arte da recitação. Além disso, também à música, pois além da bela partitura de Giovanni Fusco e George Delerue, a estrutura é de uma ópera: a grande abertura sobre a destruição da cidade, árias diversas e momentos de verdadeiros duetos. E tudo mesclado de uma forma inédita em termos cinematográficos. O cinema termina sendo a expressão definitiva de que influências e aproximações expressam de forma clara a unidade de todas as artes.
 
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO