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Cinema

- Publicada em 30 de Julho de 2021 às 03:00

Preconceitos e omissões

Hélio Nascimento
Além dos gêneros classificados por personagens, cenários e épocas, um outro caminho percorrido pelo cinema foi o das chamadas superproduções, quase sempre marcadas pelas reconstituições históricas, interpretadas por atores e atrizes famosos e beneficiadas por grandes orçamentos. Desde a época do cinema silencioso, com o monumental Cabiria, realizado em 1914 por Giovanni Pastrone, e portanto tendo origem na Itália e não nos Estados Unidos como desinformados costumam proclamar, este gênero marcado quase sempre pela longa duração sempre teve expressiva acolhida do público, mas encontrou fortes resistências em círculos nos quais as artes tradicionais e com séculos de dominação serviam de modelo. Deixando de lado os documentários dos Irmãos Lumière e as fantasias de George Méliès, o público formado pelas propostas tradicionais encarava com respeito versões de romances e peças que conferiam ao cinema aspectos de nobreza e atitudes de servilismo diante de monumentos insubstituíveis. Se obras como Nascimento de uma nação e Intolerância, realizadas por David Griffith em 1915 e 1916, tiveram repercussão certamente foi devido aos aspectos discutíveis da primeira e ao fato de ambas terem chamado a atenção dos pioneiros estudiosos do cinema, que nelas perceberam os fundamentos de uma nova arte. Mas de um modo geral, os filmes de longa duração ou que tinham a pretensão de serem painéis históricos sempre foram vistos com restrições pelos críticos. Cecil B. De Mille, por exemplo, um nome importante no processo de consolidação do cinema como uma poderosa indústria, sempre enfrentou resistências e só depois da Segunda Guerra Mundial, quando críticos europeus perceberam seus méritos - alguns deles até colocando Sansão e Dalila entre os maiores filmes americanos de todos os tempos - teve sua imagem alterada.
Além dos gêneros classificados por personagens, cenários e épocas, um outro caminho percorrido pelo cinema foi o das chamadas superproduções, quase sempre marcadas pelas reconstituições históricas, interpretadas por atores e atrizes famosos e beneficiadas por grandes orçamentos. Desde a época do cinema silencioso, com o monumental Cabiria, realizado em 1914 por Giovanni Pastrone, e portanto tendo origem na Itália e não nos Estados Unidos como desinformados costumam proclamar, este gênero marcado quase sempre pela longa duração sempre teve expressiva acolhida do público, mas encontrou fortes resistências em círculos nos quais as artes tradicionais e com séculos de dominação serviam de modelo. Deixando de lado os documentários dos Irmãos Lumière e as fantasias de George Méliès, o público formado pelas propostas tradicionais encarava com respeito versões de romances e peças que conferiam ao cinema aspectos de nobreza e atitudes de servilismo diante de monumentos insubstituíveis. Se obras como Nascimento de uma nação e Intolerância, realizadas por David Griffith em 1915 e 1916, tiveram repercussão certamente foi devido aos aspectos discutíveis da primeira e ao fato de ambas terem chamado a atenção dos pioneiros estudiosos do cinema, que nelas perceberam os fundamentos de uma nova arte. Mas de um modo geral, os filmes de longa duração ou que tinham a pretensão de serem painéis históricos sempre foram vistos com restrições pelos críticos. Cecil B. De Mille, por exemplo, um nome importante no processo de consolidação do cinema como uma poderosa indústria, sempre enfrentou resistências e só depois da Segunda Guerra Mundial, quando críticos europeus perceberam seus méritos - alguns deles até colocando Sansão e Dalila entre os maiores filmes americanos de todos os tempos - teve sua imagem alterada.
Assim, com algumas exceções, as produções que visavam a grandiosidade sempre evitaram resistências e preconceitos, principalmente entre os que pensavam que grandes bilheterias não combinavam com filmes realizados por diretores realmente preocupados em deixar testemunho sobre o passado e mesmo o presente. Numa época como a atual, em que boa parte do cinema parece interessada em transformar adultos num público fascinado por efeitos especiais e superficialidades, talvez seja valioso salientar que muitos cineastas respeitáveis tiveram participação importante na exploração das possibilidades abertas pelo gênero, sobretudo na área das analogias, aparentemente ocultas por elementos exteriores da produção. Cleópatra, filme realizado por Joseph L. Mankiewicz em 1963, era para ser dividido em duas partes, na verdade duas homenagens a Shakespeare, a primeira a Júlio César e a segunda a Antônio e Cleópatra. Mas os conflitos com os produtores foram tantos que o filme chegou ao público mutilado. Mankiewicz nem queria falar dele, mas a verdade é que muito do que permaneceu ostenta o talento superior do cineasta. Há muitas cenas notáveis, entre elas aquele movimento de câmera que se afasta de Marco Antônio durante o célebre discurso, uma forma de fazer com que o espectador não escute as palavras que escondem a luta pelo poder. De forma significativa o movimento se conclui na figura de um mudo. Era o cinema mostrando que tem o poder de definir uma cena com recursos próprios.
Mas certamente o filme que sepultou preconceitos e omissões de parte da crítica, foi El Cid, dirigido por Anthony Mann em 1960. Uma grandiosidade que dispensava artificialismos e na qual a familiaridade do realizador com o western teve papel preponderante. Spartacus, realizado em 1960 por Stanley Kubrick, foi outro filme a cair nas graças daquela crítica sempre avessa ao gênero. Talvez aqui por motivos não relacionados diretamente ao cinema. Mas este filme corajoso foi um exemplo de dignidade. E para finalizar, numa evidência que o preconceito não é mais dominante, vale lembrar que Slavov Zizek, filósofo e cinéfilo, solicitado pela revista inglesa Sight&Sound, em setembro de 2012, para indicar os melhores filmes de todos os tempos colocou entre eles A noviça rebelde (The Sound of music), de Robert Wise. Passou o tempo de omissões diante de observações pertinentes e da crítica diante da rigidez e da ausência de afeto.
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