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Cinema

- Publicada em 20 de Maio de 2021 às 21:03

Homenagens

Hélio Nascimento
São muitas as referências e homenagens feitas por diretores a outros cineastas. Woody Allen, por exemplo, que nunca escondeu sua admiração por Ingmar Bergman, numa de suas comédias, A última Noite de Boris Grushenko, compôs, na cena final, uma paródia do epílogo de O sétimo selo, além de várias referências a outros filmes do cineasta sueco, principalmente nos dramas que realizou. Bergman, por sinal, recebeu uma dupla homenagem de Stanley Kubrick após realizar o filme citado. Primeira através de uma carta a ele enviada pelo cineasta de 2001 e depois por uma referência na cena em que um dos astronautas joga xadrez com o computador naquele clássico, situação semelhante à vivida pelo cavaleiro medieval interpretado por Max von Sydow.
São muitas as referências e homenagens feitas por diretores a outros cineastas. Woody Allen, por exemplo, que nunca escondeu sua admiração por Ingmar Bergman, numa de suas comédias, A última Noite de Boris Grushenko, compôs, na cena final, uma paródia do epílogo de O sétimo selo, além de várias referências a outros filmes do cineasta sueco, principalmente nos dramas que realizou. Bergman, por sinal, recebeu uma dupla homenagem de Stanley Kubrick após realizar o filme citado. Primeira através de uma carta a ele enviada pelo cineasta de 2001 e depois por uma referência na cena em que um dos astronautas joga xadrez com o computador naquele clássico, situação semelhante à vivida pelo cavaleiro medieval interpretado por Max von Sydow.
Brian de Palma, em Os intocáveis, sua obra-prima, recorreu a Serguei Eisenstein e citou vários elementos da célebre cena das escadarias de Odessa, em O encouraçado Potemkin. O mesmo cineasta, um admirador de Alfred Hitchcock, nunca escondeu em vários de seus outros trabalhos a importância que teve o mestre do suspense em sua formação cinematográfica. Hitchcock, por sinal, foi cultuado também por críticos e cineastas franceses. François Truffaut realizou uma grande entrevista com o cineasta inglês na qual foram analisados todos os filmes por ele realizados. Hitchcock também foi o tema de um livro escrito por Claude Chabrol e Eric Rohmer. Porém, a maior de todas as referências ao realizador de Os pássaros, talvez não seja propriamente uma homenagem e sim a constatação de sua importância. Trata-se de O ano passado em Marienbad, que Alain Resnais realizou tendo por base um roteiro de Alain Robbe-Grillet, que redesenha a situação básica de Vertigo, a tentativa de recuperação de um passado, vivo na memória do protagonista.
E há outros exemplos de admiração de um cineasta por outro. Orson Welles costuma contar que, antes de realizar Cidadão Kane, viu dezenas de vezes No tempo das diligências, e admitia que tinha como narrador três mestres: John Ford, John Ford e John Ford. Voltando a Hitchcock, é curioso lembrar a frustrada tentativa de Gus van Sant em refilmar Psicose plano por plano, com exceção de utilização de poucas imagens que nada acrescentavam ao relato original. Involuntariamente, o segundo Psicose terminou ministrando uma grande e definitiva lição: as imagens criadas por um mestre não podem ser integralmente reproduzidas. Além de não contar com as surpresas do original, o filme de Van Sant era também inútil pois nada continha de pessoal. E até a utilização da cor revelava que a atmosfera do original era completamente desfeita. Sem dúvida, aquela homenagem foi a mais equivocada de todas. Mas será lembrada por ser a única que, antes de mais nada, tentou ser uma cópia do original.
E agora, por meio da Netflix, pode ser conhecida mais uma homenagem frustrada a Hitchcock, o novo filme de Joe Wright, A mulher na janela, evidente referência a um dos grandes títulos da filmografia do mestre. Tudo é falso e exagerado, sendo que a narrativa é apenas uma coleção de referências a vários filmes, além do lembrado no título. Mas não há nenhuma variação. E para acrescentar uma nota dissonante, a protagonista termina se revelando uma heroína dotada de força e destreza inimagináveis, quando então o filme mergulha nos lugares-comuns e nas soluções medíocres que roteiristas e diretores sem imaginação têm encontrado nos últimos anos. A única surpresa é a presença de Wright, que tinha deixado uma bela impressão com seu filme anterior, O destino de uma nação, um belo relato sobre o papel de Winston Churchill na defesa da civilização diante da barbárie. Certamente, não basta a presença de Gary Oldman, protagonista do filme anterior, num papel pequeno, para que seja mantido o nível da filmografia anterior do cineasta. Esse primeiro passo de Joe Wright no cinema norte-americano poderia ter sido evitado. Para que haja uma convincente aproximação a mestres são necessárias capacidade criadora e aquela sensibilidade capaz de ver nos clássicos não apenas modelos a ser reverenciados, mas fontes inspiradoras para descobertas e ações renovadoras.
 
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