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Cinema

- Publicada em 30 de Abril de 2021 às 03:00

A maior ameaça

Hélio Nascimento
Alguns dos piores efeitos causados pela desintegração do sistema imposto no leste europeu a partir de 1917 foram o reaparecimento de ódios contidos, agressividades antes severamente controladas ou encobertas pela propaganda oficial, divisões territoriais artificialmente criadas, conflitos de origem religiosa e até o ódio gerado por sentimentos de superioridade incentivados por governos interessados em divisões. É só ver os filmes que têm sido feitos nos últimos anos em países antes chamados de socialistas para que sejam contemplados aspectos reveladores de aspectos anteriormente sonegados ao público. O paraíso, na verdade, nada tinha de harmonioso e celestial. Razão tinham aqueles, entre os quais muitos pensadores de esquerda, que ao lerem as informações sobre realizações econômicas e materiais das nações integrantes da URSS e do Pacto de Varsóvia, imaginavam Marx lendo tais informes e perguntando como viviam os seres humanos em tais países. Na Iugoslávia, o Marechal Tito, principal nome, na região, da resistência antinazista durante a Segunda Guerra Mundial e que depois se transformaria num dos líderes do terceiro mundo, se afastou das diretrizes propostas pelos soviéticos, e procurou um caminho próprio, chegando mesmo a romper com a matriz. Tito conseguiu manter o equilíbrio entre as nações que formavam a Iugoslávia, mas com sua morte houve a desintegração e o reaparecimento de antagonismos que levariam a uma guerra em território europeu, algo que se transformou numa tragédia de grandes proporções, que surgia como um retorno a acontecimentos anteriores e que pareciam superados. Os admiradores de Tito podem dizer que seu desaparecimento provou que ele tinha inteligência e coragem para enfrentar os problemas que com sua morte reapareceram. Os outros têm o direito de afirmar que ele não os resolveu, apenas controlou adversidades que depois ressurgiriam.
Alguns dos piores efeitos causados pela desintegração do sistema imposto no leste europeu a partir de 1917 foram o reaparecimento de ódios contidos, agressividades antes severamente controladas ou encobertas pela propaganda oficial, divisões territoriais artificialmente criadas, conflitos de origem religiosa e até o ódio gerado por sentimentos de superioridade incentivados por governos interessados em divisões. É só ver os filmes que têm sido feitos nos últimos anos em países antes chamados de socialistas para que sejam contemplados aspectos reveladores de aspectos anteriormente sonegados ao público. O paraíso, na verdade, nada tinha de harmonioso e celestial. Razão tinham aqueles, entre os quais muitos pensadores de esquerda, que ao lerem as informações sobre realizações econômicas e materiais das nações integrantes da URSS e do Pacto de Varsóvia, imaginavam Marx lendo tais informes e perguntando como viviam os seres humanos em tais países. Na Iugoslávia, o Marechal Tito, principal nome, na região, da resistência antinazista durante a Segunda Guerra Mundial e que depois se transformaria num dos líderes do terceiro mundo, se afastou das diretrizes propostas pelos soviéticos, e procurou um caminho próprio, chegando mesmo a romper com a matriz. Tito conseguiu manter o equilíbrio entre as nações que formavam a Iugoslávia, mas com sua morte houve a desintegração e o reaparecimento de antagonismos que levariam a uma guerra em território europeu, algo que se transformou numa tragédia de grandes proporções, que surgia como um retorno a acontecimentos anteriores e que pareciam superados. Os admiradores de Tito podem dizer que seu desaparecimento provou que ele tinha inteligência e coragem para enfrentar os problemas que com sua morte reapareceram. Os outros têm o direito de afirmar que ele não os resolveu, apenas controlou adversidades que depois ressurgiriam.
Quo Vadis, Aida?, filme dirigido por Jasmila Zbanic, é um filme proveniente da Bósnia-Herzegovina, onde ocorreu o massacre de Srebrenica, no qual os sérvios, diante da incompetência dos capacetes azuis da ONU, assassinaram milhares de muçulmanos indefesos, algo que, em proporções menores, lembrou o que os nazistas praticaram em território soviético na guerra iniciada em 1939. Zbanic não pretende com seu filme realizar um documentário sobre o que aconteceu em território iugoslavo na década de 90 do século passado. Ela utiliza fatos reais para meditar sobre o aparecimento da fera que habita o ser humano, muitas vezes mostrada ao público de forma a amenizar ou deturpar sua verdade. Ao mostrar o carrasco sempre acompanhado de um cinegrafista que registra apenas movimentos falsos e atitudes comandadas pela artificialidade, revela como o público da Sérvia via as ações de seus soldados como apenas uma intervenção destinada a impor a paz na região. No foi a primeira vez que o cinema foi utilizado para formar uma opinião favorável aos detentores do poder. Outro momento significativo do filme é aquela volta ao passado, quando a protagonista revive uma festa na qual danças folclóricas da região fornecem a música e a coreografia. Tudo é alegria, até que, como numa premonição os movimentos se tornam mais lentos e o sorriso desaparece dos rostos.
Terminado o conflito na antiga Iugoslávia, uma unidade territorial criada após o término da Primeira Guerra Mundial e integrada ao Império Austro-Húngaro, alguns dos responsáveis foram levados ao Tribunal Internacional de Haia onde foram julgados e condenados. Outros desapareceram e foram acobertados. Mas o principal interesse da realizadora, além de denunciar os crimes cometidos no passado, está no empenho de salvar a família humana dos ataques da irracionalidade e da agressividade autorizadas a agir. Os esforços da protagonista, uma tradutora da ONU, são um verdadeiro símbolo da luta pela imposição de valores humanistas diante da barbárie. E a incapacidade dos oficiais das forças de paz em controlar a fúria representa, sem dúvida, o fracasso da civilização ao tentar impedir a reconstrução do mais primitivo dos cenários. O aceno a um futuro melhor não anula o impacto deste olhar sobre o irracionalismo em ação.
 
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