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Cinema

- Publicada em 09 de Abril de 2021 às 03:00

Ousadia de Spielberg

Hélio Nascimento
A pandemia que ora assola o mundo impediu que muitos filmes pudessem ser aferidos nas salas de projeção, interrompeu as filmagens de muitos outros, prejudicou a carreira daqueles que já estavam em cartaz, como o magnífico O oficial e o espião, de Roman Polanski, cancelou projetos, adiou lançamentos e fechou cinemas. Todos os filmes necessitam da tela ampla e, por mais que seja possível, pelo menos parcialmente, analisar as propostas de um cineasta na tela doméstica jamais o efeito visado poderá ser devidamente avaliado. Quanto ao futuro há os otimistas que acreditam que, passada a tempestade, tudo voltará ao normal. Os pessimistas, esquecidos de que o fim do cinema como o conhecemos já foi várias vezes previsto, não acreditam num retorno pleno. Seja como for, a recuperação não será fácil, sobretudo em cenários nos quais a nossa arte teve sua importância quase sempre ignorada. Sem esquecer o fato de que muitas vezes foi perseguida. Entre as obras que estão aguardando a volta da normalidade está uma refilmagem de West side story, filme realizado em 1961 por Robert Wise (1914-2005) e Jerome Robbins (1918-1998). Esta volta àquela variação em torno de Romeu e Julieta tem a assinatura de Steven Spielberg. O cineasta sempre foi atraído pela atmosfera do passado cinematográfico, seja através de citações, seja pela brilhante utilização do preto-e-branco em A lista de Schindler. Sem esquecer a volta aos seriados dos anos 1930 e 1940 na série Indiana Jones. Mas é a primeira vez que se dedica a uma refilmagem. E também a primeira na qual aborda o gênero musical.
A pandemia que ora assola o mundo impediu que muitos filmes pudessem ser aferidos nas salas de projeção, interrompeu as filmagens de muitos outros, prejudicou a carreira daqueles que já estavam em cartaz, como o magnífico O oficial e o espião, de Roman Polanski, cancelou projetos, adiou lançamentos e fechou cinemas. Todos os filmes necessitam da tela ampla e, por mais que seja possível, pelo menos parcialmente, analisar as propostas de um cineasta na tela doméstica jamais o efeito visado poderá ser devidamente avaliado. Quanto ao futuro há os otimistas que acreditam que, passada a tempestade, tudo voltará ao normal. Os pessimistas, esquecidos de que o fim do cinema como o conhecemos já foi várias vezes previsto, não acreditam num retorno pleno. Seja como for, a recuperação não será fácil, sobretudo em cenários nos quais a nossa arte teve sua importância quase sempre ignorada. Sem esquecer o fato de que muitas vezes foi perseguida. Entre as obras que estão aguardando a volta da normalidade está uma refilmagem de West side story, filme realizado em 1961 por Robert Wise (1914-2005) e Jerome Robbins (1918-1998). Esta volta àquela variação em torno de Romeu e Julieta tem a assinatura de Steven Spielberg. O cineasta sempre foi atraído pela atmosfera do passado cinematográfico, seja através de citações, seja pela brilhante utilização do preto-e-branco em A lista de Schindler. Sem esquecer a volta aos seriados dos anos 1930 e 1940 na série Indiana Jones. Mas é a primeira vez que se dedica a uma refilmagem. E também a primeira na qual aborda o gênero musical.
Trata-se, sem dúvida, de uma ousadia. O filme original é baseado num musical escrito por Arthur Laurents (1917-2011) e encenado na Broadway em 1957, quatro anos antes de chegar ao cinema. O musical se transformou em grande sucesso e, assim como o filme, foi várias vezes premiado. As letras das canções foram escritas por Stephen Sondhein, atualmente com 91 anos, também compositor e autor de Send in the clows, canção integrante do musical A little night music, baseado numa das obras-primas de Ingmar Bergman, Sorrisos de uma noite de amor. Esta canção foi utilizada por Todd Philipps, como o epílogo musical de seu admirável Coringa. O espetáculo teatral foi dirigido pelo também coreógrafo Robbins que depois, quando o filme foi realizado, assumiu a direção, ao lado de Wise. Outros destaques do espetáculo eram as canções e a música orquestral compostas por Leonard Bernstein, que foi maestro titular da Filarmônica de Nova York e um dos responsáveis pela divulgação em todo o mundo, através do rádio e da televisão, da obra de Gustav Mahler. Bernstein já tinha tido anteriormente outros contatos com o cinema, quando Stanley Donen e Gene Kelly realizaram uma versão cinematográfica de On the town, exibida no Brasil com o título de Um dia em Nova York. Ele também foi o autor da bela partitura musical do filme Sindicato de ladrões, realizado por Elia Kazan em 1951.
West side story, com o título brasileiro de Amor, sublime amor, foi exibido aqui pelo desaparecido Moinhos de Vento, que depois passou a se chamar Coral. O filme, que muitos consideram o maior de todo o gênero, tinha outro colaborador importante, Saul Bass (1920-1996), que desenhou os créditos, sendo que os principais eram apresentados após o final. Ao transpor a tragédia shakespeariana para Nova York, o espetáculo e o filme eram relatos desmistificadores do sonho americano, ao mesmo tempo que exploravam divisões e agressividades. A realização a quatro mãos causou alguns conflitos entre Wise e Robbins, mas trouxe ao filme uma unidade evidente. É só consultar alguns filmes anteriores de Wise para perceber que a coreografia de Robbins era inspirada nas mesmas fontes. A agressividade e a violência são temas evidentes em todo o filme, tendo como contraponto uma ligação que se transforma num elemento estranho num mundo conturbado. Provavelmente, Spielberg, ao realizar sua versão, realizada durante o governo Trump, procurou uma atualização do tema e talvez tenha feito referências diretas ao preconceito racial, presente no filme anterior, sem esquecer o tema da imigração. E um risco corre o coreógrafo Justin Peck, que trabalhou tendo como ameaça a comparação com a poderosa e impactante coreografia de Robbins.
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