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Cinema

- Publicada em 19 de Fevereiro de 2021 às 03:00

Imagens e palavras

Hélio Nascimento
O diretor Paul Greengrass começou a chamar a atenção em 2002, quando assinou a realização de Domingo sangrento, que através de uma linguagem que procurava seguir a linha do documentário abordava o massacre de civis perpetrado por tropas britânicas na Irlanda em 30 de janeiro de 1972. Uma maneira de dirigir marcada pelo constante movimento de câmera, como se um cinegrafista estivesse colocado no centro dos acontecimentos reconstituídos, era o recurso que mais se destacava naquele trabalho. A seguir, o cineasta realizou três filmes dedicados ao personagem Jason Bourne e também um, Voo United 93, no qual reconstituiu um dos episódios ocorridos em 11 de setembro de 2001. Entre tais filmes, realizou Capitão Phillips, em 2013, outra reconstituição de um fato verídico e seu primeiro encontro com o ator Tom Hanks, que agora volta a brilhar neste Relatos do mundo (News of the world), produzido pela Universal e que depois de ser lançado em poucos cinemas norte-americanos, sendo assim mais uma vítima da pandemia, teve os direitos de exibição passados para a Netflix, a fim de que fosse conhecido por público mais amplo, mesmo que em condições não apropriadas. Mas se a plasticidade e a grandeza de suas imagens possam ser prejudicadas, os méritos dessa realização podem ser constatados em qualquer tela.
O diretor Paul Greengrass começou a chamar a atenção em 2002, quando assinou a realização de Domingo sangrento, que através de uma linguagem que procurava seguir a linha do documentário abordava o massacre de civis perpetrado por tropas britânicas na Irlanda em 30 de janeiro de 1972. Uma maneira de dirigir marcada pelo constante movimento de câmera, como se um cinegrafista estivesse colocado no centro dos acontecimentos reconstituídos, era o recurso que mais se destacava naquele trabalho. A seguir, o cineasta realizou três filmes dedicados ao personagem Jason Bourne e também um, Voo United 93, no qual reconstituiu um dos episódios ocorridos em 11 de setembro de 2001. Entre tais filmes, realizou Capitão Phillips, em 2013, outra reconstituição de um fato verídico e seu primeiro encontro com o ator Tom Hanks, que agora volta a brilhar neste Relatos do mundo (News of the world), produzido pela Universal e que depois de ser lançado em poucos cinemas norte-americanos, sendo assim mais uma vítima da pandemia, teve os direitos de exibição passados para a Netflix, a fim de que fosse conhecido por público mais amplo, mesmo que em condições não apropriadas. Mas se a plasticidade e a grandeza de suas imagens possam ser prejudicadas, os méritos dessa realização podem ser constatados em qualquer tela.
Trata-se de um belo filme, mais um a mostrar que certos gêneros não morrem, apenas exigem narradores competentes que saibam renová-los, até porque são muitos exemplos, no caso do gênero western, a servirem de guias para os interessados em manter vivos os clássicos, cujo desconhecimento será sempre elemento empobrecedor e criador de espaços para medíocres e oportunistas.
Relatos do mundo tem o roteiro, baseado em livro de Paulette Gilles, escrito pelo próprio realizador em parceria com Luke Davies. Trata-se de uma variação sobre o tema do maior dos westerns, Rastros de ódio, de John Ford. Num plano de curta duração, mas suficientemente expressivo para passar despercebido, Greengrass faz uma bela homenagem àquela obra-prima e a seu realizador. Na cena em que a menina interpretada por Helena Zengel reencontra a casa incendiada, o cineasta coloca a câmera no interior e a personagem é enquadrada pelas linhas retas da porta. Este recurso foi muito usado por Ford naquela obra-prima para acentuar a linha reta como símbolo de solidez e força da família humana, em contraste com as linhas tortas, a revelar o desequilibro emocional do personagem sem lar, quando a figura de John Wayne é vista através de uma câmera colocada no centro de uma caverna, não apenas o único exemplo durante a narrativa. No antológico plano final daquele filme, o protagonista se afasta da casa, e a imagem da abertura, a volta de um Ulisses infeliz e irado, é retomada no sentido inverso. No filme de Greengrass, no qual há outras referências àquele clássico, inclusive a presença de um personagem dominado pela ingenuidade e deficiências emocionais, o epílogo é outro, igualmente emocionante, mas não muito afastado daquele de Ford, já que outra vez registra a vitória do humanismo.
O filme, cujas imagens e situações expressam claramente as intenções do cineasta, é também uma bela exaltação da palavra como elemento civilizador. O personagem de Hanks não é poeta e nem artista ambulante, mas se assemelha àqueles por levar ao público as narrações contidas em jornais. "A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais", constatou Drummond em contexto diverso, mas que se adapta ao filme de Greengrass, algo reforçado no epílogo, quando as atividades do protagonista parecem se mesclar ao teatro. O filme está repleto de momentos notáveis, algo a ser ressaltado numa época de artifícios e banalidades. A tempestade de areia que depois de ser uma imagem ameaçadora se transforma numa poeira, que aos poucos se dissipa para colocar os personagens outra vez no rumo e na luz, é um desses momentos. O filme naquela cena sintetiza sua proposta, até por marcar o encontro de duas civilizações. Pode ser um sonho, mas é reveladora a cena em que a jovem alemã é libertada da corda que a aprisiona. De certa forma é a retomada do encontro entre tio e sobrinha no clássico que serviu de modelo a este filme belo e por vezes comovente.
 
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