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Cinema

- Publicada em 11 de Setembro de 2020 às 03:00

O retorno

Hélio Nascimento
Certamente, o diretor Christopher Nolan não esperava, ao realizar Tenet, que seu filme, uma superprodução, iria se transformar em símbolo da volta do cinema, depois da maior crise enfrentada pelo setor. Em algumas cidades, o filme já está sendo exibido para plateias reduzidas e mascaradas, em ambientes devidamente protegidos. As opiniões estão divididas, mas é importante ressaltar que alguns críticos não têm escondido seu entusiasmo e o filme tem até mesmo recebido a cotação máxima. Nolan é um realizador afeito a narrativas próximas ou integralmente dominadas pela fantasia. Ele é o diretor da trilogia de Batman que de certa forma superou o díptico criado por Tim Burton e na qual a segunda parte era um relato precioso e revelador sobre o tema da corrupção. Porém, sua obra-prima é Dunkirk, repleto de cenas antológicas e na qual, ao mesmo tempo em que se mantendo fiel à realidade, desenvolveu com grande habilidade as possibilidades abertas por linhas de tempo diferentes, criando uma espécie de polifonia visual tão fascinante quanto emocionante. Tenet, ao que parece, dá prosseguimento ao processo narrativo de Dunkirk, só que agora de forma mais radical, afastada de imposições realistas e marcada pela tentativa de aproximar o filme de aventuras às complexidades geradas pelo cinema empenhado novos caminhos permitidos pela montagem e a fantasia. De certa maneira, o adiamento da estreia, causado pela pandemia, aumentou a expectativa e até o lançamento mais amplo do filme, Nolan permanecerá como um realizador digno de toda a atenção. E mesmo que seu novo trabalho não corresponda ao que dele se espera, nada diminuirá o valor de sua trilogia e de seu relato sobre o célebre episódio que foi um dos primeiros da Segunda Guerra Mundial.
Certamente, o diretor Christopher Nolan não esperava, ao realizar Tenet, que seu filme, uma superprodução, iria se transformar em símbolo da volta do cinema, depois da maior crise enfrentada pelo setor. Em algumas cidades, o filme já está sendo exibido para plateias reduzidas e mascaradas, em ambientes devidamente protegidos. As opiniões estão divididas, mas é importante ressaltar que alguns críticos não têm escondido seu entusiasmo e o filme tem até mesmo recebido a cotação máxima. Nolan é um realizador afeito a narrativas próximas ou integralmente dominadas pela fantasia. Ele é o diretor da trilogia de Batman que de certa forma superou o díptico criado por Tim Burton e na qual a segunda parte era um relato precioso e revelador sobre o tema da corrupção. Porém, sua obra-prima é Dunkirk, repleto de cenas antológicas e na qual, ao mesmo tempo em que se mantendo fiel à realidade, desenvolveu com grande habilidade as possibilidades abertas por linhas de tempo diferentes, criando uma espécie de polifonia visual tão fascinante quanto emocionante. Tenet, ao que parece, dá prosseguimento ao processo narrativo de Dunkirk, só que agora de forma mais radical, afastada de imposições realistas e marcada pela tentativa de aproximar o filme de aventuras às complexidades geradas pelo cinema empenhado novos caminhos permitidos pela montagem e a fantasia. De certa maneira, o adiamento da estreia, causado pela pandemia, aumentou a expectativa e até o lançamento mais amplo do filme, Nolan permanecerá como um realizador digno de toda a atenção. E mesmo que seu novo trabalho não corresponda ao que dele se espera, nada diminuirá o valor de sua trilogia e de seu relato sobre o célebre episódio que foi um dos primeiros da Segunda Guerra Mundial.
Como muitos outros filmes estavam sendo produzidos e vários outros já estavam concluídos, será grande o número de lançamentos quando as atividades no setor cinematográfico estiverem normalizadas. O episódio atual, o mais perigoso já enfrentado, não é primeiro. Todos os anteriores foram vencidos e ultrapassados. O mau sonho do fim do cinema não se concretizou. Quando aqui em Porto Alegre salas começaram a encerrar suas atividades, devido à concorrência da televisão e, principalmente, à falta de segurança e à degradação do que hoje é chamado de centro histórico, não foram poucos o que profetizaram o fim de tal forma de arte. Uma consulta ao que foi escrito na época, encontrará até mesmo manifestações irônicas que pediam que estações de televisão, em vez de transmitirem o Oscar, dedicassem seu tempo a focalizar festas e cerimônias de premiação de séries e programas de televisão. Os autores de tais manifestações não perceberam o óbvio: a televisão terminou se transformando em poderosa auxiliar do cinema, não apenas por focalizar a tradicional festa de Hollywood, pois também passou a exibir trailers e material de divulgação de filmes. O resultado não poderia ser outro: frequência ao cinema tem aumentado nas últimas décadas, inclusive pelo interesse das novas gerações que, criadas diante do pequeno aparelho reprodutor de imagens, encontraram no cinema uma novidade mais ampla e mais sedutora. Tal processo foi concluído quando até mesmo grandes redes de televisão - e não apenas no Brasil - se uniram a produtoras cinematográficas e passaram, também elas, a financiarem filmes destinados aos grandes espaços.
Outo obstáculo superado foi o do atraso representado pela censura, que no Brasil, principalmente no ano de 1973, atingiu níveis ridículos e vergonhosos. Na época, dez filmes já liberados pelo órgão competente do Ministério da Justiça e em exibição nos cinemas foram retirados de cartaz. Entre eles, alguns que em outros países crianças assistiam na companhia dos pais. Qual mercado exibidor resistirá sem sofrer danos à proibição de filmes de Woody Allen, Stanley Kubrick, Federico Fellini, Michelangelo Antonioni, Pier Paolo Pasolini, Bernardo Bertolucci e tantos outros? Todo esse triste passado não deve ser esquecido, numa época em que o cinema está prestes a voltar. Ele já venceu muitos inimigos e circunstâncias adversas. E certamente voltará mais forte, impulsionado pelo entusiasmo de todos os que nele percebem os sinais indispensáveis para o entendimento de uma época.
 
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