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Cinema

- Publicada em 04 de Setembro de 2020 às 03:00

Uma forma de ver o mundo

Hélio Nascimento
Todos aqueles que nos últimos anos do século XIX contemplaram pela primeira vez imagens em movimento numa tela, os que durante o século XX acompanharam o desenvolvimento e o enriquecimento de uma nova forma de expressão e também aqueles que atualmente aguardam a volta de sua arte preferida ao espaço original, todos eles tiveram e ainda tem o privilégio de ver nascer uma arte. Com cem anos, duas décadas e cinco anos de existência, o cinema ainda é uma arte nova. Estamos, na verdade, contemplando seus primeiros passos, uma trajetória ainda curta, mas que se beneficiou por ter começado a partir de um ponto já enriquecido pelas artes que o antecederam. Mas isso não nos tira o direito de afirmar que estamos contemplando algo realmente novo. De certa forma, a época iniciada em dezembro de 1895 se assemelha àquela que viu nascer o teatro, no século VI a.C., em Atenas, quando Testis começou a imitar em público figuras mitológicas. O surgimento do teatro permitiu ao público ateniense ver em cena deuses e figuras mitológicas, assim como hoje vemos heróis criados pela imaginação humana e figuras históricas verdadeiras adquirirem vida nas telas. Outros privilegiados foram os que viveram na época do Renascimento, que viram nascer a ópera, gênero criado a partir do teatro da antiguidade, cuja música se perdeu. Mas o cinema não se limita a tais origens e provavelmente não é uma simples coincidência que a primeira sessão cinematográfica tenha sido realizada no mesmo ano em que foi publicado o livro Estudos sobre a Histeria, escrito a quatro mãos por Sigmund Freud e Joseph Breuer. Uma época estava começando. Surgiam novas formas de compreender o ser humano e o mundo.
Todos aqueles que nos últimos anos do século XIX contemplaram pela primeira vez imagens em movimento numa tela, os que durante o século XX acompanharam o desenvolvimento e o enriquecimento de uma nova forma de expressão e também aqueles que atualmente aguardam a volta de sua arte preferida ao espaço original, todos eles tiveram e ainda tem o privilégio de ver nascer uma arte. Com cem anos, duas décadas e cinco anos de existência, o cinema ainda é uma arte nova. Estamos, na verdade, contemplando seus primeiros passos, uma trajetória ainda curta, mas que se beneficiou por ter começado a partir de um ponto já enriquecido pelas artes que o antecederam. Mas isso não nos tira o direito de afirmar que estamos contemplando algo realmente novo. De certa forma, a época iniciada em dezembro de 1895 se assemelha àquela que viu nascer o teatro, no século VI a.C., em Atenas, quando Testis começou a imitar em público figuras mitológicas. O surgimento do teatro permitiu ao público ateniense ver em cena deuses e figuras mitológicas, assim como hoje vemos heróis criados pela imaginação humana e figuras históricas verdadeiras adquirirem vida nas telas. Outros privilegiados foram os que viveram na época do Renascimento, que viram nascer a ópera, gênero criado a partir do teatro da antiguidade, cuja música se perdeu. Mas o cinema não se limita a tais origens e provavelmente não é uma simples coincidência que a primeira sessão cinematográfica tenha sido realizada no mesmo ano em que foi publicado o livro Estudos sobre a Histeria, escrito a quatro mãos por Sigmund Freud e Joseph Breuer. Uma época estava começando. Surgiam novas formas de compreender o ser humano e o mundo.
Diz a lenda que Jorge Luis Borges ao ser perguntado por um jornalista sobre Cidadão Kane respondeu que não havia gostado do filme. Diante da surpresa do entrevistador acrescentou que o filme era bom demais para ser cinema. Ao mesmo tempo uma crítica e um elogio, a definição não deixa de evidenciar aquele preconceito que pelo menos durante a primeira metade do século passado foi a atitude que mais marcou a classe acadêmica diante do cinema, embora poucos ou talvez nenhum de seus integrantes tenham se manifestado de forma semelhante à do autor da História universal da infâmia. Em 1960, René Clair foi eleito pela Academia Francesa e em 2006 Nelson Pereira dos Santos passou a ocupar a Cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono é Castro Alves. Santos, certamente, foi reconhecido por ter sido o realizador de dois filmes baseados em obras de Graciliano Ramos, Vidas secas e Memórias do cárcere, dois grandes títulos de nosso cinema. Atualmente, o cinema não é mais alvo de qualquer gênero de preconceito, mas o reconhecimento de sua importância tem sido prejudicado por certa superficialidade que se espalha e que evidencia ser cada vez maior o interesse por futilidades e temas sem maior relevância. Mas é reconfortante verificar que em todo o mundo são muitos os cineastas combatentes, que procuram manter viva a ideia de que antes de tudo filmar é uma forma de ver o mundo e procurar tornar visível o que de significativo permanece oculto.
Tal afirmação se concretizou depois de décadas de erros de avaliação. Mesmo depois de Griffith, Eisenstein e Chaplin - que mostraram que cenário, montagem e gestos eram elementos essenciais ao cinema - não eram poucos os filmes que se limitavam a imitar recursos do teatro e até da ópera para conseguir respeitabilidade. E se o culto a atores e atrizes contribuiu para a afirmação do cinema como produto industrial a ser consumido por grandes plateias, algo decisivo para uma arte que exige recursos cuja importância não desaparece quando as filmagens terminam, tal admiração obscureceu a figura dos criadores que aperfeiçoaram e enriqueceram a nova linguagem. Atualmente o problema é outro. Trata-se do uso abusivo de efeitos permitidos pelas novas técnicas de captação de imagens e quase sempre utilizados de forma superficial e não para criar uma determinada realidade como fez Stanley Kubrick em 2001: uma odisseia no espaço. Mas os resistentes continuam atuando e merecem ter seus trabalhos conhecidos e prestigiados.
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