Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cinema

- Publicada em 14 de Agosto de 2020 às 03:00

As faces do mal

Cinematografia polonesa retorna como figura de destaque do cinema mundial com 'Rede de ódio'

Cinematografia polonesa retorna como figura de destaque do cinema mundial com 'Rede de ódio'


REPRODUÇÃO/JC
A cinematografia polonesa, que tem como referência nomes como Andrzej Wajda, Andrzej Munk, Jersy Kawalerowicz e mesmo Roman Polanski, que realizou apenas um longa-metragem em seu país antes de enriquecer o acervo cinematográfico de outras nações, retorna como figura de destaque ao palco do cinema mundial com o diretor Jan Komasa, realizador de Rede de ódio, mais um filme prejudicado pelas circunstâncias atuais, podendo ser visto apenas em telas que estão substituindo o cinema. O mais recente trabalho de Polanski, o notável J’accuse, teve a carreira interrompida após alguns dias de exibição e agora aguarda a retomada ou então espaço em telas que pelo menos permitirão o conhecimento de uma das maiores obras recentemente produzidas. Se no passado o cinema polonês foi corajoso e ousado ao abordar temas proibidos entre outros países do Leste Europeu, principalmente em Cinzas e diamantes, que tinha como protagonista um adversário armado do regime, tratado de forma a ressaltar a tragédia de um país dividido, o que agora estamos vendo é outra vez uma sociedade dominada por conflitos e ameaçada por correntes que adotam a simplificação pensando resolver situações complexas. Para expor este drama, Komasa coloca em cena um protagonista que, em vez de simbolizar inquietações e desespero, resume no comportamento não apenas ambição e arrivismo, pois também explicita por suas ações as várias faces do mal e a forma como a grande ameaça se infiltra e se expande pelas mais diversas formas através das quais se organiza uma sociedade.
A cinematografia polonesa, que tem como referência nomes como Andrzej Wajda, Andrzej Munk, Jersy Kawalerowicz e mesmo Roman Polanski, que realizou apenas um longa-metragem em seu país antes de enriquecer o acervo cinematográfico de outras nações, retorna como figura de destaque ao palco do cinema mundial com o diretor Jan Komasa, realizador de Rede de ódio, mais um filme prejudicado pelas circunstâncias atuais, podendo ser visto apenas em telas que estão substituindo o cinema. O mais recente trabalho de Polanski, o notável J’accuse, teve a carreira interrompida após alguns dias de exibição e agora aguarda a retomada ou então espaço em telas que pelo menos permitirão o conhecimento de uma das maiores obras recentemente produzidas. Se no passado o cinema polonês foi corajoso e ousado ao abordar temas proibidos entre outros países do Leste Europeu, principalmente em Cinzas e diamantes, que tinha como protagonista um adversário armado do regime, tratado de forma a ressaltar a tragédia de um país dividido, o que agora estamos vendo é outra vez uma sociedade dominada por conflitos e ameaçada por correntes que adotam a simplificação pensando resolver situações complexas. Para expor este drama, Komasa coloca em cena um protagonista que, em vez de simbolizar inquietações e desespero, resume no comportamento não apenas ambição e arrivismo, pois também explicita por suas ações as várias faces do mal e a forma como a grande ameaça se infiltra e se expande pelas mais diversas formas através das quais se organiza uma sociedade.
Desde a primeira sequência, o filme não apenas revela o caráter de seu personagem principal, registrando também que o ritual seguido pelos dois professores, encarregados de comunicar ao aluno plagiador que sua expulsão é irrevogável não é um escudo protetor, até porque uma certa vaidade permite que seja aberto espaço para uma ação que utilizará vários disfarces para atingir seu objetivo. É através desses disfarces, encenados de formas diferentes, que Komasa coloca em cena o tema principal de sua obra. A forma de expressão é sempre realista, mesmo que em algumas passagens a montagem altere o tempo da ação, como na cena do aniversário, por exemplo, e que a utilização de jogos eletrônicos sirva para evidenciar a fantasia como elemento dominante. É através do realismo que o cineasta exponha de forma clara a grande ameaça. O agente demolidor de reputações e utilizador de instrumentos modernos de comunicação para construir a escada que o elevará a um posto de comando implacável e autoritário, surge em cenários diversos e em formas diferentes. Ele pode ser um jovem estudante que procura a família que o ajudou a fim de restabelecer contatos humanos, algo que também pode significar a busca de algo perdido. E junto com ele o espectador logo perceberá como também é falso o comportamento daquela família. De certa forma, estamos diante da segunda expulsão.
O protagonista resume e simboliza assim o ser humano disposto a tudo a fim de exercer a vingança e se impor diante do mundo. Ele utiliza para tanto várias formas. Pode ser um dançarino em casas de diversões noturnas e também um frequentador de recitais de música de câmara. É um integrante da campanha de um candidato liberal, ao mesmo tempo que trabalha para a destruição de sua imagem, ao atuar numa empresa que tem como cliente o adversário conservador e direitista. É igualmente organizador e vítima de um extremo ato de violência. O filme de Komasa expõe assim os diversos elementos que compõe um cenário sombrio e ameaçador. É o nosso tempo que o filme focaliza. Sem resumos artificiais e sem as sempre detestáveis palavras de ordem, o filme acumula méritos em sua narrativa. Mesmo que o roteiro de Mateusz Pacewicz tenha algumas falhas –um político não poderia ser tão facilmente enganado como a candidato alvo da campanha difamatória- Rede de ódio é um desses filmes que integram o grupo dos que têm mantido o cinema como instrumento indispensável para o processo de entendimento de um mundo e de uma época.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO