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Cinema

- Publicada em 26 de Junho de 2020 às 03:00

Memória e imagem

Depois da primeira sessão pública organizada pelos Irmãos Lumière, em 28 de dezembro de 1895, o cinema se espalhou pelo mundo, não apenas como uma atração circense. Além dos filmes realizados por Louis e Auguste e as fantasias de George Méliès, cinegrafistas se espalharam por muitas cidades e colocaram câmeras nas ruas, a fim de captar o movimento, sem qualquer gênero de interferência do operador. Esses primeiros cinegrafistas também não esqueceram as atrações turísticas. Muitos desses filmes foram preservados por seus produtores, que voltando a seus países de origem propiciavam aos espectadores a oportunidade de se tornarem turistas sem abandonar as cadeiras das primeiras salas de exibição. Ver hoje tais filmes é como voltar ao passado, mesmo que tal passado seja captado em seus aspectos exteriores. Mas tal constatação não invalida outra mais importante: sinais captados pela câmera sempre revelam hábitos, costumes e transmitem informações sobre determinada época. Em sua edição de novembro de 1974, O Corrreio, um órgão da Unesco editado no Brasil pela Fundação Getúlio Vargas, tinha como matéria principal um ensaio intitulado Tesouros perdidos do cinema, destinado a expor os males causados pela falta de atenção ao novo meio de expressão. Tal estudo era assinado por Bhagwan D. Garga, cineasta e crítico indiano então encarregado por aquele órgão da ONU para preparar uma antologia da história do cinema. A constatação então feita foi a de que até aquela data a perda era maior do que a de títulos preservados. No texto, há uma citação do cineasta Fritz Lang, que prova que tal destruição não abalou apenas registros da vida urbana, pois alcançou também o cinema de ficção. Lang cita, por exemplo, que todos os filmes de Harry d'Abbadie d'Arrast desapareceram para sempre. E Lang, que viu tais trabalhos, não hesitava em afirmar que Arrast realizou oito dos mais belos filmes de todos os tempos.
Depois da primeira sessão pública organizada pelos Irmãos Lumière, em 28 de dezembro de 1895, o cinema se espalhou pelo mundo, não apenas como uma atração circense. Além dos filmes realizados por Louis e Auguste e as fantasias de George Méliès, cinegrafistas se espalharam por muitas cidades e colocaram câmeras nas ruas, a fim de captar o movimento, sem qualquer gênero de interferência do operador. Esses primeiros cinegrafistas também não esqueceram as atrações turísticas. Muitos desses filmes foram preservados por seus produtores, que voltando a seus países de origem propiciavam aos espectadores a oportunidade de se tornarem turistas sem abandonar as cadeiras das primeiras salas de exibição. Ver hoje tais filmes é como voltar ao passado, mesmo que tal passado seja captado em seus aspectos exteriores. Mas tal constatação não invalida outra mais importante: sinais captados pela câmera sempre revelam hábitos, costumes e transmitem informações sobre determinada época. Em sua edição de novembro de 1974, O Corrreio, um órgão da Unesco editado no Brasil pela Fundação Getúlio Vargas, tinha como matéria principal um ensaio intitulado Tesouros perdidos do cinema, destinado a expor os males causados pela falta de atenção ao novo meio de expressão. Tal estudo era assinado por Bhagwan D. Garga, cineasta e crítico indiano então encarregado por aquele órgão da ONU para preparar uma antologia da história do cinema. A constatação então feita foi a de que até aquela data a perda era maior do que a de títulos preservados. No texto, há uma citação do cineasta Fritz Lang, que prova que tal destruição não abalou apenas registros da vida urbana, pois alcançou também o cinema de ficção. Lang cita, por exemplo, que todos os filmes de Harry d'Abbadie d'Arrast desapareceram para sempre. E Lang, que viu tais trabalhos, não hesitava em afirmar que Arrast realizou oito dos mais belos filmes de todos os tempos.
Na mesma publicação do Correio da Unesco, há um depoimento de Henri Langlois, o criador, na década de 1930, da Cinemateca Francesa. Diz Langlois o seguinte: "O papel mais importante de uma cinemateca é o de preservar. Muitas coisas que hoje parecem sem valor, com o tempo apresentam uma qualidade que não pudemos ver. Baudelaire e a Torre Eiffel são exemplos disso. Julgar, como criticar, é um jogo. Por isso, aceito qualquer filme - não tenho motivos para recusar nenhum. Tenho até filmes que detesto." Atualmente, com os recursos permitidos por novos métodos de filmagem e preservação - e o termo filmar vai aos poucos sendo substituído por gravar - o futuro de obras cinematográficas parece estar garantido. Porém, é bom lembrar, e para citar apenas um exemplo, Eduardo Escorel não teria podido realizar Imagens do Estado Novo, seu documentário sobre a ditadura brasileira de 1937, se não fosse o material preservado pela Cinemateca Brasileira, este patrimônio nacional criado, entre outros, por Paulo Emilio Salles Gomes. Quando uma entidade como esta é ameaçada pela falta de recursos, é natural a preocupação de setores culturais. O fato evidencia algo ainda mais grave: o descaso e o desconhecimento da importância do cinema.
Assim como as bibliotecas e os museus, as salas de concerto e os espaços teatrais, as cinematecas prestigiadas pelos governos exercem a função de preservar parte da cultura humana. Elas evidenciam, também, a importância conferida ao cinema por sociedades avançadas, mesmo em tempo de crise. É sempre importante lembrar que em plena Segunda Guerra Mundial, Laurence Olivier obteve os necessários recursos para realizar sua versão de Henrique V, pois era indispensável, sem panfletagem e apelos superficiais, ressaltar a importância da participação do Reino Unido no combate à maior ameaça sofrida pela civilização. Nos Estados Unidos, o cinema não foi apenas utilizado nas relações públicas, como na vinda de Orson Welles ao Brasil. A preservação de documentários realizados pelos nazistas foi utilizada por Frank Capra para expor verdades e ameaças. E para que tudo fosse registrado com a necessária competência foram também convocados pelas forças armadas nomes como John Ford, John Huston, George Stevens e William Wyler. São exemplos que sintetizam a importância da memória, da imagem e do cinema. Esperamos que os desastres do passado não se repitam. E que os exemplos citados sirvam de advertência e, nos casos positivos, de modelos a serem seguidos.
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