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Cinema

- Publicada em 03 de Abril de 2020 às 03:00

Clássicos na tela

Hélio Nascimento
Depois das mostras dedicadas às cinematografias da Holanda e da Índia, o espaço para retrospectivas se tornou maior e os filmes passaram a ser exibidos no Salão de Atos da Ufrgs. Em abril de 1962 teve, então, início um ciclo, dedicado a Uma História do Cinema Russo e Soviético. A mostra tinha sido organizada pela Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, com a colaboração da Cinemateca Brasileira e também com entidades culturais do Brasil e da antiga URSS.
Depois das mostras dedicadas às cinematografias da Holanda e da Índia, o espaço para retrospectivas se tornou maior e os filmes passaram a ser exibidos no Salão de Atos da Ufrgs. Em abril de 1962 teve, então, início um ciclo, dedicado a Uma História do Cinema Russo e Soviético. A mostra tinha sido organizada pela Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, com a colaboração da Cinemateca Brasileira e também com entidades culturais do Brasil e da antiga URSS.
Grande atração da retrospectiva, claro, foram as exibições da quase totalidade dos filmes realizados por Serguei MIkhailovitch Eisenstein. Faltou apenas o díptico dedicado ao Tzar Ivan, produzido nos anos de 1944 e 1945. Como é sabido, a primeira parte da obra chegou a ser exibida, mas a segunda foi proibida pela censura stalinista e só liberada anos mais tarde, depois que Nikita Krushev denunciou os crimes de Josef Stalin, cujos censores perceberam no filme alusões à repressão então vigente no país.
De Eisenstein foram exibidos A greve, O Encouraçado Potemkin, Outubro, A linha geral e Alexander Newski. As mostras exibiam os filmes pela ordem de realização. Mas, no caso, foi feita uma exceção e o primeiro filme exibido foi Alexander Newski, uma espécie de cantata cinematográfica tendo por base a música de Serguei Prokofiev. Esta, provavelmente, é a mais minuciosa originalmente escrita para cinema e até hoje uma referência e um modelo. O compositor, depois de um exílio voluntário, havia voltado à URSS, assim como Eisenstein, que tentou realizar nos Estados Unidos uma versão de Uma tragédia americana, de Theodore Dreisser, e a seguir foi ao México para realizar um painel sobre aquele país. A escolha de tal filme para abrir a mostra foi correta, pois na tela grande e em um espaço adequado, seu impacto permanece. Em salas de concerto em todo o mundo, a cantata de Prokofiev nunca deixou de ser apresentada e o filme de Eisenstein permanece uma referência para qualquer diretor que realize um filme histórico com cenas de batalha.
Eisenstein foi um teórico que procurou transformar em prática suas ideias sobre o cinema e colocar esta forma de expressão ao lado das outras artes. Ele, no entanto, tinha grandes dificuldades em colocar na tela personagens retirados do cotidiano. Seu objetivo em explorar as possibilidades do cinema era bem maior. Além disso enfrentou proibições e mesmo a inveja de colegas ligados ao regime. Um de seus filmes, O prado de Bejin, não pôde ser concluído e os negativos teriam sido destruídos. Mas autoridades russas do setor afirmam que os mesmos foram perdidos durante um ataque aéreo durante a Segunda Guerra Mundial. Em Outubro, ele foi obrigado a cortar muitas cenas, aquelas em que aparecia Leon Trotsky. Mas permanece e assim continuará como um dos criadores do cinema, ao lado de Griffith, de inventores como os Irmãos Lumière e de sonhadores como Méliès. Como curiosidade vale lembrar que em sua obra-prima, Os intocáveis, Brian De Palma prestou uma bela homenagem a Eisenstein, realizando uma paráfrase da célebre sequência das escadarias de Odessa em O Encouraçado Potemkin.
Em 1963, o ciclo de mostras foi concluído com as exibições de obras da Polônia, da Alemanha e do Reino Unido. Do primeiro país, o público pôde ver, entre outros, um filme marcante, um dos maiores do século passado, Cinzas e diamantes, de Andrzej Wajda, obra-prima que corajosamente se afastava dos cânones impostos pelo chamado realismo socialista. Da Alemanha, se tornaram conhecidos da plateia local filmes como Nosferatu, de Friedrich Wilhelm Murnau, e Metropolis, de Fritz Lang, o primeiro um momento insuperável do gênero fantástico e o segundo uma primorosa visão, mesmo que prejudicada por um final ingênuo, sobre conflitos e as máscaras utilizadas por falsos guias. Do Reino Unido, foram exibidas as notáveis versões realizadas e interpretadas por Laurence Olivier de Hamlet e Ricardo III, sem esquecer Sapatinhos vermelhos, de Powell e Pressburger, que Martin Scorsese coloca entre os 10 maiores da história.
Todos os filmes citados estão hoje disponíveis em plataformas que permitem seu conhecimento, mas não a aferição só permitida pela tela grande. E tudo foi um capítulo importante na história da cidade. Algo que merece ser sempre lembrado.
 
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