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Cinema

- Publicada em 13 de Dezembro de 2019 às 03:00

Retrato de família

Hélio Nascimento
O interesse do diretor Rian Johnson pela obra de Agatha Christie certamente é maior do que seu talento. Mas, sem dúvida alguma, é necessário reconhecer, depois de tal constatação, que ele tem o mérito de não deixar que sua admiração pelo modelo impeça que qualquer gênero de submissão ou derrota gerada por um comportamento de simples admirador atuem como forças negativas. Além de dirigir, Johnson é também o autor do roteiro de Entre facas e segredos, o que reforça não apenas seu papel de autor do filme, pois também é um dado que acentua o fato de o realizador buscar em todo o relato uma certa originalidade. É difícil escrever sobre um filme como este, não por ser ele algo dotado de complexidades, mas sim por ser absolutamente necessário não prejudicar o interesse e mesmo o prazer do espectador em acompanhar uma narrativa repleta de surpresas. Porém, alguns pontos podem ser destacados sem que sejam reveladas informações que, de acordo com a tradição, só no final são inteiramente entregues ao público. Quando a cena de abertura se completa parece que estamos diante de mais uma obra que nos permitirá acompanhar, ao lado de agentes da lei, uma busca que nos permitirá descobrir o verdadeiro culpado. Mas como Johnson não parece estar preocupado apenas com os rituais destinados a expor a culpa e assim condenar transgressores, o filme adquire um interesse não limitado por fórmulas bastante conhecidas.
O interesse do diretor Rian Johnson pela obra de Agatha Christie certamente é maior do que seu talento. Mas, sem dúvida alguma, é necessário reconhecer, depois de tal constatação, que ele tem o mérito de não deixar que sua admiração pelo modelo impeça que qualquer gênero de submissão ou derrota gerada por um comportamento de simples admirador atuem como forças negativas. Além de dirigir, Johnson é também o autor do roteiro de Entre facas e segredos, o que reforça não apenas seu papel de autor do filme, pois também é um dado que acentua o fato de o realizador buscar em todo o relato uma certa originalidade. É difícil escrever sobre um filme como este, não por ser ele algo dotado de complexidades, mas sim por ser absolutamente necessário não prejudicar o interesse e mesmo o prazer do espectador em acompanhar uma narrativa repleta de surpresas. Porém, alguns pontos podem ser destacados sem que sejam reveladas informações que, de acordo com a tradição, só no final são inteiramente entregues ao público. Quando a cena de abertura se completa parece que estamos diante de mais uma obra que nos permitirá acompanhar, ao lado de agentes da lei, uma busca que nos permitirá descobrir o verdadeiro culpado. Mas como Johnson não parece estar preocupado apenas com os rituais destinados a expor a culpa e assim condenar transgressores, o filme adquire um interesse não limitado por fórmulas bastante conhecidas.
Em primeiro lugar, é necessário destacar que é retomado o método de Hitchcock em não esconder o que realmente aconteceu. Agora, como em alguns clássicos do mestre, o acontecimento que dá origem à trama a ser esclarecida é claramente exposto e o espectador já sabe, desde o início, o que verdadeiramente aconteceu. Ou pensa que sabe. Isso porque quem acompanha o filme é colocado como participante do drama, já que o roteiro não esconde o que realmente aconteceu com o célebre escritor de histórias policiais. Mas, como nem tudo é revelado a um primeiro olhar, o esclarecimento do mistério servirá apenas como instrumento revelador do que realmente move os personagens da família que acaba de perder seu integrante mais importante. O cineasta não se limita assim a descrever uma investigação. Ele sabe, certamente, que um crime não é apenas um ato de violência. Trata-se de uma ação reveladora de forças contidas e que de repente atuam sem freios e limitações. Assim, o que se vê em cena, revelada aos poucos, é a agressividade antes contida ou disfarçada e que passa a ser dirigida contra quem era aceita como integrante da família e depois que transformada em figura controladora passa a ser vítima do ódio antes oculto por aparências.
É que o filme de Johnson adota uma proposta que procura sintonizar a história narrada com acontecimentos que atualmente frequentam o noticiário. Por exemplo: cada vez que a nacionalidade de uma personagem é mencionada, o país de onde ela vem é diferente. Trata-se de óbvia referência a certos temores do atual primeiro mandatário norte-americano sobre o que ele julga ser uma ameaça a ser controlada. E também menção sobre desconhecimentos e desinformações. E não há dúvida alguma que o plano de encerramento não é apenas uma vingança diante da indiferença. A ironia não exclui o tom de eloquente resposta contido na imagem final. O mérito de Johnson como diretor e roteirista é saber ver numa história que começa com uma morte violenta sinais de que sempre há algo a ser revelado, além da revelação do culpado. Há outras ironias relacionadas aos romances do gênero, mas estas não devem ser reveladas num texto sobre o filme, pois estão integradas a um processo que será concluído com o esclarecimento completo do que realmente aconteceu. Mas nada impede que se destaque a figura do escritor que cultiva um grande desprezo pelos familiares e seus interesses; e também da bisavó, que já não tem mais idade e tudo contempla em silêncio, observando desde o passado a crise e a decadência. Se a imaginação de Johnson fosse maior, certamente que esse filme teria méritos superiores. Assim como está é um bom divertimento, não desligado de temas contemporâneos.
 
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