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Cinema

- Publicada em 22 de Março de 2019 às 01:00

O mundo segundo Godard

Jean-Luc Godard tem seu nome assegurado na história do cinema. O realizador de Acossado jamais poderá ser excluído do grupo dos verdadeiramente grandes, aqueles que, num determinado momento fizeram o cinema mover-se para a frente, seja pela descoberta de novas possibilidades narrativas, seja pela forma como aprofundaram a forma de contemplar o ser humano. Naquele notável ensaio sobre a inconformidade e a rebeldia, o cineasta, ao mesmo tempo em que construía um novo presente e delineava os traços fundamentais do futuro, também fornecia ao espectador a possibilidade de melhor compreender o passado. Mostrando que os chamados filmes B, sobretudo aqueles realizados pela Monogram, a quem o filme é dedicado, e a Republic, o cineasta deixava claro que a compreensão do mundo não passava apenas pelos grandes clássicos, pois dados essenciais a tal entendimento estavam presentes igualmente por gêneros tidos como menores e ignorados pelos que costumavam julgar os filmes por critérios teatrais e literários. Godard, que uma vez elogiou o artista de Tempos modernos, dizendo que "hoje dizemos Carlitos como quem diz Leonardo e Chaplin como quem diz Da Vinci" e que tinha Fritz Lang como um de seus ídolos, não afastou o olhar do cinema voltado para as grandes plateias e seguidamente homenageava em seus filmes obras desprezadas na época e hoje vistas como monumentos cinematográficos. Algumas delas, através de fragmentos, estão presentes em Imagem e palavra (Le livre d' image).
Jean-Luc Godard tem seu nome assegurado na história do cinema. O realizador de Acossado jamais poderá ser excluído do grupo dos verdadeiramente grandes, aqueles que, num determinado momento fizeram o cinema mover-se para a frente, seja pela descoberta de novas possibilidades narrativas, seja pela forma como aprofundaram a forma de contemplar o ser humano. Naquele notável ensaio sobre a inconformidade e a rebeldia, o cineasta, ao mesmo tempo em que construía um novo presente e delineava os traços fundamentais do futuro, também fornecia ao espectador a possibilidade de melhor compreender o passado. Mostrando que os chamados filmes B, sobretudo aqueles realizados pela Monogram, a quem o filme é dedicado, e a Republic, o cineasta deixava claro que a compreensão do mundo não passava apenas pelos grandes clássicos, pois dados essenciais a tal entendimento estavam presentes igualmente por gêneros tidos como menores e ignorados pelos que costumavam julgar os filmes por critérios teatrais e literários. Godard, que uma vez elogiou o artista de Tempos modernos, dizendo que "hoje dizemos Carlitos como quem diz Leonardo e Chaplin como quem diz Da Vinci" e que tinha Fritz Lang como um de seus ídolos, não afastou o olhar do cinema voltado para as grandes plateias e seguidamente homenageava em seus filmes obras desprezadas na época e hoje vistas como monumentos cinematográficos. Algumas delas, através de fragmentos, estão presentes em Imagem e palavra (Le livre d' image).
Godard pertence à geração que teve como guia a revista Cahiers du Cinéma, na qual ele foi um dos redatores, antes de começar a carreira de cineasta. Foi a época na qual foram exaltados nomes como Vincente Minnelli, Howard Hawks, Joseph L. Mankiewicz, Joseph Losey, Alfred Hitchcock, Nicholas Ray, John Ford, Raoul Walsh, George Cukor e até mesmo Cecil B. De Mille, cujo Sansão e Dalila foi colocado por um dos mais prestigiados críticos da revista entre os 10 melhores filmes norte-americanos. Talvez tenha havido algum exagero, mas é importante lembrar que Vertigo foi eleito há alguns anos o melhor filme de todos os tempos numa eleição organizada pela londrina Sight & Sound e na qual votaram diretores e críticos de todo o mundo. Fascinado pelo cinema norte-americano, Godard, como cineasta, não permaneceu a ele submisso. Procurou fazer filmes que fossem uma resposta e um avanço. De certa forma realizou um cinema norte-americano sem as cenas intermediárias, registrando apenas o essencial. Rompeu com o realismo, alterando o tempo, mas não a realidade da cena. Aproximou-se do policial, do western, do musical, seguindo certas leis, agindo como subversivo diante de outras, ao mesmo tempo em que procurava registrar revoltas, ousadias e também o caos de uma época O resultado foi um cinema voltado para uma crise ampla, sintetizado pela constatação da falência da palavra, da falta de sentido de um discurso civilizatório, algo presente até no título de seu filme mais recente.
O resultado de tal processo criativo resultou num cinema feito de pequenas e incompletas cenas, a maioria delas de outros filmes, sempre uma melodia interrompia. Godard, um melômano, fornece, através da música, uma espécie de guia para o espectador. Há no filme, por exemplo, uma cena de Alexander Newski, aquela notável parceria de Eisenstein com Prokofiev, cujo tema musical é interrompido bruscamente logo que é percebido. Assim acontece com as cenas. Antes, em Acossado, Weekend era dada ao espectador a possibilidade de ouvir trechos prolongados de obras de Mozart, por exemplo. Agora, não. Tudo é interrompido, como se fosse impossível a concretização de uma crítica ao mundo, seja pela palavra, seja pela imagem. Na sessão em que o filme foi visto, o impasse ficou claro, pois havia apenas dois espectadores na plateia. E como Godard aprecia fazer citações, talvez seja importante lembrar o grande Machado, quando escreveu num dos contos de Papéis avulsos: "os frutos de uma laranjeira, se ninguém os gostar, valem tanto como as urzes e as plantas bravias, e, se ninguém os vir, não valem nada; ou por outras palavras mais enérgicas, não há espetáculo sem espectador".
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