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Cinema

- Publicada em 15 de Fevereiro de 2019 às 01:00

Um casal no mundo

O cinema polonês, que, a partir dos anos 1950, principalmente através de Andrzej Wajda e Andrzej Munk, este falecido precocemente num acidente, sem esquecer Roman Polanski, que depois do primeiro longa-metragem preferiu trabalhar no Ocidente, se colocou entre as principais cinematografias do mundo, está novamente adquirindo prestígio internacional pelo trabalho de Pawel Pawlikowski, o mesmo cineasta de Ida, filme que recebeu o Oscar de produção estrangeira. O cineasta concorre outra vez ao mesmo prêmio com este Guerra fria, filme que também aparece nas categorias principais de direção e fotografia, um admirável trabalho em preto e branco de Lucas Zal. O fotógrafo trabalhou, seguindo as orientações do diretor, na dimensão clássica, aquela vigente na época em que se passa a ação do filme. Pawlikowski, até por essa preferência, é um resistente, nunca um reacionário, mesmo porque seu estilo narrativo nada tem do vigente no período em que a Polônia integrava o Pacto de Varsóvia. O título do filme é uma óbvia referência a uma fase na qual os Estados Unidos e a então União Soviética disputavam poder e predominância. Naquele tempo, no Leste Europeu, não era fácil colocar na tela problemas enfrentados por sociedades controladas pelo regime de partido único. Por isso, foi grande a repercussão quando, em 1958, Wajda realizou Cinzas e diamantes, um retrato de uma sociedade dividida e na qual as novas gerações não tinham perspectiva alguma e poloneses de esquerda e direita se enfrentavam por vezes de armas nas mãos. O diretor de Guerra fria, que já viveu e trabalhou no Reino Unido, volta à Polônia para realizar um filme ambientado naquele período e no qual são desenvolvidos temas que, ao serem abordados, revelam, mais do que aspectos nefandos do totalitarismo, a essência de um conflito gerado pelos obstáculos diante de seres humanos em busca de equilíbrio e harmonia.
O cinema polonês, que, a partir dos anos 1950, principalmente através de Andrzej Wajda e Andrzej Munk, este falecido precocemente num acidente, sem esquecer Roman Polanski, que depois do primeiro longa-metragem preferiu trabalhar no Ocidente, se colocou entre as principais cinematografias do mundo, está novamente adquirindo prestígio internacional pelo trabalho de Pawel Pawlikowski, o mesmo cineasta de Ida, filme que recebeu o Oscar de produção estrangeira. O cineasta concorre outra vez ao mesmo prêmio com este Guerra fria, filme que também aparece nas categorias principais de direção e fotografia, um admirável trabalho em preto e branco de Lucas Zal. O fotógrafo trabalhou, seguindo as orientações do diretor, na dimensão clássica, aquela vigente na época em que se passa a ação do filme. Pawlikowski, até por essa preferência, é um resistente, nunca um reacionário, mesmo porque seu estilo narrativo nada tem do vigente no período em que a Polônia integrava o Pacto de Varsóvia. O título do filme é uma óbvia referência a uma fase na qual os Estados Unidos e a então União Soviética disputavam poder e predominância. Naquele tempo, no Leste Europeu, não era fácil colocar na tela problemas enfrentados por sociedades controladas pelo regime de partido único. Por isso, foi grande a repercussão quando, em 1958, Wajda realizou Cinzas e diamantes, um retrato de uma sociedade dividida e na qual as novas gerações não tinham perspectiva alguma e poloneses de esquerda e direita se enfrentavam por vezes de armas nas mãos. O diretor de Guerra fria, que já viveu e trabalhou no Reino Unido, volta à Polônia para realizar um filme ambientado naquele período e no qual são desenvolvidos temas que, ao serem abordados, revelam, mais do que aspectos nefandos do totalitarismo, a essência de um conflito gerado pelos obstáculos diante de seres humanos em busca de equilíbrio e harmonia.
É admirável a maneira como o cineasta sabe expressar as inconformidades e as pressões sofridas por indivíduos num regime autoritário. A ação começa com o trabalho de um grupo de dança que procura em várias regiões da Polônia temas musicais populares, com o intuito de utilizá-los em espetáculos. Ou então desenvolvê-los e submetê-los a um processo de aprofundamento, já que um dos integrantes é também músico. É um trabalho destinado a ressaltar origens e raízes. Numa bela sequência, integrantes do grupo são como que abençoados pela música de Chopin, cena semelhante àquela do pianista judeu com o oficial alemão, em O pianista, de Polanski. Esta espécie de encontro entre a autenticidade e a forma elaborada é, logo a seguir, desfeita com a interferência da burocracia, que exige um tipo de arte dedicada a exaltar a figura de Stalin. O culto à personalidade, uma das características dos regimes de força, não é apenas algo ridículo. Ele também é uma das expressões de um poder perverso. Quando o casal se desfaz e o cenário da ação se amplia por vários países, o tema se amplia e o que temos em cena é o desconforto, a angústia e o sofrimento gerado pela derrota. Ele expressa sua dor pela agressividade ao piano, cena em que é contemplado com espanto pelos demais músicos. Ela troca a autenticidade das danças polonesas pela coreografia pobre e descontrolada vinda de fontes alheias.
Guerra fria não é apenas um filme sobre casal separado por acontecimentos políticos. Durante toda a ação o que se vê em cena são sinais de desconforto e ansiedade gerados pela não realização do almejado, pelo corte de trajetórias e pelo extermínio de qualquer ambição. Quando, no epílogo, casal procura outro local para observar o panorama, não estamos apenas contemplando seres humanos em busca de outra forma de vida, pois o momento expressa uma inconformidade mais profunda. O filme se conclui forma belíssima com a utilização de uma das Variações Goldberg, uma forma perfeita de expressar o desejo de harmonia e equilíbrio. O humanismo traduzido em sons. De certa forma, Pawlikowski realizou um filme musical, na medida em que música e dança são elementos importantes para a compreensão da obra. O filme, que também recebeu o prêmio de direção no Festival de Cannes, está acima de qualquer distinção do gênero. É outra prova de que o cinema ainda está vivo.
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