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Cinema

- Publicada em 18 de Janeiro de 2019 às 01:00

Clamor humano

O diretor Hirokazu Kore-eda tem se destacado nos últimos anos como o mais importante dos cineastas japoneses. Seu filme agora em cartaz, este admirável Assunto de família, recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes do ano passado, o que, de certa forma, oficializou a inclusão do cineasta entre os grandes da atualidade. O realizador é um daqueles que podem ser chamados de resistentes, um grupo cada vez menor de diretores que tem procurado manter o cinema num nível apropriado para espectadores adultos. Filmes visando o público infantil sempre existiram e certamente deverão continuar sendo produzidos. O que preocupa é a infantilização de plateias, algo que, por vezes, chega a beirar o ridículo e seria algo cômico se não revelasse simplificações que evidenciam um retrocesso perigoso e que, certamente, é do interesse dos empenhados em manter o público na obscuridade. O culto dos efeitos especiais, essa nova religião cinematográfica, no qual a fantasia nada esclarece, só tem servido para rebaixar o cinema, colocando-o num nível que revela falta de ambição e mesmo decadência. Acompanhado pelo entusiasmo de parte dos que divulgam, de uma ou outra forma, o cinema, este ritual empobrecedor é certamente preocupante e não deveria encontrar apenas o silêncio, principalmente entre aqueles que, num passado recente, ainda dirigiam sua atenção para a inconformidade e a busca pelo aprofundamento de questões humanas. A nossa arte, que já incluiu, entre seus títulos, obras indispensáveis para o conhecimento de uma época, merecia mais nomes como Kore-eda. Este é um dos motivos pelos quais seu novo trabalho merece toda a atenção.
O diretor Hirokazu Kore-eda tem se destacado nos últimos anos como o mais importante dos cineastas japoneses. Seu filme agora em cartaz, este admirável Assunto de família, recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes do ano passado, o que, de certa forma, oficializou a inclusão do cineasta entre os grandes da atualidade. O realizador é um daqueles que podem ser chamados de resistentes, um grupo cada vez menor de diretores que tem procurado manter o cinema num nível apropriado para espectadores adultos. Filmes visando o público infantil sempre existiram e certamente deverão continuar sendo produzidos. O que preocupa é a infantilização de plateias, algo que, por vezes, chega a beirar o ridículo e seria algo cômico se não revelasse simplificações que evidenciam um retrocesso perigoso e que, certamente, é do interesse dos empenhados em manter o público na obscuridade. O culto dos efeitos especiais, essa nova religião cinematográfica, no qual a fantasia nada esclarece, só tem servido para rebaixar o cinema, colocando-o num nível que revela falta de ambição e mesmo decadência. Acompanhado pelo entusiasmo de parte dos que divulgam, de uma ou outra forma, o cinema, este ritual empobrecedor é certamente preocupante e não deveria encontrar apenas o silêncio, principalmente entre aqueles que, num passado recente, ainda dirigiam sua atenção para a inconformidade e a busca pelo aprofundamento de questões humanas. A nossa arte, que já incluiu, entre seus títulos, obras indispensáveis para o conhecimento de uma época, merecia mais nomes como Kore-eda. Este é um dos motivos pelos quais seu novo trabalho merece toda a atenção.
Ganhando espaço nas salas exibidoras do Ocidente, o cinema japonês se impôs graças a nomes como Yasujiro Ozu, Kenji Mizoguchi e Akira Kurosawa. Um filme do primeiro, Viagem a Tóquio, frequenta muitas listas de melhores de todos os tempos e não falta quem o aponte como o maior até hoje realizado. Ozu e Mizoguchi são cineastas voltados para um cinema focalizado no cotidiano. Kurosawa é o épico, que, por vezes, também se volta para cenários reduzidos, tendo sido ele o responsável pelo espaço obtido em todo o mundo pelo cinema nipônico. Kore-eda tem voz própria, mas descende claramente dos dois primeiros, mesmo que Assunto de família deva algo a obras como Viver e Dodeskaden, de Kurosawa. A ação transcorre, quase toda, num pequeno cenário, na qual habita um grupo de pessoas, que forma o que se poderia chamar de família. Começa, aqui, a proposta do cineasta. O mundo focalizado e pobre de valores materiais, o cenário é precário e as pessoas que o habitam vivem de furtos, de empregos menores e da pensão da personagem mais velha. O filme focaliza, portanto, restos de uma humanidade, que vive num mundo em frangalhos. O empenho, portanto, é o de encontrar luz em tal palco. Ela se encontra, então, no relacionamento entre os indivíduos que ali vivem, que são como atores a interpretar personagens de uma família humana.
Essa busca pelo relacionamento mais importante é claramente expressa em vários momentos, como na ligação procurada e difícil entre pai e filho. O mundo exterior, representado pelos estabelecimentos saqueados, tem outro símbolo poderoso nas cabines onde impera a fantasia erótica, algo revelador de vazios e imperfeições. A habilidade do cineasta se revela inteiramente nas cenas finais, quando tudo começa a ser revelado, a partir do gesto de revolta do menino. O cineasta vê no ser humano sinais luminosos, como o gesto de retirar a criança de um cenário opressor e violento. Mas o abandono do menino evita a ingenuidade e o maniqueísmo. E tudo se conclui de forma poderosa e comovente, depois do reencontro com a simbólica figura paterna. É quando o clamor por uma harmonia que permita o equilíbrio e a proteção é um tema exposto com toda a clareza. Revelando à medida que o tempo passa os elementos essenciais da trama. Kore-eda também se impõe como um narrador tão seguro e imaginoso como humanista, um cineasta capaz de enriquecer a tela com os sonhos e desejos de seus personagens. Uma forma clara de falar sobre valores abandonados e a ausência de relacionamentos verdadeiros.
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