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Cinema

- Publicada em 30 de Novembro de 2018 às 01:00

Atores no palco racista

O diretor Spike Lee não conseguiu destaque fazendo apenas filmes de combate ao racismo. Ele também é um militante que, por vezes, exagera ao tentar diminuir o valor de outros realizadores, selecionando cenas e assim isolando-as do contexto. Mas ele é também um cineasta ao qual não se deve negar ousadia. Ele pode ser acusado de se deixar levar pelo emocionalismo e, por vezes, ser seduzido pelas facilidades permitidas pela estupidez dos que agora são chamados de supremacistas, entre os quais Donald Trump descobriu pessoas de boa índole. Lee é um indignado e, portanto, corre o risco de por vezes ser sufocado pela ira. Seu novo filme, Infiltrado na Klan, é baseado em fatos verídicos. O cineasta aproveita o episódio para, mais uma vez, abordar seu tema predileto, sabendo aproveitar certos incidentes, de forma a recorrer até mesmo a momentos de humor, provando que a comicidade pode ser importante aliada na luta contra forças obscurantistas e elementos tão perigosos como irracionais. Numa pequena cena de Django livre, aquela na qual o Dies Irae verdiano é utilizado nos planos iniciais, Quentin Tarantino fez uma síntese precisa utilizando as armas da sátira e da paródia, reduzindo a pó a organização responsável por tantas atrocidades. Naquela obra-prima, inspirada em lenda germânica, é possível ver um libelo antirracista muito mais vigoroso, até por nele ter sido evitado o maniqueísmo. É fácil fazer um discurso contra o supremacismo, novo nome para o racismo. Mais difícil, certamente, é chegar às suas causas. Lee pode ser acusado de ignorar as fontes, mas merece ser elogiado por expor as consequências de tal processo, entre eles o fanatismo sem obstáculos que se constitui em séria ameaça.
O diretor Spike Lee não conseguiu destaque fazendo apenas filmes de combate ao racismo. Ele também é um militante que, por vezes, exagera ao tentar diminuir o valor de outros realizadores, selecionando cenas e assim isolando-as do contexto. Mas ele é também um cineasta ao qual não se deve negar ousadia. Ele pode ser acusado de se deixar levar pelo emocionalismo e, por vezes, ser seduzido pelas facilidades permitidas pela estupidez dos que agora são chamados de supremacistas, entre os quais Donald Trump descobriu pessoas de boa índole. Lee é um indignado e, portanto, corre o risco de por vezes ser sufocado pela ira. Seu novo filme, Infiltrado na Klan, é baseado em fatos verídicos. O cineasta aproveita o episódio para, mais uma vez, abordar seu tema predileto, sabendo aproveitar certos incidentes, de forma a recorrer até mesmo a momentos de humor, provando que a comicidade pode ser importante aliada na luta contra forças obscurantistas e elementos tão perigosos como irracionais. Numa pequena cena de Django livre, aquela na qual o Dies Irae verdiano é utilizado nos planos iniciais, Quentin Tarantino fez uma síntese precisa utilizando as armas da sátira e da paródia, reduzindo a pó a organização responsável por tantas atrocidades. Naquela obra-prima, inspirada em lenda germânica, é possível ver um libelo antirracista muito mais vigoroso, até por nele ter sido evitado o maniqueísmo. É fácil fazer um discurso contra o supremacismo, novo nome para o racismo. Mais difícil, certamente, é chegar às suas causas. Lee pode ser acusado de ignorar as fontes, mas merece ser elogiado por expor as consequências de tal processo, entre eles o fanatismo sem obstáculos que se constitui em séria ameaça.
Há, no filme de Lee, uma sequência que merece destaque. Nela, se destacam as palavras ditas pelo personagem de Harry Belafonte, uma presença marcante em tal fragmento. O cantor e ator descreve um linchamento de forma emocionante, algo que lembra o comovente relato da canção Fruta estranha, de Abel Meeropol. Celebrizada por uma gravação de Billie Holiday, a peça tem por tema os corpos dos enforcados em árvores no Sul dos Estados Unidos, "uma estranha e amarga fruta". Na mesma sequência, paralelamente, são mostradas cenas do clássico Nascimento de uma nação, realizado por David Griffith, o filme que é o marco mais importante de todo o cinema, por ter sido aquele no qual foi criada a narrativa cinematográfica. Lee mostra planos de tal obra ao mesmo tempo em que focaliza uma sessão do filme assistida por integrantes da Ku Klux Klan, durante a qual estes se comportam como se fossem assistentes de uma competição esportiva. Eles se assemelham aos nazistas do já citado Tarantino em outro filme admirável, Bastardos inglórios, vibrando com as façanhas do Sargento York alemão. Só que agora o entusiasmo decorre da ação, na tela, dos encapuzados vistos como vingadores e justiceiros na obra de Griffith. O fato de filme tão importante ser marcado pelo racismo não mereceria uma crítica como a que está colocada na imagem, isolando determinado trecho. É que o filme de Griffith, que Eisenstein chamava de "o pai de nós todos", além de sua importância na criação da linguagem cinematográfica, também mostrava certas situações que certamente racistas norte-americanos não gostariam de ver na tela. Lee também investe contra "...E o vento levou", mas aí não consegue evitar a grandiosidade da cena mais notável daquele filme, que expressa de forma expressiva as consequências da brutalidade e do irracionalismo.
Outro elemento que merece destaque em Infiltrado na Klan é a utilização de técnicas teatrais. O elemento teatral já havia sido utilizado muito bem pelo diretor em Um plano perfeito. O que vemos agora são duas infiltrações, pois o protagonista também atua como um militante do movimento negro, quando se coloca diante de seus semelhantes. Na outra, ele não é um ator, pois na verdade é diretor, orientando o policial judeu, sendo que numa cena Lee faz questão de mostrá-lo fazendo o colega repetir falas. O novo filme do cineasta de Faça a coisa certa é daqueles que pedem complementações. Mas ao acentuar o ridículo e o perigo dos movimentos extremistas tem seu lugar entre os que procuram colocar no centro do palco a voz e a presença da lucidez.
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