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Cinema

- Publicada em 16 de Agosto de 2018 às 23:19

Justiceiro implacável

A violência certamente é o tema preferido pela diretora Lynne Ramsay que, em 2011, realizou o impactante Precisamos falar sobre Kevin e agora retorna com este igualmente perturbador Você nunca esteve realmente aqui. Esta cineasta britânica, que tem realizado filmes ambientados nos Estados Unidos, segue aquela linha traçada por nomes como Sam Peckinpah e Martin Scorsese, para citar apenas dois realizadores que fizeram o cinema se aproximar dos aspectos mais assustadores da realidade contemporânea. Utilizando outra forma de definir o papel de tais cineastas, é possível afirmar que eles mostraram ao espectador imagens e situações antes a ele sonegadas pelas regras que, sem necessitar de intervenções externas, exerciam o papel de censura. Se Peckinpah utilizou recursos técnicos para explicitar a brutalidade, Scorsese não tem hesitado em explorar uma sordidez antes vetada ao cinema, mas essencial para que se tenha do ser humano uma visão mais próxima da realidade. O cinema proposto por Ramsay não é certamente fácil de ser acompanhado. A arte da cineasta não procura a provocação barata e a denúncia superficial. Ela não recorre ao discurso e nem procura entregar ao público algo completo. Ao contrário: faz de fragmentos não devidamente organizados de forma racional, a matéria sobre a qual trabalha. De certa forma, ela faz com que o espectador participe da mesma dor do protagonista, na medida em que o tumulto interior tem sua origem em fatos traumáticos não devidamente elaborados. Colocando em cena um personagem movido por ressentimentos e desejos de vingança, a diretora focaliza aquela força irracional que procura corrigir deformações de um mundo tumultuado.
A violência certamente é o tema preferido pela diretora Lynne Ramsay que, em 2011, realizou o impactante Precisamos falar sobre Kevin e agora retorna com este igualmente perturbador Você nunca esteve realmente aqui. Esta cineasta britânica, que tem realizado filmes ambientados nos Estados Unidos, segue aquela linha traçada por nomes como Sam Peckinpah e Martin Scorsese, para citar apenas dois realizadores que fizeram o cinema se aproximar dos aspectos mais assustadores da realidade contemporânea. Utilizando outra forma de definir o papel de tais cineastas, é possível afirmar que eles mostraram ao espectador imagens e situações antes a ele sonegadas pelas regras que, sem necessitar de intervenções externas, exerciam o papel de censura. Se Peckinpah utilizou recursos técnicos para explicitar a brutalidade, Scorsese não tem hesitado em explorar uma sordidez antes vetada ao cinema, mas essencial para que se tenha do ser humano uma visão mais próxima da realidade. O cinema proposto por Ramsay não é certamente fácil de ser acompanhado. A arte da cineasta não procura a provocação barata e a denúncia superficial. Ela não recorre ao discurso e nem procura entregar ao público algo completo. Ao contrário: faz de fragmentos não devidamente organizados de forma racional, a matéria sobre a qual trabalha. De certa forma, ela faz com que o espectador participe da mesma dor do protagonista, na medida em que o tumulto interior tem sua origem em fatos traumáticos não devidamente elaborados. Colocando em cena um personagem movido por ressentimentos e desejos de vingança, a diretora focaliza aquela força irracional que procura corrigir deformações de um mundo tumultuado.
O filme de Ramsay ostenta, entre seus méritos, a interpretação - melhor seria dizer a presença - do ator Joaquin Phoenix. A figura deste justiceiro perturbado e perturbador é algo que a cineasta explora com grande habilidade. O filme, de certa forma, é uma espécie de aula sobre o papel do ator no cinema. Só a figura é suficiente e a partir dela o filme se estrutura e se agiganta. Todos os que tem aproximado o protagonista do personagem vivido por Robert De Niro em Motorista de táxi têm toda a razão. Mas há algo que os diferencia. Enquanto no filme de Scorsese o protagonista se expressava por vezes através da palavra - e a cena do espelho faz parte da antologia cinematográfica - o personagem agora fala pouco. É através da ação que ele aos poucos vai revelando sua personalidade. Eis, portanto, outro recurso puramente cinematográfico utilizado pela realizadora. Os planos de curta duração que focalizam momentos do passado do personagem esclarecem pouco sobre sua vida anterior. Mas todos eles possuem uma carga de violência que justifica a rispidez e a violência diante de uma repetição que coloca o protagonista outra vez diante de situações que o remetem ao passado.
Os sinais da crise se espalham pelo filme todo, mas alguns deles merecem da narradora aquela ênfase que resume e define todo um mundo. Um deles é o sangramento nasal do detetive para o qual Phoenix trabalha. Isso poderia ser um detalhe, mas a diretora acentua o problema até pela utilização de imagens em primeiro plano. O personagem chamado Joe trabalha num mundo doente de violência. Mas a realizadora, habilmente, foge do lugar-comum e não focaliza diretamente as agressões, mostrando apenas seus efeitos. Uma originalidade narrativa que não pode passar despercebida. E certo momento ela substitui o olhar de cineasta por aqueles das câmeras de segurança de um prédio, aproximando ainda mais o filme da realidade. E no epílogo, ela oferece ao espectador a oportunidade de escolher o final da narrativa. Essencialmente, neste desfecho duplo, no qual Ramsay se permite uma liberdade de expressão até certo ponto surpreendente numa narrativa até então realista, a conclusão da obra termina por revelar a essência de tudo: a procura de um cenário onde a luz e a harmonia predominem e o ser humano se afaste das sombras onde vivem os fantasmas que o oprimem e infelicitam.
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