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Cinema

- Publicada em 20 de Julho de 2018 às 01:00

Humanismo recuperado

Há várias lições colocadas na tela pelo diretor Robert Guédiguian em seu novo filme, Uma casa à beira-mar. A primeira e mais relevante delas é a de que é possível erguer um painel sobre o mundo contemporâneo sem que a ação seja perturbada por interferências sempre indesejadas do proselitismo e da demagogia. A partir dessa constatação é possível verificar que outros méritos se espalham pela narrativa, entre elas a constatação de que um olhar atento para o núcleo familiar permite que um cineasta expresse com clareza conflitos, frustrações e esperanças, elementos que formam um conjunto de temas que no caso são desenvolvidos de forma apropriada. Os méritos do filme derivam igualmente da opção feita pelo cineasta, neste e nos outros filmes seus aqui exibidos: o personagem aparece em primeiro lugar, e é torno dele que tudo é construído. A característica principal do cinema de Guédiguian, a crença de que ainda há caminhos a serem percorridos pelos empenhados na construção de um cenário onde predomine o respeito pelo ser humano, se faz presente sem que a agrura e o sofrimento sejam ignorados. O filme, que em muitos aspectos parece uma retomada de situações focalizadas por Francesco Rosi em Três irmãos, outro manifesto humanista e um relato no qual os valores da democracia são defendidos e exaltados, aposta nas possibilidades de um cinema no qual as experiências de cada personagem permitem que o espectador contemple um mundo dominado pela crise e no qual habitam figuras humanas cujas trajetórias expressam as imperfeições predominantes.
Há várias lições colocadas na tela pelo diretor Robert Guédiguian em seu novo filme, Uma casa à beira-mar. A primeira e mais relevante delas é a de que é possível erguer um painel sobre o mundo contemporâneo sem que a ação seja perturbada por interferências sempre indesejadas do proselitismo e da demagogia. A partir dessa constatação é possível verificar que outros méritos se espalham pela narrativa, entre elas a constatação de que um olhar atento para o núcleo familiar permite que um cineasta expresse com clareza conflitos, frustrações e esperanças, elementos que formam um conjunto de temas que no caso são desenvolvidos de forma apropriada. Os méritos do filme derivam igualmente da opção feita pelo cineasta, neste e nos outros filmes seus aqui exibidos: o personagem aparece em primeiro lugar, e é torno dele que tudo é construído. A característica principal do cinema de Guédiguian, a crença de que ainda há caminhos a serem percorridos pelos empenhados na construção de um cenário onde predomine o respeito pelo ser humano, se faz presente sem que a agrura e o sofrimento sejam ignorados. O filme, que em muitos aspectos parece uma retomada de situações focalizadas por Francesco Rosi em Três irmãos, outro manifesto humanista e um relato no qual os valores da democracia são defendidos e exaltados, aposta nas possibilidades de um cinema no qual as experiências de cada personagem permitem que o espectador contemple um mundo dominado pela crise e no qual habitam figuras humanas cujas trajetórias expressam as imperfeições predominantes.
Não faltarão acusações de que o realizador é orientado pela ingenuidade. Esse tipo de crítica já havia sido feito contra outros cineastas, entre eles Frank Capra, que na sua época, marcada pela ascensão de ideologias totalitárias, também procurava exaltar valores relacionados ao verdadeiro convívio humano. Esta é uma forma de reagir aos ataques da fera que assume formas diversas e por vezes pode dominar uma sociedade inteira. Guédiguian não deixa de ser uma espécie de Capra marselhês. E isto não é apenas uma constatação: é um elogio. Nos momentos de ameaças, sempre é importante defender a integridade humana. Na hora em que perigos diversos se materializam e se transforam em ameaças, é importante que se façam ouvir vozes que representam não apenas um alerta e se afirmem como uma forma de resistência diante do irracionalismo e da violência. Na primeira sequência do filme, um personagem expressa seu desencanto pelo mundo. É uma abertura que permite que depois surjam sinais reveladores de que o desalento nem sempre predomina, mesmo que por vezes, como no caso do casal idoso, se imponha a derrota, oportunidade para o cineasta alcançar uma dramaticidade na construção dos planos, digna de Bergman.
Os três irmãos, assim como no filme de Rosi, se reencontram depois de uma longa separação. Não são apenas os dois que voltam - um deles permaneceu no cenário de origem - que trazem dramas do mundo para o palco onde tudo começou. Habilmente, o cineasta coloca em cena a questão dos refugiados e da imigração. É quase uma volta da criança perdida pela irmã. Esta é uma as virtudes do filme, que através de uma personagem se aproxima de tal drama de forma a ressaltar o desejo de recuperar o passado que parece perdido. Não se trata apernas da maternidade recuperada. Há algo mais em cena, um elemento que revela o que de essencial precisa ser dito. A figura do pai se transforma no símbolo de uma sociedade incapaz de ouvir e olhar para o próximo. A cena em que a criança procura sem sucesso, movendo uma das mãos como estivesse diante de uma estátua, a atenção para ela é um símbolo poderoso. E na comovente cena final, quando o chamado ao irmão é capaz de movimentar um mundo que parecia paralisado, Guédiguian atinge o ponto essencial. Através de personagens que procuram recuperar o perdido, ele sintetiza o drama maior. Não é apena o desejo de um regresso a um tempo ultrapassado. Trata-se da procura de um cenário enriquecido pelo humanismo. Este é o significado do pequeno e revelador movimento que encerra a narrativa.
 
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