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Cinema

- Publicada em 29 de Junho de 2018 às 01:00

Miniaturas

Partir da realidade até chegar ao reino da fantasia é um percurso que costuma ser percorrido pelos que são movidos pela tentação de mergulhar no mar de angústias, abrigo derradeiro no qual se encontram os destroços de um mundo abalado pelas mais diversas formas de agressividade e violência. É neste núcleo, no qual dominam as formas reveladoras de um grande fracasso, que também se encontram os sinais que iluminam o caminho da necessária volta ao ponto de partida. Mas há os afogados nas águas do desespero, aqueles que se transformam em servos da imaginação deformada pelos tenazes dos agentes repressivos. Acontece o mesmo com certos filmes, que registram o sofrimento de personagens que, aos poucos, se afastam do real e ingressam num cenário no qual domina o irracional, e a lucidez é diluída até o desaparecimento. Sempre será interessante lembrar, para criar um contraponto significativo, aquele que é o maior dos filmes fantásticos até hoje realizados: Psicose, de Alfred Hitchcock. Naquela obra-prima, o que parecia tão perigoso quanto irreal é o produto de uma ação ditada pela deformação. O cineasta relatava os movimentos de um fantasma até chegar à realidade. Percorria o caminho inverso do estreante Ari Aster neste Hereditário, que, depois de focalizar a realidade, prefere utilizar a simplificação e, assim, não permitindo aos seus personagens e à própria plateia uma solução causada pela investigação racional. Mas esta observação não anula os méritos de um trabalho realizado, em termos formais, com competência e que parece rumar, em quase toda a sua primeira parte, para soluções afastadas de formas simplistas, aquelas que costumam trazer para o real os fantasmas gerados por sofrimentos não devidamente analisados.
Partir da realidade até chegar ao reino da fantasia é um percurso que costuma ser percorrido pelos que são movidos pela tentação de mergulhar no mar de angústias, abrigo derradeiro no qual se encontram os destroços de um mundo abalado pelas mais diversas formas de agressividade e violência. É neste núcleo, no qual dominam as formas reveladoras de um grande fracasso, que também se encontram os sinais que iluminam o caminho da necessária volta ao ponto de partida. Mas há os afogados nas águas do desespero, aqueles que se transformam em servos da imaginação deformada pelos tenazes dos agentes repressivos. Acontece o mesmo com certos filmes, que registram o sofrimento de personagens que, aos poucos, se afastam do real e ingressam num cenário no qual domina o irracional, e a lucidez é diluída até o desaparecimento. Sempre será interessante lembrar, para criar um contraponto significativo, aquele que é o maior dos filmes fantásticos até hoje realizados: Psicose, de Alfred Hitchcock. Naquela obra-prima, o que parecia tão perigoso quanto irreal é o produto de uma ação ditada pela deformação. O cineasta relatava os movimentos de um fantasma até chegar à realidade. Percorria o caminho inverso do estreante Ari Aster neste Hereditário, que, depois de focalizar a realidade, prefere utilizar a simplificação e, assim, não permitindo aos seus personagens e à própria plateia uma solução causada pela investigação racional. Mas esta observação não anula os méritos de um trabalho realizado, em termos formais, com competência e que parece rumar, em quase toda a sua primeira parte, para soluções afastadas de formas simplistas, aquelas que costumam trazer para o real os fantasmas gerados por sofrimentos não devidamente analisados.
Filmes como Os inocentes, de Jack Clayton; O bebê de Rosemary, de Roman Polanski; e O iluminado, de Stanley Kubrick, ao lado do já lembrado filme de Hitchcock, serão sempre referências a serem citadas quando o gênero fantástico é abordado por outros cineastas. O primeiro encenava fantasias geradas por forças naturais reprimidas. O segundo finalizava com o registro da vitória do instinto materno. E o terceiro terminava com a derrota do irracional e o triunfo da luta pela sobrevivência. Em todos os três, os sinais de um grande mistério se faziam presentes, mas não eram os elementos dominadores. O terror explícito era claramente evitado. No filme do grande Kubrick, por exemplo, o rosto de Jack Nicholson na porta destruída era a evidente aparição do irracional lutando por sua libertação e se transformando na maior ameaça. Não se tratava de um inimigo vindo das trevas, mas do próprio ser humano dominado pelas fúrias, disposto a se livrar de todas as algemas. Não se deve exigir de um estreante a mesma grandeza de mestres do passado. Mas é importante registrar descaminhos e alertar sobre a escolha de facilidades, como luzes estranhas, artifícios visuais e até o exagerado, em alguns momentos, uso da faixa sonora. Dar sustos na plateia parece uma obsessão de certos diretores em começo de carreira e até de veteranos desprovidos de imaginação superior.
Os méritos de Aster se localizam, principalmente, nos aspectos formais, sobretudo no controle que ele exerce sobre a pequena Millie Shapiro, cuja personagem se chama Charlie, referência a um dos mais elogiados títulos de Hitchcock, A sombra de uma dúvida, no qual tio e sobrinha tinham o mesmo nome, uma ligação com o filme de agora, no qual a avó queria que a neta fosse do sexo masculino. A figura da matriarca, falecida antes do filme começar, é outra ligação com Hitchcock, que via em tal figura, em muitas de suas obras, o resumo e a configuração do domínio e do controle sobre o indivíduo, a substituta ou a representação da sociedade. Não apenas na direção de atores Aster se revela competente. Há momentos, na primeira metade, realmente impressionantes, como a cena do acidente. E também é perfeita a utilização das miniaturas, cenário no qual o filme ingressa no engenhoso prelúdio. É uma pena que a narrativa não se aproxime das sugestões feitas pelas aulas sobre as tragédias gregas e prefira, no final, fazer concessões a uma certa vulgaridade que vem prejudicando o gênero, em vez de explorar o tema do passado que "oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos".
 
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