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- Publicada em 23 de Janeiro de 2019 às 01:00

Qual beleza salvará o mundo?

Dom Leomar Antônio Brustolin, bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre
Dom Leomar Antônio Brustolin, bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre
O humano sempre se encantou pela beleza. Carecemos de um mundo mais bonito. Mas nem toda beleza é boa e verdadeira. Num mundo sem beleza, ou, mais precisamente, equivocado do sentido do belo, até o bom e o bem perderam sua força. O ser humano permanece perplexo diante das múltiplas opções e se questiona por que não escolher o mal, o prazer sem limites, uma vida sem compromisso e os sentimentos sem responsabilidades.
Apesar de todas as frustrações dos sonhos de um mundo melhor, de uma civilização mais justa e fraterna, de um planeta harmonizado, permanece o desafio de salvar a vida e o globo através da beleza, pois só ela é necessária, como bem alerta Dostoievski: "Sabeis que a humanidade pode fazer pouco dos ingleses, poderá fazer pouco da Alemanha, que nada é mais fácil para ela do que fazer pouco dos russos, que para viver não precisa nem de ciência e nem de pão, mas que apenas a beleza é indispensável porque sem beleza não existirá nada mais a fazer neste mundo" (Dostoievski F. N., I Demoni, Milão, 1963, c.3).
A palavra beleza remonta sua gênese ao sânscrito: bet el za (o lugar em que Deus brilha). Trata-se de um conceito religioso. Na cultura hebraica, o seu correspondente é a Shekiná, a Glória de Deus manifestada em todo seu esplendor na feliz convivência com as criaturas. É o ideal do paraíso primitivo quando Deus viu que tudo era bom (Gn). Bom e belo. No grego, o belo é traduzido por Kalos, para afirmar que a beleza é o esplendor da verdade. Consequentemente, a mentira é feia. O conceito de Kalos reúne os significados de bom, belo e verdade. No mundo antigo, por exemplo, um objeto só passava a ser feito em ouro depois de constatada sua utilidade e função. A beleza constitui, portanto, uma das faces da trindade ideal do verdadeiro, do bom e do belo.
Por causa de sua aparência sensível, a beleza também é ambígua. Na sua essência, ela é simbólica (sim-bolós), que une e integra, dando sentido à existência do ser. Pervertida, ela se torna diabólica (dia-bolós), que divide, separa e rompe. A beleza pode ser frequentemente enganosa e o seu fascínio pode esconder a falta de moral e uma indiferença para com a verdade.
O mal também se reveste de beleza para seduzir. O paradigma mais antigo dessa realidade é o relato bíblico do fruto proibido: "a mulher viu que o fruto da árvore era bom de comer, de agradável aspecto e desejável" (Gn 3,6). Trata-se da sedução do prazer que brilhou mais do que a distinção entre o bem e o mal. A beleza fascinou o ser humano, usurpou o lugar do Divino, tornou indiferente o bem e a verdade. O que é agradável aos sentidos e estético no mais alto grau, nem sempre é verdadeiro. A falta de senso moral e o caos interior do homem se formam num modo natural, através de forças irresistíveis que abalam a alma. Não é somente Deus quem se reveste de beleza, o mal lhe imita e torna a beleza profundamente ambígua.
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