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Jornal da Lei

- Publicada em 22 de Outubro de 2019 às 03:00

Advogado gaúcho presta atendimento em Libras à comunidade surda

Conforme Curtis, atendimento em jurídico em LIBRAS é pioneiro no Estado.

Conforme Curtis, atendimento em jurídico em LIBRAS é pioneiro no Estado.


MARCO QUINTANA/JC
Gabriela Porto Alegre
Segundo o censo do IBGE 2010, cerca de 9,7 milhões de brasileiros possuem deficiência auditiva, o que representa 5,1% da população. Desse total, 2 milhões possuem deficiência auditiva severa - 1,7 milhão têm grande dificuldade para ouvir e 344,2 mil são surdos. No Rio Grande do Sul, estima-se que mais de 617 mil pessoas tenham alguma deficiência auditiva. Porto Alegre está no topo das cidades do Estado com o maior número de surdos (62 mil), seguida por Caxias do Sul (20 mil) e Pelotas (17 mil). Pensando nisso, o advogado Jorge Curtis criou o projeto com atendimento especializado em Língua Brasileira de Sinais (Libras). Em entrevista ao Jornal da Lei, Curtis explicou como surgiu a iniciativa "Advogado em Libras", pioneira no Estado, e como são realizados os atendimentos.

Segundo o censo do IBGE 2010, cerca de 9,7 milhões de brasileiros possuem deficiência auditiva, o que representa 5,1% da população. Desse total, 2 milhões possuem deficiência auditiva severa - 1,7 milhão têm grande dificuldade para ouvir e 344,2 mil são surdos. No Rio Grande do Sul, estima-se que mais de 617 mil pessoas tenham alguma deficiência auditiva. Porto Alegre está no topo das cidades do Estado com o maior número de surdos (62 mil), seguida por Caxias do Sul (20 mil) e Pelotas (17 mil). Pensando nisso, o advogado Jorge Curtis criou o projeto com atendimento especializado em Língua Brasileira de Sinais (Libras). Em entrevista ao Jornal da Lei, Curtis explicou como surgiu a iniciativa "Advogado em Libras", pioneira no Estado, e como são realizados os atendimentos.

Jornal da Lei - Como surgiu o interesse por aprender Libras e realizar atendimentos especializados para a comunidade com deficiência auditiva?

Jorge Curtis - Tenho dois tios, por parte de pai, que são surdos. Desde pequeno, sempre me comuniquei por sinais com eles, mas eram sinais bem caseiros. Conforme fui crescendo, fui notando a dificuldade que eles tinham para acessar lugares importantes, então passei a acompanhá-los em hospitais, lojas, bancos com a ideia de auxiliá-los nesses atendimentos que ainda são precários para a comunidade surda. A Libras evoluiu muito. É a primeira língua para os surdos, sendo o português a segunda. Notei que eles tinham uma dificuldade extrema em escrever, em se comunicar e, por causa dos meus tios, fui aprendendo, estudando para me aperfeiçoar e falar bem com eles. Um dia, um vizinho que também era surdo me pediu ajuda. Lembro que ele chegou a tirar uma foto e publicar no Facebook com a legenda: "Esse é o meu advogado que atende em Libras". Desde então, começou a vir muita gente da comunidade surda procurando atendimento. A partir disso, me dei conta do quanto era frágil esse atendimento e o quanto eles são carentes disso. Aqui no escritório, eles sempre trazem uma demanda de que ninguém os escuta, que para ir ao médico é difícil, que para ir a uma delegacia é pior ainda. Uma das coisas mais tristes que eu já vi nesse sentido foi uma senhora que trouxe a filha, de 30 anos, e ela nunca tinha ido ao médico porque ninguém a entendia. O projeto Advogado em Libras, no entanto, surgiu há pouco mais de três anos. Por atender surdos que são amigos, comecei a tirar dúvidas deles sobre processos. Antes era uma dificuldade, porque eles iam ao escritório e precisavam de um tradutor intérprete, e a comunicação acabava sendo "terceirizada". Os surdos têm uma cultura de desconfiança, então em alguns casos eles não se sentiam bem em ter que compartilhar suas demandas com os intérpretes para que fossem repassadas aos advogados. Quando disse que me comunicava em libras, isso se espalhou.

JL - Quais os tipos de atendimentos jurídicos que o escritório presta?

Curtis - Fazemos questões de Trabalho, Cível, Família e inventários. Mas também busco me adaptar à demanda jurídica deles, que é Direito do Consumidor, por exemplo. Com a reforma trabalhista tivemos bastante procura e, agora, estamos também com bastante demanda na área de família, divórcio, pensão e benefícios.

JL - Como o senhor avalia a inclusão na área do Direito?

Curtis - É uma coisa triste, porque se criam várias leis de acessibilidade, de inclusão, mas não se executa. Digo isso principalmente com relação aos órgãos públicos do sistema de Justiça, que deveriam ter profissionais capacitados para esse atendimento e não têm, ou, se têm, são poucos. Depois, claro, tem toda a questão dos hospitais, das delegacias e dos bancos que não contam com intérpretes ou tradutores para fazer esse atendimento. É muito triste. Falta acessibilidade, falta carinho e atenção com os surdos.

JL - Como o senhor se sente podendo contribuir?

Curtis - O Direito é uma ciência jurídica e social, então esse é o lado mais social que podemos praticar. É um prazer poder estar prestando essa ajuda, esse auxílio, porque somos apenas uma ponte de ligação para solucionar as demandas dessa comunidade. O lado social do Direito é a parte mais prazerosa e fascinante da profissão, porque nos dá a oportunidade de ajudar alguém a conhecer direitos que não sabia que tinha.

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