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Infraestrutura

- Publicada em 16 de Novembro de 2021 às 03:00

Marco ferroviário pode gerar R$ 342 bilhões em investimentos

Muitos empreendimentos estão associados a terminais portuários ou a donos de carga, como empresas mineradoras e de celulose

Muitos empreendimentos estão associados a terminais portuários ou a donos de carga, como empresas mineradoras e de celulose


Ricardo Botelho/MInfra/JC
A produtora de celulose Eldorado Brasil apresentou, semana passada, ao governo o projeto de construção de uma ferrovia sob o novo marco regulatório do setor, implantado em agosto por medida provisória assinada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
A produtora de celulose Eldorado Brasil apresentou, semana passada, ao governo o projeto de construção de uma ferrovia sob o novo marco regulatório do setor, implantado em agosto por medida provisória assinada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Com investimento previsto em R$ 890 milhões, o trecho de 89 quilômetros vai ligar sua unidade em Três Lagoas (MS) à Ferronorte, operada pela Rumo Logística, em Aparecida do Taboado (MS). Dali a carga seguirá para o porto de Santos (SP) utilizando apenas o modal ferroviário.
É o 24º trecho requerido após a permissão para que ferrovias sejam construídas sem a necessidade de licitação, proposta defendida pelo Ministério da Infraestrutura como um impulso para dobrar a participação de trens na matriz de transporte brasileira para 40% até 2035.
A elevada demanda por novos trechos após a mudança nas regras surpreendeu o governo e, segundo a consultoria GO Associados, tem potencial para gerar cerca de 2,5 milhões de empregos e um efeito de R$ 342 bilhões na cadeia produtiva do setor, com encomendas de bens, insumos e serviços.
A estimativa é de estudo feito para a ANTF (Associação Nacional do Transporte Ferroviário) e considera os primeiros 23 projetos apresentados, com investimento de R$ 100 bilhões. Com o 24º, a cifra sobe para quase R$ 101 bilhões.
O mercado espera alguma mortandade de projetos, mas o Ministério da Infraestrutura diz que identifica na lista empreendimentos robustos, geralmente associados a terminais portuários ou a donos de carga, como empresas mineradoras e de celulose.
O assessor especial para ferrovias do ministério, Marcos Félix, diz que o número de projetos apresentados logo no início do programa surpreendeu. "Nós esperávamos uns seis ou sete projetos. Mas na primeira semana recebemos 11", conta.
Os agora 8,5 mil quilômetros propostos são suficientes para ampliar em mais de 25% a malha brasileira atual, que tem 30 mil quilômetros. Pode ser também um impulso à retomada econômica, diz o sócio da consultoria GO Associados, Gesner Oliveira, que estudou os potenciais impactos dos investimentos na cadeia produtiva do setor e no mercado de trabalho.
Seu estudo considerou a matriz insumo-produto do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para concluir que cada real investido em ferrovias geraria quase R$ 3,50 ao longo da cadeia. Os 2,5 milhões de empregos gerariam outros R$ 49 bilhões em efeito-renda.
Além disso, R$ 7,7 bilhões seriam pagos em impostos pelos investidores responsáveis pela construção dos trechos.
"Trata-se de um investimento de grande importância, seja pelo seu impacto na economia e, consequentemente, no fortalecimento da retomada econômica, seja pelo seu impacto na própria infraestrutura, em particular para o agronegócio, na articulação de modais e na integração do país", diz.
O diretor executivo da ANTF, Fernando Paes, diz que, além de fomentar fornecedores já instalados no País, como fabricantes de vagões e dormentes, os elevados investimentos podem incentivar a chegada de novos segmentos, como o de trilhos. "O Brasil já produziu trilhos mas essa indústria encerrou atividades por falta de demanda", relata ele.
Os 23 requerimentos criam rotas que atendem 13 estados e o Distrito Federal. O Ministério da Infraestrutura avalia que há três tipos de empreendedor: donos de carga, como a Eldorado, empresas que já operam ferrovias e operadores de portos.
Estão no primeiro grupo, por exemplo, Rumo Logística e VLI Logística. No segundo, investidores nos portos de Presidente Kennedy e Linhares, no Espírito Santo. O terceiro tem mineradoras e empresas de celulose.
A autorização para a construção de ferrovias depende apenas de análise dos projetos pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e do apetite do investidor. O mercado, porém, vê maior viabilidade naqueles projetos que terão cargas dedicadas.
O governo celebra o elevado número de requerimentos como uma revolução na infraestrutura ferroviária do País, que já vem recebendo elevados investimentos nos últimos anos, com as obras da Norte-Sul e a renovação de concessões antigas, que têm como contrapartida projetos de expansão da malha.

Levantamento mostra que volume de recursos destinados para infraestrutura no Brasil é insuficiente

Apesar dos avanços recentes, como leilões de aeroportos e rodovias realizados ao longo de 2021, o Brasil ainda está longe de atingir o volume necessário de investimentos para superar os gargalos históricos em infraestrutura.
Em 2020, foram investidos cerca de R$ 124,2 bilhões no setor, equivalente a 1,67% do Produto Interno Bruto (PIB). Para os especialistas, o país necessita de investimentos anuais de, pelo menos, 4,3% do PIB - cerca de R$ 284,4 bilhões por ano - em rodovias, ferrovias, saneamento básico e outras obras e serviços estruturais.
Os dados constam do Barômetro de Infraestrutura, pesquisa semestral realizada pela consultoria EY, em parceria com a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib). A sexta edição, realizada com 167 gestores de investimentos e especialistas, mostra os empresários menos otimistas com os rumos da economia nacional pelo terceiro semestre consecutivo.
Apenas 16,2% dos entrevistados estão otimistas com o crescimento econômico do país para os próximos seis meses, ante 17,7% e 30,2% verificados nas pesquisas anteriores e realizadas, respectivamente, no primeiro semestre deste ano e no segundo semestre de 2020.
"Mesmo com o momento de aparente recuperação econômica e controle mais consistente da pandemia, estes resultados podem ter tido influência pelo descontrole da inflação e incertezas quanto ao cenário eleitoral para 2022", diz trecho do estudo, que também aponta a necessidade de investimentos públicos para melhorar o cenário econômico: "a despeito dos investimentos privados, há necessidade de retomada de investimentos públicos para recuperação da economia."
Por outro lado, o estudo indica que os empresários reconhecem os avanços do poder público, principalmente a União, para destravar a participação privada e promover o crescimento da infraestrutura, principalmente por meio de concessões e parcerias público-privadas (PPPs).
Para 48,5% dos entrevistados, o governo federal é quem mais aproveita o potencial de investimentos privados no setor, seguido dos governos estaduais (42,5%) e municipais (15,6%). Os leilões de aeroportos ocorridos no começo do ano e a renovação de concessões de rodovias federais importantes, como a BR-116 (Via Dutra, que liga as duas capitais mais importantes do país, Rio de Janeiro e São Paulo) podem ter contribuído para essa percepção.
Para o diretor-executivo para Setor Público e Infraestrutura daEY, Gustavo Gusmão, a agenda de programas de desenvolvimento da infraestrutura no país está bastante consolidada e, apesar do pessimismo dos executivos em relação ao cenário macroeconômico atual, há credibilidade na área de infraestrutura, os projetos são resilientes e os investidores trabalham com uma perspectiva de longo prazo.
"As discussões, marcos legais e projetos vêm sendo trabalhados desde 2016 de uma maneira bastante consolidada. Por isso, de certa maneira, o pessimismo com a cenário macroeconômico não contamina a agenda de infraestrutura, que, para os investidores, vem sendo bem conduzida pelo Ministério de Infraestrutura", explica Gusmão.