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Conjuntura

- Publicada em 18 de Maio de 2021 às 03:00

Consumo de serviços de infraestrutura despenca na pandemia

Serviços de transportes de passageiros rodoviário e aéreo seguem em patamares bem inferiores ao pré-crise

Serviços de transportes de passageiros rodoviário e aéreo seguem em patamares bem inferiores ao pré-crise


/ARMANDO BABANI/AFP/JC
Dois novos indicadores sobre o consumo de serviços de infraestrutura no Brasil mostram que o setor cresceu menos de 5% no período acumulado de 2012 a 2019 e ainda não se recuperou da forte retração registrada desde o ano passado.
Dois novos indicadores sobre o consumo de serviços de infraestrutura no Brasil mostram que o setor cresceu menos de 5% no período acumulado de 2012 a 2019 e ainda não se recuperou da forte retração registrada desde o ano passado.
Os indicadores mostram ainda desempenho desigual entre diversos segmentos durante a pandemia. A demanda por transporte de cargas, energia e telefonia ficou praticamente estável ou cresceu durante esse período. Já os serviços de transportes de passageiros rodoviário e aéreo continuam em patamares bem inferiores ao pré-crise.
O Índice Abdib Vallya de Infraestrutura cresceu 4,78% (0,67% ao ano) nos sete anos encerrados em 2019. Em 2020, a queda foi de 8,95%, mais que o dobro da retração do PIB do país.
Em março de 2021, ainda acumulava retração de 3,41% em relação ao nível pré-pandemia e de 6,61% ante março de 2019.
"A recuperação, portanto, tem um formato de 'V' alongado, todavia ainda sem perspectivas de quando se igualará ao mesmo nível do início de sua queda", diz a Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base).
Segundo a associação, a pandemia impactou com mais intensidade o setor quando comparado à economia geral, devido à retração na movimentação de passageiros.
Os segmentos de energia elétrica, transporte de carga e telefonia móvel são os que mais contribuíram para a recuperação da demanda do setor desde maio do ano passado, de acordo com o indicador.
Por outro lado, ainda se encontram em patamar inferior ao verificado dois anos antes os transportes de passageiros rodoviário (-16%) e aeroportuário (-55%). "Incertezas acerca dos cuidados sanitários e dos costumes com o novo normal minam a perspectiva de recuperação", diz a entidade.
A associação também divulgou o Índice Abdib Vallya de Transportes e Logística, que desde setembro de 2020 se estabilizou em patamar 10% inferior ao nível pré-pandemia.
Enquanto o índice geral de infraestrutura apresentou estabilidade em março de 2021 (-0,13% em relação a fevereiro no dado com ajuste sazonal), o indicador de demanda específico para o setor de transportes (sem energia e telefonia) registrou queda de 3,7% na mesma comparação.
Igor Rocha, diretor de Economia e Planejamento da Abdib, afirma que os segmentos mais associados e dependentes do escoamento da produção do agronegócio acabaram por se beneficiar em relação às demais empresas do setor. Energia elétrica tem como vantagem ser um serviço essencial, enquanto a telefonia móvel se beneficiou das atividades de home office.
Os serviços que dependem de aglomerações são os que tiveram a demanda mais afetada pela crise atual e que mais dependem da vacinação para retomar os níveis pré-crise. Setores como indústria, construção e comércio e serviços essenciais, por outro lado, retomaram o crescimento ainda em 2020.
O indicador elaborado pela Abdib e pela consultoria econômica Vallya será divulgado mensalmente e utiliza informações da ABCR (associação das concessionárias de rodovias), da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) e das agências dos setores de transportes, energia elétrica e telecomunicações.
São consideradas informações sobre uso físico da infraestrutura, como volume, acessos e quantidade, de modo a evitar a influência de variações do preço. O resultado considera o peso de cada segmento na economia.

Especialistas destacam custo e fatia pequena da matriz energética

Nenhum empreendimento em construção hoje no Brasil, em qualquer setor da infraestrutura, tem um custo que supere o de Angra 3. A usina nuclear, que teve suas obras iniciadas em 1984 pelo governo militar, é, de longe, a construção mais cara do País. Por outro lado, a planta paralisada na praia de Itaorna, em Angra dos Reis (RJ), terá uma participação mínima, quando comparada à geração total de energia do País.
Hoje, o País tem apenas duas usinas nucleares em operação, Angra 1 e 2, que somam cerca de 1,9 gigawatts de potência. No dia em que Angra 3 entrar em operação, em 2026, vai somar 1,4 GW extra de geração por fissão nuclear, chegando a um total de 3,3 GW. Com essa potência reunida, as três usinas responderão por apenas 1,5% da capacidade total de entrega de energia do País. Se considerado o fato de que, anualmente, cada vez mais usinas de outras fontes entram em operação, essa fatia tende a encolher ainda mais.
Os militares defendem que o investimento em energia nuclear deve ser feito pelo País, porque apoia o desenvolvimento local de tecnologias, explora as jazidas nacionais de urânio e traz mais segurança ao abastecimento, já que as plantas nucleares entregam o volume total de energia que suas turbinas podem gerar no momento em que o setor elétrico quiser, diferentemente de outras fontes "intermitentes" - como hidrelétricas, eólicas e solar, que dependem das condições climáticas de chuva, vento e sol para proverem energia, sobre as quais não se tem controle total.
Entre especialistas do setor elétrico, há ainda menção ao alto custo da energia nuclear, ante outras fontes mais baratas, como eólica e hidrelétrica. Hoje, o Brasil soma 175 gigawatts (GW) de potência. Desse total, por exemplo, cerca de 51% estão ligados à geração hidrelétrica. Já as nucleares respondem por 1% da força total. A Eletronuclear afirma que, além de ter garantia plena de geração, Angra 3 passará a gerar o equivalente a 50% do consumo do Estado do Rio de Janeiro.
Para o coordenador geral do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), Nivalde de Castro, optar por uma usina nuclear é como abastecer com gasolina premium ou comprar um Rolls Royce. "É caro? É, mas não depende nem da chuva, nem do sol, nem do vento. É uma energia segura e limpa", comparou ele, destacando que o Brasil já domina toda a cadeia produtiva de energia nuclear - reservas e enriquecimento de urânio - e que isso ajuda a desenvolver uma cadeia produtiva com alta densidade tecnológica no País.
De acordo com o ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e professor titular da Coppe/UFRJ Maurício Tolmasquim, a energia nuclear custa até quatro vezes mais do que a energia solar ou eólica, e por isso tem mais chances de sucesso em países que subsidiam os projetos. Ele defende, porém, a continuidade do programa nuclear no Brasil. "Para não perder o conhecimento tecnológico acumulado desde as primeiras usinas (1970)", ressaltou.