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Indústria automotiva

- Publicada em 13 de Outubro de 2020 às 03:00

Nas linhas de produção de veículos, o risco de novos cortes

Fabricação de automóveis caiu 44,8% até agosto na comparação com igual período de 2019

Fabricação de automóveis caiu 44,8% até agosto na comparação com igual período de 2019


/GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO/DIVULGAÇÃO/JC
Recentes indicadores de que o ano não será tão ruim como previsto no início da pandemia não vão ajudar a salvar empregos na indústria automobilística. As fabricantes de veículos têm hoje quase 7 mil funcionários fora das fábricas, com contratos suspensos (lay-off), e a maioria delas acredita não haver demanda que exija o retorno desses empregados.
Recentes indicadores de que o ano não será tão ruim como previsto no início da pandemia não vão ajudar a salvar empregos na indústria automobilística. As fabricantes de veículos têm hoje quase 7 mil funcionários fora das fábricas, com contratos suspensos (lay-off), e a maioria delas acredita não haver demanda que exija o retorno desses empregados.
Com base em dados das empresas e dos sindicatos de trabalhadores, os programas de demissão voluntária (PDV) abertos nas últimas semanas têm como meta atrair mais ou menos esse número de adesões. Não significa, porém, que as empresas vão conseguir e a opção será demitir ou adotar novas medidas de flexibilização.
A produção de veículos caiu 44,8% até agosto, ante igual período de 2019. A mão de obra foi reduzida em 4 mil postos, para 103,3 mil trabalhadores, quase 5% a menos do que o total empregado há um ano, sem incluir as empresas de tratores.
Demissão nas montadoras significa redução de quadro também nas fábricas de componentes. Fontes do setor calculam que 15 mil cortes já ocorreram nas autopeças. No segmento, formado em sua maioria por pequenas empresas, não há programas de voluntariado como aqueles feitos por montadoras, com ofertas atrativas.
A Volkswagen, por exemplo, oferece de 25 a 35 salários extras, dependendo do tempo de casa, para o funcionário que aderir ao PDV negociado com sindicatos das quatro fábricas do País. O acordo inclui também medidas que vão desde o congelamento de reajuste salarial à suspensão de contratos por até dez meses.
Quando começou a negociação, a empresa informou ter 35% de mão de obra excedente, ou 4,7 mil trabalhadores. Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, mesmo que esse número não seja atingido, não haverá cortes aleatórios, pois a empresa poderá adotar as medidas de flexibilização.
No caso do lay-off, além de mais longo - normalmente a média é de cinco meses -, os trabalhadores vão receber 82,5% dos salários líquidos. Até agora, o governo banca parte dos salários e a empresa paga a diferença, assim o operário recebe o salário líquido integral. Hoje, a Volkswagen tem 1,5 mil funcionários com contratos suspensos.
A General Motors tem 2,7 mil operários em lay-off em cinco fábricas e abriu PDV em São Caetano do Sul e de São José dos Campos (SP). Ofereceu salários extras e um carro Onix Joy. Na unidade do ABC conseguiu 294 adesões. Insatisfeita, reabriu o programa na semana passada e quer mais 500 adesões. "Nosso receio é que ela demita se não atingir essa meta", diz Francisco Nunes, do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano. Na fábrica de São José foram 235 adesões, e a GM demitiu 42 pessoas.

Crise pesa menos para empresas de menor porte

Krieger destaca a importância dos projetos digitais

Krieger destaca a importância dos projetos digitais


/BMW/DIVULGAÇÃO/JC
A pandemia foi um pouco menos cruel para empresas de pequeno porte do que para grandes montadoras que produzem para o mercado de massa. Para as 10 maiores fabricantes de automóveis, as vendas até agosto caíram 36% ante 2019. Para as 10 menores, com participação de mercado abaixo de 1%, a queda ficou em 32%. Nenhuma tem funcionários em lay-off, embora algumas, como a PSA Peugeot Citroën, operem com jornada e salários reduzidos em 20%.
A BMW, do segmento de luxo - que caiu ainda menos, 17% no período -, diz que as vendas estão próximas às de 2019. A produção deve chegar a 8 mil unidades, ante 7,7 mil no ano passado. "Logo no início da pandem dia lançamos uma série de projetos digitais, como o canal de vendas dentro do Instagram e do Facebook e teve grande aceitação", diz Aksel Krieger, presidente da BMW. A marca vai completar 25 lançamentos este ano, entre os quais modelos híbridos e elétricos que já venderam 491 unidades, ante 300 em 2019.
Das três maiores fabricantes, só a Fiat opera com quadro normal de funcionários e não tem plano de abrir PDV. A picape Strada, líder de vendas em setembro, tem fila de espera de até 60 dias. "A capacidade de produção da nova Strada dobrou desde o lançamento, em junho, para 12 mil unidades ao mês, mas os pedidos passam de 15 mil", diz o diretor Herlander Zola.
 

Prorrogação de incentivos fiscais para o setor vai à sanção

Os senadores aprovaram, na semana passada, medida provisória que possibilita a montadoras e fabricantes de veículos receberem crédito presumido do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) em vendas até dezembro de 2025 caso apresentem projetos de investimentos regionais.
A proposta foi aprovada em sessão remota, com 67 votos favoráveis e quatro contrários. O texto agora será encaminhado para sanção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A medida prevê que as empresas instaladas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste terão até 31 de outubro deste ano para apresentar projetos para novos investimentos, pesquisas e desenvolvimento de produtos. Editada em junho, a MP estendia esse prazo até 31 de agosto.
A apresentação desses projetos é necessária para que o incentivo fiscal seja concedido às montadoras. A renúncia fiscal é estimada, segundo o Ministério da Economia, em R$ 150 milhões por ano.
Para compensar a perda de arrecadação, o relator da MP, deputado André de Paula (PSD-PE), incluiu a cobrança de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre as operações realizadas com o FCO (Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste).
No Senado, o texto foi relatado pelo senador Luiz do Carmo (MDB-GO), e não sofreu alterações em relação ao que foi aprovado na Câmara.
Ainda na Câmara, o relator incluiu também a prorrogação do incentivo fiscal às empresas instaladas no Centro-Oeste até o fim de 2025. Originalmente, o benefício tributário se encerraria em 31 de dezembro deste ano.
Em sua justificativa, André de Paula afirmou que haveria uma "incontornável assimetria e verdadeira quebra da isonomia tributária" caso o incentivo fiscal para o Centro-Oeste se encerrasse antes das outras regiões. As regiões Norte e Nordeste já têm assegurado o benefício fiscal até o fim de 2025
 

A fábrica que é o retrato da crise do setor

Honda prevê queda de 40% na montagem de carros este ano

Honda prevê queda de 40% na montagem de carros este ano


/GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO/DIVULGAÇÃO/JC
Resultado de investimentos de R$ 1 bilhão, a segunda fábrica da Honda no País, em Itirapina (SP), ficou pronta no fim de 2015, em meio à turbulência da crise econômica e política que durou até 2017. Em razão disso, foi mantida fechada com seus modernos equipamentos cobertos por três anos até ser inaugurada em março de 2019 com a produção do modelo Fit.
Exatamente um ano depois, quando a fábrica estava recebendo a produção dos outros modelos da marca que serão transferidos da unidade de Sumaré (SP), foi pega por outra crise, a do novo coronavírus, e voltou a ficar fechada por 108 dias, até 10 de julho.
A filial tem hoje mil funcionários, todos transferidos de Sumaré e opera bem abaixo de sua capacidade, que é de 120 mil veículos ao ano, segundo Sidalino Orsi Júnior, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região.
A unidade de Sumaré, que também tem capacidade para 120 mil carros ao ano e até 2021 vai produzir apenas componentes, está em situação similar e tem hoje 2 mil funcionários. "A transferência para Itirapina foi interrompida", informa Orsi. A nova fábrica já está produzindo, além do Fit, o HR-V e WR-V. City e Civic só devem ir para lá no próximo ano.
A Honda prevê queda de 40% em sua produção este ano, mas afirma que desde o início da pandemia não houve demissões e que "no momento deve manter seu quadro de colaboradores". 
De 13 a 23 deste mês, 1,8 mil trabalhadores ficarão novamente em lay-off.
A montadora informa que o novo período de suspensão é para realizar procedimentos técnicos que estavam previstos para ocorrerem nas férias coletivas de julho, mas foram remanejadas em razão da covid-19.
A direção da marca japonesa afirma que mantém seu plano de concentrar a produção de automóveis em Itirapina e deixar Sumaré apenas com os componentes. "Essa configuração faz sentido, uma vez que a área do powertrain (conjunto de motor), assim como a de injeção plástica recebeu investimentos recentes e está apta a fornecer para a planta de Itirapina. As duas unidades serão complementares", afirma a empresa.
O grupo admite, contudo, que o cenário atual "é desafiador para a indústria, em especial a automobilística, que realiza planos e investimentos com visão de longo prazo." Até agosto o grupo vendeu 47,4 mil veículos, 44,6% a menos que em 2019.
 

Montadoras revisam projeções para o ano

Estimativa de produção, incluindo ônibus, é de 1,92 milhão de unidades

Estimativa de produção, incluindo ônibus, é de 1,92 milhão de unidades


/MARCOPOLO/DIVULGAÇÃO/JC
A Anfavea (associação das montadoras) revisou as previsões de produção e vendas em 2020. O tombo nos emplacamentos, antes calculado em 40% na comparação com 2019, agora é estimado em 31%. Na produção, a expectativa de retração passou de 45% para 35%. Pelo cálculo, 1,92 milhões de carros de passeio, comerciais leves, ônibus e caminhões devem ser montados neste ano.
Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea afirma que a entidade optou pela cautela. Ele lembra que, apesar da melhora atual, o otimismo do início do ano havia se convertido em um momento dramático no segundo trimestre.
"Apesar da revisão, ainda assim é uma queda substancial, havia um planejamento inicial de se produzir 3,16 milhões de veículos em 2020. Entendemos que será uma recuperação longa, como acontece na esfera histórica da indústria automobilística", diz Moraes.
Apesar de a mudança no prognóstico mostrar que a recuperação tem sido melhor que a esperada, a sobreposição de crises nossa últimos seis anos, as diferenças regionais e a relação fria com o governo abalam um setor cuja cadeia envolve 1 milhão de trabalhadores.
De acordo com os dados divulgados pela Anfavea (associação das montadoras), foram produzidos 220,2 mil veículos em setembro na soma de carros de passeio, comerciais leves, ônibus e caminhões. Há alta de 4,4% em relação a agosto. Em comparação a setembro de 2019, o último mês registra queda de 11% na fabricação. No acumulado do ano, a retração chega a 41,1%.
As exportações cresceram 8,5% entre agosto e setembro. No último mês, 36,6 mil veículos foram enviados para o exterior -18 mil unidades desembarcaram na Argentina. O presidente da Anfavea diz que a alta se deve à regularização da produção e à retomada dos mercados da América Latina, embora todos registrem perdas superiores à 30% nas vendas de automóveis na comparação entre 2020 e 2019.
No acumulado deste ano, a queda nas exportações em 2020 é de 38,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Em julho, a Anfavea havia previsto que o segmento cairia 53% na comparação com 2019. Agora acredita que essa redução será de 34%. As vendas seguem em recuperação, com alta 13,3% entre agosto e setembro. Foram emplacados 207,7 mil veículos no último mês.
A comparação entre os dois últimos trimestres mostra que o pior da pandemia ficou para trás no setor automotivo. Foram vendidos 250,7 mil veículos entre abril e junho, número que salta para 565,5 mil de julho a setembro. Foi um crescimento de 125,5%.
Entretanto, a comparação entre os terceiros trimestres de 2019 e de 2019 revela queda de 21,6%.
A média diária de vendas ficou em 9.900 unidades em setembro, número considerado muito bom pela Anfavea diante do cenário. São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais representam 52,8% desse volume. Moraes afirma que as empresas têm ajustado sua produção à demanda, o que explica a estabilidade dos estoques. Há carros suficientes para atender a 20 dias de vendas, número abaixo da média pré-pandemia (por volta de 30 dias).
"Os estoques ficaram muito altos, chegaram a quase quatro meses, as montadoras tiveram que fazer um ajuste e estão se adaptando. A questão do capital de giro têm sido um grande problema para a indústria", diz o presidente da Anfavea. A readequação se reflete nos postos de trabalho.  As empresas evitam falar nos cortes que têm sido feitos, mas, pressionadas pela alta dos custos de produção devido à disparada do dólar, já não escondem mais suas insatisfações - inclusive entre elas, como ocorre agora.
O Senado aprovou, no dia 6 de outubro, a Medida Provisória 987, que prorroga até 2025 os benefícios tributários concedidos a fabricantes instaladas no Centro-Oeste. A medida vai para sanção presidencial. A região agora se equipara ao Nordeste em incentivos fiscais para o setor, num ciclo de incentivos que começou no fim da década de 1990. As prorrogações têm revoltado representantes das marcas que concentram suas atividades industriais no Sul e no Sudeste.
Roberto Braun, diretor de relações governamentais da Toyota, diz que a extensão das isenções de impostos desestimula investimentos em outros estados. A montadora japonesa tem três fábricas no Brasil, todas no estado de São Paulo. Braun afirma que a soma das isenções de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) podem resultar em uma redução de 20% nos custos de produção.
A grupo FCA é um dos beneficiados pelo regime tributário atual. A empresa produz em Goiana (PE) a picape Fiat Toro e os utilitários esportivo Compass e Renegade, ambos da Jeep. "O regime automotivo do Nordeste é um programa concebido para promover o desenvolvimento regional, pois trata-se de uma região distante dos grandes centros consumidores e também dos centros industriais onde se produzem componentes", diz Tania Silvestri, diretora da marca Jeep para a América Latina.
Segundo a executiva, o modelo atual de incentivos fiscais ajuda a aumentar a competitividade para as companhias instaladas na região. "A FCA investe para atrair novas empresas e aumentar a cadeia de fornecedores no Nordeste, ajudando a promover o desenvolvimento de toda a indústria automotiva".