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Transportes

- Publicada em 18 de Agosto de 2020 às 03:00

Ônibus intermunicipais sofrem crise com a pandemia

Mesmo com queda de clientes, companhias de transporte precisam manter linhas ativas e aumentaram custos com higienização; recuperação do segmento deve ser difícil

Mesmo com queda de clientes, companhias de transporte precisam manter linhas ativas e aumentaram custos com higienização; recuperação do segmento deve ser difícil


/MARCO QUINTANA/arquivo/JC
O movimento nos ônibus intermunicipais tem caído desde que o novo coronavírus chegou ao Estado do Rio Grande do Sul. De acordo com o presidente da Associação Rio-Grandense de Transporte Intermunicipal (RTI) e diretor-presidente da Ouro e Prata, Hugo Eugênio Fleck, entre março e julho deste ano, houve, em média, uma redução de 78,7% no número de passageiros quando comparada ao mesmo período de 2019. Somente no mês de abril, essa queda chegou a 85%.
O movimento nos ônibus intermunicipais tem caído desde que o novo coronavírus chegou ao Estado do Rio Grande do Sul. De acordo com o presidente da Associação Rio-Grandense de Transporte Intermunicipal (RTI) e diretor-presidente da Ouro e Prata, Hugo Eugênio Fleck, entre março e julho deste ano, houve, em média, uma redução de 78,7% no número de passageiros quando comparada ao mesmo período de 2019. Somente no mês de abril, essa queda chegou a 85%.
Devido à necessidade de isolamento social gerada na pandemia, houve uma diminuição no fluxo de pessoas circulando entre cidades, prejudicando as empresas de transporte rodoviário, que registraram perdas consideráveis na sua receita. Segundo Fleck, essa redução seguiu a proporção dos passageiros, ficando na média de 80% entre março e julho em relação ao mesmo período do ano passado. Ele ressalta, ainda, que os custos continuam. Mesmo com poucos ou sem passageiros, as companhias são obrigadas a atender todas as localidades do Estado. "É um transporte socialmente responsável, que não escolhe dia, horário, nem tem garantia de lotação para fazer a viagem", diz.
Para o diretor da Caxiense, Nelson Ribeiro, a situação é difícil de se recuperar. Ele afirma que os custos também aumentaram devido à utilização de produtos que não eram usados anteriormente para esterilizar os ônibus e se proteger da doença, como máscaras e álcool em gel.
Além disso, há a limitação de poltronas para a venda, que também acaba afetando o faturamento. Nas regiões em que a bandeira é amarela e laranja, é permitido operar com 75% dos assentos, só podendo sentar lado a lado os passageiros que moram na mesma residência. Já nas regiões em que a bandeira é vermelha ou preta, essa porcentagem cai para 50%, estando disponíveis somente os assentos da janela. "Para o mês de julho, nós fizemos uma previsão de faturar 30% do que nós faturamos em julho do ano passado e faturamos 25%. Isso vem desde março", conta Ribeiro.
Hoje, a frota dos ônibus intermunicipais no Estado está em torno de 2,6 mil, com apenas um terço dela circulando. A Caxiense, por exemplo, costumava operar com 120 transportes. Agora, no entanto, está operando com cerca de 25% dessa capacidade. No início do ano, a empresa ainda estava programada para renovar entre 25 e 30 dos seus veículos, mas teve que suspender as operações devido à pandemia. "Estamos aguardando pra ver se isso muda. Precisamos renovar a frota. Não é ampliação, é renovação", afirma o diretor da companhia.
Esta é outra questão enfrentada pelas empresas. Como a renovação dos transportes é constante, haviam pedidos de novos ônibus às indústrias. A saída, portanto, foi negociar. Inicialmente, postergando as encomendas e, posteriormente, quando era possível, cancelando. "Sempre digo que ônibus não se encontra na prateleira, nem se compra à vista. Ou seja, tem que negociar o financiamento, os prazos de entrega e a necessidade, o que pesa enormemente nas empresas, pois além de parar o que se conseguiu, não se tem horizonte para saber quando se retomam essas negociações" diz Fleck.
Mais do que uma expectativa, há uma torcida do setor para que a vida retome a normalidade. Em se tratando de viagens, o presidente da RTI afirma que as empresas têm adotado procedimentos e feito investimentos para dar toda segurança aos passageiros na esperança de que eles voltem a viajar.

Rodoviárias perdem passageiros e preveem recuperação lenta das receitas

No terminal de Porto Alegre, redução média nos embarques diários foi de 85%

No terminal de Porto Alegre, redução média nos embarques diários foi de 85%


/JOYCE ROCHA/JC
A diminuição no fluxo de passageiros também teve impacto nas rodoviárias. Em março, as estações tiveram uma redução de 39,47% no movimento de passageiros em relação ao mesmo período de 2019. Essa queda se acentuou ao longo dos meses, segundo o presidente do Sindicato de Agências e Estações Rodoviárias no Estado do Rio Grande do Sul (Saerrgs), Nelson Noll, com variações nas regiões em função das bandeiras. Em abril, foi de 82,04%. Em maio, de 79,61%. Em junho, de 71,08%. E em julho, de 67,40%. Junto a ela, caiu, proporcionalmente, a receita.
Noll salienta a diminuição na queda entre os meses de junho e julho, que demonstra uma pequena recuperação de 3,68%. Tendo este número como base de crescimento, ele afirma que será necessário mais de um ano para chegar próximo aos números de 2019 neste ritmo. "Nós estávamos inicialmente trabalhando com o mês de dezembro para que a coisa chegasse lá, mas estamos vendo que essa recuperação está muito lenta".
Os custos das rodoviárias permanecem basicamente os mesmos. Dentre eles, estão as taxas de fiscalização, outorga e concessão. De acordo com o presidente do Saerrgs, a única prorrogada foi a de outorga, cobrada pelo Departamento Autônomo de Estradas e Rodagem (Daer-RS), o que gerou um maior alívio nas contas. As outras duas dependem de um processo mais complicado, com o executivo mandando outra lei para a Assembleia com o pedido de postergação.
Frente ao baixo faturamento, o fechamento de rodoviárias foi outro problema no Rio Grande do Sul. Noll afirma que, no ano passado, eram 210 estações no Estado. Hoje, esse número não chega a 200. "Tivemos casos em que a prefeitura determinou o fechamento da rodoviária, então é difícil", conta.
Na Rodoviária de Porto Alegre, desde a metade de março até o início de agosto, a queda no movimento de passageiros persiste com uma média de 85% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o diretor de operações, Giovanni Luigi. Em alguns dias, esse percentual chegou a 90%.
 

Queda no movimento das empresas prejudica colaboradores

Cerca de um terço dos trabalhadores do setor foi dispensado ou teve suspensão de contrato

Cerca de um terço dos trabalhadores do setor foi dispensado ou teve suspensão de contrato


JOYCE ROCHA/JC
Devido ao baixo fluxo de passageiros, à redução de linhas, ao aumento do número de ônibus parados e ao mantimento dos custos, não foram só as empresas e as rodoviárias as afetadas, mas os seus colaboradores também. Esta é outra face das dificuldades que o setor enfrenta. Dos mais de 20 mil empregados nas companhias de ônibus intermunicipais, um terço (cerca de 6,7 mil) foi dispensado ou envolvido na MP 936, do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, que permite suspensões de contratos e reduções de até 70% dos salários e jornadas.
Segundo o presidente da RTI, a possibilidade criada pela MP foi aproveitada ao máximo. No entanto, destes mais de 6 mil colaboradores, somente cerca de 3 mil foram abarcados na medida. Ele salienta que isso se deve ao fato de que, mesmo que os ônibus só possam circular com a capacidade reduzida, a tripulação, a manutenção e o administrativo precisam ser mantidos em nível de operação normal para o número de linhas atendidas.
A Caxiense, que continua operando todas as suas linhas, mas com redução de horários, teve cerca de 10% de seus colaboradores dispensados, de acordo com o seu diretor. A empresa foi uma das que aproveitou o programa do governo. Ribeiro, porém, demonstra preocupação com a necessidade de garantir a estabilidade do trabalhador, definida pela MP. "Isso é uma coisa que nos assusta, porque se você está com uma queda de 65% ou 70% no seu negócio e tem que manter os seus custos, não tem economista que faça isso fechar".
De acordo com o presidente do Saerrgs, nas rodoviárias, o que ocorre é, também, o aproveitamento dos planos disponibilizados pelo Governo Federal. Além da MP 936, as estações de menor porte têm utilizado os benefícios do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) para pagar as suas despesas operacionais.
Noll afirma que as estações que se habilitaram no Pronampe não demitiram. Para ele, o financiamento tem sido a salvação daqueles que conseguiram. Ele demonstra preocupação, no entanto, com o pós-crédito. "Até lá o que vai acontecer? Será que o movimento vai melhorar?". Em rodoviárias que não se encaixam nos requisito do programa, o presidente do Saerrgs diz que ocorreram algumas demissões. Não foi o caso, porém, em Porto Alegre, de acordo com Luigi.
Para o motorista de ônibus Rodrigo Furlani, esta situação não tem sido fácil. Em Passo Fundo, onde trabalha, são 86 motoristas empregados, mas, segundo Furlani, somente 11 estão trabalhando regularmente, enquanto 3 estão na mesma situação que a sua. Os demais foram todos afastados.
"Nós estamos como se fossemos a reserva. Se faltar alguém dos que estão trabalhando normalmente, nós somos chamados", conta. Ele relata, ainda, que os motoristas cumprem todos os horários nas rodoviárias, seguindo o itinerário normal mesmo que não tenha passageiros, o que já ocorreu em suas viagens.