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Profissão

- Publicada em 05 de Outubro de 2021 às 14:37

Tecnologia transforma perícia contábil

Quem atua no exterior mas é contratado no Brasil segue as normas do País

Quem atua no exterior mas é contratado no Brasil segue as normas do País


JANNOON028/FREEPIK.COM/DIVULGAÇÃO/JC
Ao passar do tempo, a tecnologia foi moldando a rotina de trabalho de diversos contadores. Os processos físicos, em papel, ainda existem, mas em uma escala muito menor se comparada há alguns anos. E uma das áreas atingidas por esse avanço tecnológico foi a perícia contábil. Seja judicial ou extrajudicial, os peritos contábeis que trabalham com o segmento tiveram que se adaptar às novas sistemáticas digitais de trabalho para continuar atuando.
Ao passar do tempo, a tecnologia foi moldando a rotina de trabalho de diversos contadores. Os processos físicos, em papel, ainda existem, mas em uma escala muito menor se comparada há alguns anos. E uma das áreas atingidas por esse avanço tecnológico foi a perícia contábil. Seja judicial ou extrajudicial, os peritos contábeis que trabalham com o segmento tiveram que se adaptar às novas sistemáticas digitais de trabalho para continuar atuando.
Nessa perspectiva, o desenvolvimento e instalação do processo eletrônico foi fundamental para mudar o formato de trabalho dos contadores, acredita o especialista em Perícias Contábeis Carlos Martins. Atuando como perito do juízo e assistente técnico das partes na Justiça Estadual, Federal e Trabalhista, Martins viu o sistema trazer uma série de vantagens e comodidades aos profissionais. "O transtorno de carregar papéis limitava a área de atuação", opina.
Além disso, a tramitação de processos judiciais ganhou mais velocidade: estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), encomendado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mostrou que menos de 25% dos processos eletrônicos duraram mais de quatro anos. Já entre os processos impressos, 50% ultrapassaram os quatro anos de duração.
Atualmente, Martins trabalha com perícias em cinco estados brasileiros de dentro do próprio escritório, em Porto Alegre. Sem a delimitação territorial, as possibilidades para trabalhar com a perícia contábil são incontáveis, avalia. "E para se aperfeiçoar, não precisa ficar limitado a professores da própria cidade", destaca o perito, que dá cursos de capacitação na área, principalmente sobre as ferramentas de trabalho existentes.
Mas os desafios que essas mudanças tecnológicas carregam também são pontos de atenção para os profissionais contábeis. Martins pontua que os sistemas entre um estado da federação e outro ainda são muito diferentes, o que pode acabar dificultando e atrasando o trabalho dos peritos. "São seis sistemas diferentes no Brasil, e eu defendo que isso deva ser uniformizado. Mas o que os contadores devem fazer é criar habilidades para interagir com eles", diz.
Apesar disso, ele destaca como exemplo positivo o PJe-Calc, sistema unificado de cálculos trabalhistas da Justiça do Trabalho. "É o primeiro programa que uniformiza e interage com o processo eletrônico. Quando o perito apresenta uma conta, ela interage no sistema, e não precisa alguém digitar tudo de novo, à mão", explica. Segundo o perito, essa automatização traz facilidade e agilidade para a tramitação, evitando retrabalhos e reduzindo a margem de erro humano.
Para além da digitalização de processos e programas, outro destaque da área da perícia contábil é a inteligência artificial. Martins ressalta que contadores e "robôs" deverão trabalhar juntos daqui para frente.
"A parte de apresentar contas vai ser solucionado pela IA. Mas interpretar esses cálculos será sempre o perito a fazer", afirma o perito, acreditando que a força humana de trabalho, principalmente no ramo, será sempre essencial para os processos.

'O mercado contábil está valorizando muito o trabalho pericial'

Novas ferramentas aumentaram o trabalho mas não a rentabilidade, afirma Rosana Lavies Spellmeier

Novas ferramentas aumentaram o trabalho mas não a rentabilidade, afirma Rosana Lavies Spellmeier


ANTONIO PAZ/ARQUIVO/JC
Já na terceira geração de contadores especialistas em perícia contábil, o escritório Lavies, de Porto Alegre, é um dos negócios que sentiram os impactos da pandemia de Covid-19 e do avanço tecnológico trazido pelo período. Segundo a contadora e perita Rosana Lavies Spellmeier, da segunda geração de profissionais, a possibilidade de realizar o trabalho de forma remota e a agilidade nos processos facilitaram a rotina. Porém, na esteira de mudanças, desafios como segurança no armazenamento das informações e valorização de honorários também demonstraram ser passos a serem trilhados no caminho.
Nesta entrevista, Rosana explica como está sendo o dia a dia do negócio e comenta sobre os possíveis rumos da profissão frente às tecnologias cada vez mais aceleradas.
JCContabilidade - Como foi e está sendo esse período de pandemia para o escritório?
Rosana Lavies Spellmeier - Muitas coisas vieram pra nós em função da diminuição de custos porque vetamos o deslocamento para muitos trabalhos com a questão de evitar o presencial. Utilizamos de forma ampla as reuniões online, o que nos facilitou a rapidez, conseguir reunir várias pessoas na mesma plataforma. Temos viajado muito pouco, tanto pro interior quanto para fora do Estado. As reuniões online foram uma parte muito boa para esse período de reclusão, que nos fez inclusive repensar novos rumos pro trabalho que vão fazer com que a gente evite esse deslocamento. Atualmente, 90% do processo é eletrônico. Então, temos todas as informações dos processos no computador. Claro que tem trabalho de campo, nas empresas, e às vezes precisa do deslocamento. Mas mesmo a documentação contábil vem pelo email e temos acesso a essas informações.
JC - A tecnologia acelerou muitas áreas da Contabilidade. Como está sendo para a perícia?
Rosana - Para nós, trouxe muitas vantagens em relação ao armazenamento das informações e da forma como chegam rapidamente para nós, através de ferramentas confiáveis. Quando temos qualquer receio em relação à confiabilidade, precisamos fazer checagem dessas informações e pedir que os documentos venham com assinatura, pedir uma credibilidade mais formal da parte das empresas. Por mais que sejamos perito do juiz ou assistente técnico das partes, nós não temos que validar a informação. Ela tem que ser válida para que seja usada por nós, e para isso, tem que ter essa credibilidade.
JC - Quais foram os desafios e dificuldades que vieram na esteira dessas mudanças?
Rosana - Um dos impactos foi a questão dos honorários. Como a documentação vem com um custo menor até o usuário que vai usá-la, e com ferramentas que facilitam o nosso trabalho, barateou. A inteligência do cálculo já vem no programa, que é o conteúdo da informação (por exemplo, os indexadores de correção monetária). A gente, hoje, não precisa buscar em bancos de dados os indexadores que são usados nos cálculos periciais tanto na justiça estadual, federal ou na justiça do trabalho, porque vêm nos programas e a gente pode, no máximo, checar se estão corretos.Evidentemente, é fantástico ter essas ferramentas. Mas isso barateou o trabalho porque, às vezes, fazíamos um trabalho por dia. E com esse tipo de apoio, temos uma quantidade muito maior de trabalho. Mas passou a ser menos valorizado em termos de honorários. Hoje, nosso cliente é o advogado, o juiz ou a parte que contratou. E as pessoas já sabem que temos essas ferramentas, então, não adianta cobrar um alto honorário, porque não vai levar. Esse é um lado que nos faz repensar a questão de honorários mas, ao mesmo tempo, conseguimos fazer um volume muito maior de trabalho do que se fazia quando não tínhamos tantas ferramentas assim. O próprio Tribunal de Justiça possui programas de cálculo que os usuários podem acessar e elaborar seus cálculos. Precisa ter algum conhecimento para alimentar o programa, é claro, mas aquele que se dedica e que realmente faz isso reiteradamente, com volume, faz o que tenha familiaridade, e o trabalho passa a ser feito com mais facilidade.
JC - E como o perito contador vai poder driblar essa desvalorização dos honorários?
Rosana - A maneira de driblar isso é trabalhar mais. Realmente fazer um volume maior de trabalho. Quando não tínhamos essas ferramentas, fazíamos um trabalho por dia, hoje, temos condições de fazer 10, 15 por dia. Mas aí, por exemplo, fazíamos um e ganhávamos mil reais. Hoje, fazemos 15 e continuamos ganhando os mesmos mil reais. Para conseguir manter a remuneração que vinha auferindo e cobrir os custos, precisa trabalhar mais. E o custo para realizar esse trabalho aumentou, porque precisamos fazer uma manutenção desses sistemas todos, para que eles possam estar sempre alinhados à tecnologia mais atual. A tecnologia existe para ser utilizada, mas o equipamento tem que ser moderno. Às vezes, o computador não aguenta a quantidade de dados que armazena, então temos um custo maior. Mas é um trabalho que está dando um bom retorno em função de que o mercado está valorizando muito o trabalho pericial. Quem atua nesta área, está sendo especialista em perícias e, sendo assim, se preocupa muito com a qualificação, estudo e treinamento.
JC - Quais os cuidados que os peritos devem tomar com os processos digitais?
Rosana - A nossa preocupação maior, hoje, é que tenhamos no escritório uma forma de armazenar os dados com segurança e que não sejam afetados. Isso pode ser feito através de um HD externo, de um computador que armazene esses dados com mais de um controle de segurança, salvando informações (às vezes, confidenciais) em mais de um equipamento no escritório. Estamos sendo muito demandados em relação a isso, e até precisamos assinar termos de confidencialidade para alguns clientes, atestando que algumas informações vão ficar armazenadas e preservadas internamente.
JC - Como a inteligência artificial afeta e vai afetar ainda mais a Contabilidade?
Rosana - De uma forma definitiva porque, hoje, não se vive sem esse tipo de programa. Estamos dentro de uma engrenagem que não caminha mais para trás. Só vamos conseguir enxergar o dia de amanhã do nosso escritório se estivermos realmente aparelhados para isso. Eu não saberia dizer o que vem amanhã para nós. A oferta de sistemas é muito grande. Mas em muitos dos casos, quem nos procura não conhece muito bem a questão do escritório de perícia, porque não é um trabalho igual ao escritório de contabilidade, que tem um dia a dia semelhante para todo cliente que atende. O trabalho de perícia é mais artesanal. Então, não se consegue implementar, dentro de um escritório de perícia, sistemas de cálculos que são usados em escritórios de contabilidade. O que mais utilizamos são os programas de Excel, elaborados por profissionais especialistas de acordo com a nossa necessidade interna.
JC - Quais são os atributos que o perito contábil do futuro precisa ter?
Rosana - Ele precisa estudar muito, se dedicar integralmente à atividade pericial e ter uma boa relação com os colegas porque aquele que está iniciando não tem condições de saber tudo o que o mercado está oferecendo. Então, precisa participar de cursos, treinamentos. São diversas ofertas hoje em dia, tanto gratuitas quanto pagas. Só a graduação não é suficiente. Precisa estudar permanentemente e se dedicar exclusivamente.