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MERCADO DE TRABALHO

- Publicada em 09 de Março de 2021 às 13:10

Mulheres querem a Contabilidade mais plural

 Recon trabalhar para começar a encher as mesas dos eventos de contabilidade de mulheres negras

Recon trabalhar para começar a encher as mesas dos eventos de contabilidade de mulheres negras


Feijão & Lentilha/Recon/Divulgação/JC
Você, ao participar de um evento de profissionais de Contabilidade, já fez o "exercício do pescoço"? Trata-se de uma dinâmica bem simples para quem quer se perceber no mundo, dar-se conta de seus privilégios (ou da falta deles) e notar se a tão falada equidade racial e de gênero chegou aos locais que frequenta. Você vira a cabeça para um lado, depois para o outro, e se questiona se há alguma pessoa do gênero feminino e negra fazendo o mesmo trabalho que você.
Você, ao participar de um evento de profissionais de Contabilidade, já fez o "exercício do pescoço"? Trata-se de uma dinâmica bem simples para quem quer se perceber no mundo, dar-se conta de seus privilégios (ou da falta deles) e notar se a tão falada equidade racial e de gênero chegou aos locais que frequenta. Você vira a cabeça para um lado, depois para o outro, e se questiona se há alguma pessoa do gênero feminino e negra fazendo o mesmo trabalho que você.
No Brasil inteiro, as mulheres são quase metade (43%) dos profissionais contábeis. No Rio Grande do Sul, esse percentual está bem acima da média nacional: mais de 48% da categoria é formada por contadoras e técnicas em Contabilidade, o que equivale a 18.218 pessoas.
Atualmente, nove Conselhos Regionais de Contabilidade são presididos por mulheres, conforme dados do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Um deles é o gaúcho (CRCRS) que, desde 2018, está sob o comando de Ana Tércia Lopes Rodrigues.
Mas elas querem mais. Um grupo de mulheres negras fez exercício de olhar em volta inúmeras vezes em suas trajetórias profissionais e percebeu que sempre havia poucas pessoas com quem realmente se identificavam. Então, resolveram se unir para ficar mais fortes e lutar por mais gente como elas no ambiente corporativo.
A ideia de criar a Rede de Contadoras Negras (Recon) surgiu no segundo semestre de 2019 durante a última Convenção de Contabilidade, promovida pelo CRCRS, em Bento Gonçalves, na serra gaúcha. O lançamento oficial foi em novembro de 2020 - Mês da Consciência Negra. Em março, Mês da Mulher, o coletivo comemora quatro meses em atividade. 
A contadora e uma das embaixadoras da Recon, Fabiana dos Santos, conta que ela e as colegas viram, durante o evento, que, apesar de haver em torno de 2 mil pessoas, o número de contadoras negras era insuficiente para encher uma mesa. "Começamos a procurar as interantes, ainda na convenção, e assim nasceu a Recon. Nosso propósito é de pertencimento. Este sentimento é compartilhado por todas", explica Fabiana.
Ana Tércia, também embaixadora da Recon, lembra que estar em grupo é um privilégio que não se aplica às mulheres negras no ambiente acadêmico e corporativo das Ciências Contábeis.
"Da rede, nasce a ousadia de sonhar, planejar e vivenciar juntas o desejo de algo que seja transformador", sustenta Ana no prefácio do eBook de apresentação do coletivo de contadoras publicado no final do ano passado.
Fabiana complementa que todas as mais de 40 mulheres que integram a rede vêm de diferentes lugares do Brasil e são empreendedoras, funcionárias publicas, professoras, militares, profissionais da iniciativa privada.
Em comum, está o fato de serem "desbravadoras" e de terem vivências bastante semelhantes - todas relacionadas ao seu fenótipo. Mas, acima de tudo, são "mulheres que querem se enxergar e querem ser enxergadas como lideranças", salienta Fabiana.
Por isso, além da troca de experiências, o grupo serve para compartilhar eventos, divulgar os talentos individuais e aprimorar as potencialidades de cada uma. Para se juntar à Recon, é preciso preencher um cadastro disponível no sitecontadorasnegras.com.br.

Impacto mais intenso da pandemia sobre as profissionais preocupa

Andrea diz que empresas podem contribuir com a promoção da equidade por meio de ações e de políticas internas

Andrea diz que empresas podem contribuir com a promoção da equidade por meio de ações e de políticas internas


/PWC BRASIL/DIVULGAÇÃO/JC
Uma das principais consequências, e também causas, do impacto econômico gerado pela Covid-19 é a regressão de muito do progresso realizado em termos de equidade de gênero. Segundo a pesquisa anual Women in Work Index, realizada com os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), até o fim de 2021, o mundo pode voltar a ter os mesmos níveis de 2017 para os índices da presença de mulheres no mercado de trabalho.
A pandemia impactou a vida de todas as pessoas, e no ambiente corporativo não poderia ter sido diferente. "Deixar de trabalhar no escritório e passar a fazer home office não foi uma tarefa fácil para muitas pessoas, sobretudo porque muitas mulheres sentiram-se sobrecarregadas ao ter que se dividir entre o trabalho, o cuidado com os filhos e as tarefas domésticas. Assumir todas essas funções ao mesmo tempo que se dedicavam ao trabalho pode ter impedido que o home office fosse mais produtivo para as mulheres", reflete a sócia da PwC Brasil e líder da Prática de Gênero, Andrea França.
Além de ter que criar novas formas para lidar com a rotina, muitas foram demitidas. E quanto mais essa situação de crise sanitária perdura, maiores são as chances de que uma parcela grande de profissionais do gênero feminino saia definitivamente do mercado de trabalho.
As organizações podem contribuir com a promoção da equidade. As políticas internas podem contribuir através de ações, medidas e programas que sérios voltados à promoção da equidade, estimulando o maior engajamento das lideranças e dos profissionais acerca da pauta de gênero, além de reforçar que não são admitidos qualquer tipo de discriminação e assédio.
"Tendo em vista que o mundo corporativo e a sociedade são patriarcais e a maioria das posições de tomada de decisão são ocupadas por homens, acredito que eles possuem um papel muito importante para a superação das desigualdades e, também, para a aceleração das mudanças que tanto almejamos", salienta Andrea. Os homens devem ser aliados apoiando profissionais mulheres, dando feedbacks, oportunizando espaços para agirem de forma protagonista. "Eles devem agir como exemplos do propósito e valores da firma acerca de diversidade e inclusão para com seus liderados e clientes", indica a sócia da PwC Brasil.
A busca por equidade racial também deve ser transversal no mercado de trabalho. Para Andrea, "é inquestionável que promover mudanças efetivas em relação à inclusão e diversidade, além de ser o certo a fazer, é imperativo para a sociedade e, consequentemente, para os negócios". "Vivemos em tempos em que qualquer postura diferente dessa não é mais tolerada. Tanto pelos clientes quanto pelo público - consumidor final", determina a liderança na área.
 

Movimento defende inclusão racial nas áreas tributária e contábil

Diante da falta de representatividade de pessoas negras em cargos de liderança nas áreas tributária e contábil, profissionais do setor criaram o movimento BTM (Black Tax Matters). O nome da iniciativa, que tem como objetivo inserir pessoas negras nessas áreas e apoiar o desenvolvimento de lideranças, é uma alusão ao movimento Black Lives Matter (Vidas negras importam, em tradução livre).
O grupo conta com 10 profissionais das empresas Latam, Ambev, iFood, Grupo Heineken, Mercury Machine, Stripe, RVC Advocacia e Consultoria Tributária e Empresarial e Camil Alimentos."A representatividade não é uma questão só de pessoas pretas. É uma questão de todos, é monetária. Se não existem pessoas negras na carreira tributária, juízes, diretores de empresas, formadores de opinião e normas jurídicas, você não tem medidas que são feitas para as pessoas pretas", disse o analista tributário da Ambev, Henrique Rodrigues, em live.
Para o analista tributário sênior do iFood, Luiz Henrique Dutra, o objetivo da iniciativa é mostrar que há profissionais negros qualificados para atuar no mercado, especialmente em cargos de chefia."O nosso sonho é que a gente não precise ouvir mais que aquela vaga em posição de liderança não pode ser ocupada por uma pessoa negra porque é muito difícil [recrutar] ou porque não tem [profissional]", afirma.
Segundo Beatriz Soares, analista de contencioso tributário no Grupo Heineken, o movimento existe porque há racismo nas instituições. "O BTM, em tese, não deveria existir. Ele existe porque o racismo estrutural existe e a gente tenta combater isso com uma ação afirmativa. O racismo estrutural não está só no mercado tributário. Ele está na sociedade de um modo geral, está em todas as instituições", diz Beatriz.
O grupo apoia a promoção de vagas exclusivas para negros e trabalha pela inclusão dessas pessoas dando suporte em recrutamentos. O coordenador de planejamento tributário da Camil Alimentos, Herman Fonseca, defende a adaptação de processos seletivos, com a retirada de exigências como a fluência em inglês para cargos em que o profissional não utiliza o idioma para desempenhar sua função. "Muitas empresas usam o inglês como filtro. Se ele [o profissional] não atua em uma área global, vale a pena olhar o perfil", afirma Fonseca.
Luciana Reis, sócia na RVC Advocacia e consultoria tributária, também defende que as áreas de recrutamento tenham um olhar voltado à diversidade e a exigências que, muitas vezes, são excludentes para pessoas negras. "Ter esse olhar no recrutamento e seleção é muito importante. Você usa o inglês no dia a dia?".
O trabalho do Black Tax Matters consiste em quatro pilares: geração de conteúdo informativo para promover a educação, mentoria voluntária oferecida por profissionais com experiência nos mercados, parcerias para seleção de parceiros do movimento e recrutamento.
Dutra, do iFood, conta que a desigualdade racial é percebida já nos bancos universitários, antes da chegada às empresas. "Eu era de uma sala com mais ou menos 62 pessoas e de negros havia eu e mais dois. Temos também as posições dentro dos órgãos públicos, predominantemente técnicas, que acabam ficando com pessoas brancas", afirma. "Tive colega na faculdade que quando ia despachar com juízes, e não era em ambiente tributário, precisava prender o cabelo black power".
Beatriz, da Heineken, também defende a inclusão de pessoas negras em cargos de liderança para combater estereótipos raciais. "A gente sabe que um juiz, muito provavelmente, vai ser uma pessoa branca, e um segurança, muito provavelmente, uma pessoa negra. Só vi juiz branco, procurador branco", afirma.
 

CRCRS cria Comissão de Estudos Plural e Inclusivo com foco na diversidade

Cristiane defende espaços de liderança e de poder para todos os gêneros

Cristiane defende espaços de liderança e de poder para todos os gêneros


ACERVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
O Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul é um dos pioneiros na criação de uma Comissão de Estudos Plural e Inclusivo, cujo objetivo é promover a diversidade em espaços de liderança e de poder. A única iniciativa semelhante a esta no Brasil é o Grupo de Trabalho da Diversidade e da Inclusão, do CRC de São Paulo, criada em junho de 2020.
A coordenadora do grupo, Cristiane Souza, afirma que levar temas como estes para dentro dos conselhos profissionais é refletir sobre o que está em pauta na sociedade "Entender a relevância da inclusão no mundo corporativo, significa entender a importância do respeito e da valorização das diferenças", diz Cristiane.
Com a experiência de quem já sentiu na pele o peso do preconceito dentro da profissão,
ela acredita que a classe contábil pode percorrer um novo caminho. Cristiane diz que a categoria "pode contribuir de forma inovadora e relevante para o desenvolvimento da cultura da diversidade no ambiente corporativo, uma vez que, ocupa um espaço importante no processo de tomada de decisão das organizações".