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Gestão

- Publicada em 14 de Julho de 2020 às 12:02

Mercado contábil muda perfil para expandir

Redes, franquias e fusões já fazem parte das estratégias para consolidar a união de escritórios de Contabilidade também como forma de enfrentar a crise econômica

Redes, franquias e fusões já fazem parte das estratégias para consolidar a união de escritórios de Contabilidade também como forma de enfrentar a crise econômica


/PRESSFOTO VIA FREEPIK.COM/DIVULGAÇÃO/JC
A consolidação do mercado de contabilidade, a partir da expansão de escritórios do setor - seja por meio de redes, franquias ou fusões de negócios - é um processo já em curso no mundo inteiro. Projeções da Roit Consultoria e Contabilidade indicam que o número de escritórios contábeis deve ser reduzido à metade nos próximos 10 anos. Para especialistas, este é um caminho sem volta e pode vir acompanhado de benefícios tanto para os empresários contábeis quanto para os clientes.
A consolidação do mercado de contabilidade, a partir da expansão de escritórios do setor - seja por meio de redes, franquias ou fusões de negócios - é um processo já em curso no mundo inteiro. Projeções da Roit Consultoria e Contabilidade indicam que o número de escritórios contábeis deve ser reduzido à metade nos próximos 10 anos. Para especialistas, este é um caminho sem volta e pode vir acompanhado de benefícios tanto para os empresários contábeis quanto para os clientes.
O fenômeno já ocorre há alguns anos em outros segmentos, aponta o sócio-fundador e CEO da Roit, Lucas Ribeiro. Nos últimos tempos assistimos, por exemplo, ao crescimento de grandes players no varejo, como no setor de drogarias e farmácias.
As fusões e aquisições (M&A) e parcerias chegam inclusive à indústria e têm sido uma alternativa ainda mais relevante com o acirramento da crise econômica. Não foi de surpreender, portanto, que o segmento contábil também começasse a ser impactado por essa tendência.
A adoção desses novos modelos de negócio é uma saída principalmente para os pequenos escritórios de contabilidade - maioria esmagadora no segmento. Impossibilitados de fazer altos investimentos em marketing e em inovação tecnológica os pequenos negócios são os mais pressionados pelas grandes empresas de seus setores.
Conforme estudo da Roit sobre o Mercado Contábil no Brasil, dos cerca de 70 mil escritórios contábeis existentes no Brasil de acordo com o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) a maior parte (59%) faz parte do Simples Nacional - ou seja, são micro e pequenas empresas (MPEs) e outros 26% são MEIs (microempreendedores individuais). Os demais 15% são optantes do Lucro Presumido ou Real.
A fusão pode ajudar empresas com diferentes expertise a se unirem e compartilharem desde os seus sistemas tecnológicos até sua estrutura física e, ainda, expandir o raio de abrangência do negócio. Já tornar-se um franqueado reduz os gastos (econômicos e de tempo) com softwares e manutenção de sistemas informatizados. Esses são apenas alguns exemplos dados por Ribeiro para demonstrar os benefícios dos formatos de negócios que estão despontando.
Ribeiro diz que essas alternativas surgem principalmente quando os escritórios enfrentam pelo menos um dos três principais desafios impostos atualmente às empresas contábeis. As principais dificuldades são para garantir a sucessão das empresas (normalmente familiares), conseguir investir em tecnologias de inteligência artificial e de robotização e enfrentar um mercado cada vez mais competitivo, principalmente com a entrada das empresas de contabilidade digital.
O diretor-geral do Grupo Infoco, Geraldo Luis Batista de Oliveira, comenta que é muito comum entre organizações mais antigas que o negócio esteja centrado na figura do dono, o responsável por manter a empresa em pé. "O escritório cresce em volta de uma pessoa e muitos não conseguem se libertar disso. Mas chega um momento em que é preciso se profissionalizar para continuar existindo", diz Oliveira, salientando que a saída muitas vezes está na união com outros profissionais que estão ao seu redor.

Momento exige capacidade de adaptação dos negócios contábeis

Para Ribeiro, criação de imposto único exigirá esforço ainda maior das empresas de contabilidade

Para Ribeiro, criação de imposto único exigirá esforço ainda maior das empresas de contabilidade


Roit/Divulgação/JC
O cenário cada vez mais competitivo exige uma capacidade de adaptação enorme dos contadores. Se a contabilidade digital hoje já é uma realidade, a Roit Consultoria e Contabilidade prevê que em um futuro próximo existe mais uma mudança em potencial a ser observada com cuidado pelos escritórios contábeis. Trata-se da entrada de outros tipos de empresas no páreo. 
A única saída para se manter competitivo, diz o CEO Lucas Ribeiro, é não parar de se reinventar. A Roit se autodenomina uma Accountech - terminologia bastante nova mas que começa a se disseminar pelo Brasil. Trata-se de uma junção da palavra "accounting", em inglês, contabilidade, e "tech" de tecologia. A palavra ainda nova no vocabulário está relacionada a outra já bem conhecida: Fintech, usada para diferenciar os bancos e outros serviços econômicos e financeiros exclusivamente digitais dos tradicionais.
Aliás, é bem provável que até os bancos e ERPs possam entrar no ramo da contabilidade, avisa o estudo sobre mercado contábil feito pela Roit. Isso deve ocorrer graças às ferramentas tecnológicas disponíveis e o uso de inteligência artificial. Uma das principais alternativas será a utilização da tecnologia para lançamentos, conferência e validações, deixando apenas o último estágio para os profissionais contábeis qualificados.
Acompanhar todas essas mudanças não parece nada fácil para quem ainda precisa dar conta de cumprir uma série de obrigações, cuidar de prazos e responder às necessidades dos clientes. Por isso, a estimativa de Ribeiro é exatamente a de que boa parte dos escritórios já existentes se integrem a redes ou em franquias ou, ainda, que sejam objeto de fusões e aquisições. Entre aqueles que estão surgindo, diz o especialista, são muitos os que já estão optando por entrar no mercado em modelos de negócios com essas características.
Há, inclusive, a perspectiva de ingresso de empresas norte-americanas, europeias e chinesas no mercado brasileiro, quando e se, houver mudança da regulamentação do setor. "Hoje, o CFC (Conselho Federal de Contabilidade), que regula a atividade, ainda exige que a maioria do capital social das empresas tenham formação contábil. Mas essa mudança será inevitável", prevê Ribeiro.
Outras alterações ainda mais próximas de acontecerem são as decorrentes da reforma tributária. Para Ribeiro, a criação do imposto único (IBS) deverá exigir um esforço maior do que o já realizada hoje pelas empresas de contabilidade. Quem não tiver estrutura e capital para investir terá de migrar para um modelo de fusão, aquisição ou franquia, pontua Ribeiro.

O QUE DEVE MUDAR NO CENÁRIO DOS PRÓXIMOS 5 ANOS

Crescimento da contabilidade on-line
É esperado, e bastante provável, que as contabilidades on-line cresçam, diante de um maior número de novas empresas e de empresários com cultura de web e self-service. Além disso, existe a busca por custos menores e a melhora significativa na oferta tecnológica e de experiências dos usuários nas plataformas on-line.
Contabilidade com soluções on-line
Com diferentes propostas de Reforma Tributária (PEC 45/2019, PEC 110/2019 e PEC 7/2020), o modelo de tributação unificada e focado no IBS (imposto sobre bens e serviços, uma espécie de IVA) está cada vez mais próximo e provável. As empresas precisarão lançar informações de tudo que adquirirem, para correta e rápida contabilização dos seus créditos de IBS, tornando absurdamente necessária a integração financeira, contábil e fiscal.
Escritórios tradicionais perdem público- A fatia dos escritórios tradicionais torna-se pequena na pirâmide, tanto pela diminuição das empresas no Simples Nacional quanto a falta de capacidade de processamento de Lucro Real, do novo modelo tributário brasileiro e, claro, de tecnologias de automatização.
Crescimento expressivo de grandes contabilidades
Com crescimento de empresas no Lucro Real as contabilidades que já investem em tecnologia, ferramentas com integrações e inteligência artificial ganham mais força para atender essa crescente demanda, com alta escalabilidade, nível de assertividade altíssimo e baixo custo operacional. Aqui, há duas crenças nossas que são fortes: a de concentração, em que muitas empresas contábeis passarão por fusões ou aquisições, reduzindo expressivamente a concorrência, potencializando preços melhores e operações mais lucrativas. E, ainda, forte migração de contabilidades internas para externas, com movimento de terceirização contábil, fiscal e financeira.

Processo de fusão expandiu horizontes da BWA

Adolfo aponta a projeção como benefício

Adolfo aponta a projeção como benefício


/BWA Global/Divulgação/JC
A BWA Global é fruto de uma fusão recente entre quatro empresas de contabilidade. Depois de três anos de maturação da ideia e negociação, em 2020 surgiu a empresa resultante dessa união.
Um dos sócios da empresa, André Adolfo, conta que a partir da fusão a companhia ganhou em projeção "Antes éramos em 100 colaboradores atendendo 600 clientes. Agora estamos estabelecidos em três estados - Rio Grande do Norte (em Natal e Mossoró), Pernambuco (Recife) e Rio de Janeiro (duas na capital), temos 300 colaboradores e 2 mil clientes", comenta. Além disso, "a receita triplicou", comemora.
Para garantir que nenhuma filial ou sócio iriam se sobressair, os empreendedores optaram por deixar para trás a marca e adotar, inclusive, um novo nome para que ficasse nítido o início de uma outra fase.
Não é um processo fácil, Adolfo admite. Mas a própria experiência com contratos fez com que os sócios já previssem uma série de desafios que podem surgir na trajetória da fusão e os resultados têm valido a pena. "Naturalmente, cada um está responsável pela área que tem mais expertise e gosta mais. Isso libera o profissional de ter que cuidar daquelas coisas nas quais nem era tão bom", comenta.
 

Franquia foi a aposta de Infoco e Vers

Os grupos Infoco e Vers seguiram o caminho da expansão por meio de franquias. Em comum entre eles, parece estar a capacidade de prever tendências na área contábil e antever ferramentas tecnológicas que farão parte do dia a dia desse serviço. O CEO da Vers Contabilidade, Tiago Fernandes Guimarães, diz que o modelo traz vantagens tanto para o grupo como para os escritórios franqueados.
"Gera-se margem para todo mundo, e se garante a qualidade do serviço prestado", frisou. A Vers trabalha com a proporção "30-70": 30% da receita com o escritório franqueado, 70% para a franqueadora, que assume toda a operacionalização. Segundo ele, essa porcentagem é maior do que comumente praticado pelas empresas contábeis.
O grupo tem hoje 80 unidades espalhadas pelo País. São mais de 1,2 mil clientes. Foram três anos de preparação para a adoção desse modelo de crescimento, assinalou Tiago Guimarães. "Estamos fazendo adaptações necessárias. É um desafio, um processo transformador, mas cada dia que passa vai ficando mais simples."
Por sua vez, o Grupo Infoco, com sede em Belo Horizonte, conta com 41 unidades no País, expansão iniciada em 2017, via franquias. O Infoco se especializou em certificação digital, passo que ajudou a atrair o interesse de possíveis franqueados, assinalou o CEO do grupo, Geraldo Luis Batista de Oliveira. "É um mercado que enche os olhos, porque tem muitas possibilidades. Criamos serviços, levamos mais produtos aos contadores; mais oportunidades de negócios, de monetizações", afirmou Oliveira.