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JC Contabilidade

- Publicada em 29 de Abril de 2019 às 16:34

Empresas gaúchas precisam focar em governança

Leonardo Wengrover é coordenador do Capítulo Rio Grande do Sul do Instituto Brasileiro de Governança e conselheiro do IBGC

Leonardo Wengrover é coordenador do Capítulo Rio Grande do Sul do Instituto Brasileiro de Governança e conselheiro do IBGC


IBGC/DIVULGAÇÃO/JC
Roberta Mello
Implementar boas práticas de governança corporativa dentro das organizações ainda é uma dificuldade para a maior parte das empresas brasileiras. Quando o assunto são as empresas familiares e gaúchas, a cultura organizacional em geral está menos aberta a diagnosticar os valores e implantar mudanças significativas nos negócios.
Implementar boas práticas de governança corporativa dentro das organizações ainda é uma dificuldade para a maior parte das empresas brasileiras. Quando o assunto são as empresas familiares e gaúchas, a cultura organizacional em geral está menos aberta a diagnosticar os valores e implantar mudanças significativas nos negócios.
Por isso, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) tem se voltado cada vez mais a esse nicho. "Acompanhando famílias nos processos e preservação do patrimônio familiar, percebi que em muitos casos agregaria mais valor ajudando-as a não destruírem o que levou décadas para ser construído devido a disputas entre seus membros", diz o coordenador do Capítulo Rio Grande do Sul do IBGC, Leonardo Wengrover.
Recentemente eleito conselheiro de administração do instituto, ele destaca, ainda, que o Estado sempre foi uma referência em governança corporativa. "São vários os gaúchos que contribuíram e contribuem pela causa e para o IBGC ao longo dos 23 anos do instituto. Nos últimos dois anos, o capítulo gaúcho do IBGC, cresceu 40% em números de associados, totalizando 150 pessoas físicas e onze pessoas jurídicas. Fomos responsáveis por quase 40% de todo o público presente em eventos realizados pelo IBGC, em 2018, excluindo São Paulo", diz Wengrover.
"A ideia de transformar princípios em valores e objetivos, alinhando o interesse de todas as partes interessadas, com o único propósito de gerar valor para a organização e, consequentemente, para a cadeia de stakeholders, é um propósito muito forte. É uma forma muito eficiente de criarmos valor para toda sociedade, para todos nós", explica Wengrover. O IBGC é uma organização sem fins lucrativos que contribui para o desempenho saudável das organizações por meio da geração e disseminação de conhecimento das melhores práticas de governança corporativa.
JC Contabilidade - Como você avalia o cenário da governança corporativa no Rio Grande do Sul? E no Brasil?
Leonardo Wengrover - Há muito por fazer. Segundo uma consultoria internacional teremos, nos próximos cinco anos, a maior transferência de patrimônio entre gerações em todo mundo. No Brasil e no Rio Grande do Sul, muitas empresas familiares atravessam um dos momentos mais críticos de sua história: a passagem do bastão da segunda para a terceira geração, onde a taxa de mortalidade atinge 90% das empresas. Famílias crescem mais do que o patrimônio familiar e, nessa hora, processos e estruturas de governança ajudam a enfrentar os desafios. Desde o ano passado, o IBGC disponibiliza, de forma gratuita, uma importante ferramenta para as empresas de capital fechado, que permite que as empresas façam uma autoavaliação de seu grau de aderência às práticas de governança corporativa, além de poder comparar a empresa entre pares, fomentando a reflexão e o aprimoramento constante. No âmbito das empresas listadas também temos uma agenda de melhorias - não necessariamente em relação a requerimentos, já exigidos pela legislação e pela autorregulação, mas ao cumprimento dos princípios que atendem à essência das regras, que são a transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa.
Contabilidade - Percebe que, em geral, as empresas gaúchas ainda são um pouco mais conservadoras e fechadas para a criação de novas ferramentas de controle organizacional?
Wengrover - Acredito que as empresas gaúchas são mais conservadoras na gestão e também mais fechadas quando falamos em ferramentas de controle. Isso as impede de crescer mais agressivamente. É papel primordial de qualquer conselho de administração trabalhar na agenda do planejamento estratégico. Muitos conselhos ainda consomem grande parte do seu tempo em pautas focadas em controle e monitoramento. O mundo se move a uma velocidade muito rápida e é atribuição do conselheiro posicionar a organização diante de novos desafios. É como se o conselho pilotasse com faróis altos enquanto a diretoria executiva, de faróis baixos. Pelo menos 70% do tempo investido por um conselho de administração deve mirar nas questões estratégicas e não nas de controle.
Contabilidade - Um assunto ainda pouco discutido é a governança em organizações não empresariais - como cooperativas e organizações do terceiro setor. Esse nicho será foco do IBGC no futuro ou já é agora?
Wengrover - Conceitualmente, governança aplica-se a qualquer tipo de organização, independentemente do seu porte ou natureza jurídica, pois seu objetivo é alinhar stakeholders e gerar valor no longo prazo. Aqui no Estado temos excelentes exemplos de cooperativas atentas às boas práticas de governança corporativa. Atualmente, o Capítulo Rio Grande do Sul do IBGC está desenvolvendo um novo fórum focado no Terceiro Setor. Queremos ajudar organizações sem fins lucrativos a melhorarem suas práticas de governança e cumprir nossa missão de construir uma sociedade melhor.
Contabilidade - As micro e pequenas ainda são mais resistentes ou não tem tanto conhecimento sobre como implementar processos de governança corporativa e seus benefícios à saúde dos negócios? O que você diria a um micro e pequeno empresário para convencê-lo da importância de parar e pensar em aspectos de monitoramento, compliance, otimização do valor do negócio?
Wengrover - Como disse anteriormente, governança se aplica a qualquer tipo de organização, independentemente do seu porte ou natureza jurídica. Governança é, acima de tudo, transformar princípios em recomendações claras e objetivas. Os princípios básicos da governança são transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa. Qualquer organização pode segui-los. Com o tempo, tais conceitos terão que ser acompanhados de estruturas que ajudem no processo, mas é um crescimento natural, que se dará juntamente com o crescimento orgânico da organização.
Contabilidade - Como implementar isso em organizações de pequeno e médio porte?
Wengrover - O IBGC oferece gratuitamente, para download, todas suas publicações, entre elas o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, principal referência no tema. Essas publicações podem ser encontradas no Portal do Conhecimento. Nós também produzimos publicações que auxiliam públicos específicos. Recentemente, lançamos Governança Corporativa para Startups & Scale-ups, um guia que mostra como a governança corporativa pode estar presente desde o nascimento das empresas e colaborar para a redução da taxa de mortalidade dos novos empreendimentos. Também temos um caderno sobre governança corporativa para empresas de capital fechado, outro focado nas empresas familiares. Para as empresas que iniciaram sua trajetória no universo da governança corporativa, é importante enfatizar que toda organização deve ter relatórios de controle financeiro e gerenciais fidedignos às práticas reais, bem como uma comunicação eficiente e transparente. Os sócios devem estabelecer regras claras para si e para os familiares, e processos que busquem mitigar potenciais conflitos de interesses. Tais regras devem estar previstas -estatuto social, acordo de sócios, protocolo familiar, regimentos internos, Código de Conduta. É desejável a criação de um conselho consultivo ou de administração e, sempre que possível, com membros independentes, ou seja, sem compromissos conflitantes.
Contabilidade - Como aspectos da governança podem contribuir, ainda, para uma gestão pública mais eficaz? Os órgãos públicos estão investindo nisso?
Wengrover - O IBGC atua com foco nas corporações, o que não impede que atuemos junto ao poder público para reforçar as práticas de governança delas exigidas. Em 2018, o instituto atuou no Congresso Nacional acompanhando as mudanças nas regras para as agências reguladoras e na governança das empresas estatais - conseguiu impedir a evolução de um projeto de lei que poderia retirar da Lei das Estatais uma de suas maiores evoluções, que é a proibição da indicação de pessoas ligadas a partidos políticos para cargos de administração em empresas públicas e sociedades de economia mista.
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