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Reportagem especial

- Publicada em 22 de Maio de 2022 às 15:00

Santa Maria pulsa com o retorno de 40 mil estudantes às atividades presenciais

Segundo a prefeitura, incluindo todos os níveis de ensino, cidade tem quase 100 mil alunos

Segundo a prefeitura, incluindo todos os níveis de ensino, cidade tem quase 100 mil alunos


alex caceres/divulgação/jc
Em Santa Maria, maior cidade da região central do Rio Grande do Sul, os espaços vazios se multiplicaram durante os dois anos de enfrentamento à pandemia. Para além de todas as formas de restrições exigidas pelo contexto sanitário, e que, como em quase todos os lugares, se estenderam de deslocamentos urbanos ao funcionamento do comércio local, a cidade se viu, abruptamente, diante de um êxodo temporário: milhares de estudantes do ensino superior - um dos segmentos sociais mais relevantes na demografia do município - acabaram deixando Santa Maria com a ausência de atividades presenciais nas universidades locais. Apenas hoje, 25 meses depois da deflagração da pandemia, a cidade volta a se enxergar por completo.
Em Santa Maria, maior cidade da região central do Rio Grande do Sul, os espaços vazios se multiplicaram durante os dois anos de enfrentamento à pandemia. Para além de todas as formas de restrições exigidas pelo contexto sanitário, e que, como em quase todos os lugares, se estenderam de deslocamentos urbanos ao funcionamento do comércio local, a cidade se viu, abruptamente, diante de um êxodo temporário: milhares de estudantes do ensino superior - um dos segmentos sociais mais relevantes na demografia do município - acabaram deixando Santa Maria com a ausência de atividades presenciais nas universidades locais. Apenas hoje, 25 meses depois da deflagração da pandemia, a cidade volta a se enxergar por completo.
Segundo estimativas da prefeitura municipal, Santa Maria conta com aproximadamente 100 mil alunos distribuídos entre a educação básica, as turmas de ensino médio, os diversos cursos e colégios técnicos e as universidades. Destes, mais de 40 mil estão matriculados nas nove instituições de ensino superior que atuam na cidade - um número mais do que expressivo se observado junto à população total do município, estimada em 285 mil habitantes pelo IBGE para o ano de 2021. Nem todos os estudantes, no entanto, aparecem nesta contabilidade, visto que muitos não têm domicílio fixo na cidade em que passam boa parte do ano.

A tradição universitária de Santa Maria remonta a dezembro de 1960, mês em que o professor José Mariano da Rocha Filho - figura-chave para se compreender a história da educação na cidade - funda a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a primeira universidade federal do interior do Brasil. Hoje, segundo os dados oficiais da instituição, a UFSM conta com 28.282 alunos distribuídos em 271 cursos, 2.015 docentes e 2.578 técnicos administrativos em educação. O número de discentes cresce ainda mais se somado aos estudantes matriculados em instituições como a Universidade Franciscana (UFN), a Ulbra e a Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma), entre outras cinco de ensino superior.
Os números citados acima antecipam sem dificuldade o singular perfil social e econômico do lugar: para além dos alunos, funcionários e professores diretamente integrados aos trânsitos do ensino, a vida universitária ressoa em diferentes segmentos da economia local. Para a secretária de Desenvolvimento Econômico de Santa Maria, Ticiana Fontana, "Santa Maria tem uma economia circulante que é movimentada em função do volume de estudantes e que beneficia as diferentes matrizes da economia local". A presença e o movimento dos 40 mil estudantes de ensino superior ocupam os veículos do transporte público, entregam parte importante do faturamento dos setores gastronômico e hoteleiro, tornam possível a contínua expansão do setor de eventos e garantem, entre outras ramificações mais ou menos diretas, a ocupação de relevante fração do setor imobiliário.
Em 2022, os espaços que seguiam vazios - com eventuais alívios para os deslocamentos e o consumo, quando a pandemia do coronavírus arrefecia - passaram a se preencher, pouco a pouco, e em pleno verão. Em fevereiro, a UFN - a segunda maior instituição de ensino superior da cidade - decretou o retorno completo às aulas em formato inteiramente presencial.
Outras instituições seguiram o mesmo caminho nos primeiros meses do ano. E, no dia 11 de abril, foi a vez da UFSM, com o seu contingente de mais de 30 mil pessoas, reabrir as portas do campus. Santa Maria, afinal, percebia o retorno à cidade do enorme segmento estudantil que havia se ausentado por um tempo dolorosamente longo.

Setores econômicos refletem expansão das atividades estudantis

Retomada das aulas presenciais pode ser percebido também no comércio

Retomada das aulas presenciais pode ser percebido também no comércio


Daniel De Carli /divulgação/jc
Com o retorno, o poder público e parte das entidades ligadas ao comércio, aos serviços e ao ramo imobiliário falam abertamente em retomada econômica, cenário possibilitado pela estabilidade dos números - agora baixos - da pandemia na cidade. "Considero que já estamos num período pós-pandêmico e isso é perceptível para quem circula pela cidade. Monitoramos setores como o do turismo, por exemplo, e temos dados mensais que apontam para a retomada: o faturamento de 2021, na área, foi o dobro do registrado em 2020; e, para janeiro deste ano, o faturamento foi outra vez quase o dobro de janeiro do ano passado", afirma Ticiana Fontana, que diz perceber um "retorno total" dos estudantes tanto nas escolas quanto nas universidades, movimento que impacta nos setores mencionados.
Outras das particularidades do perfil econômico de Santa Maria é a força vigente do comércio de rua, distribuído pelas principais vias do Centro da cidade. Duramente afetado pela extensão da pandemia, que impôs restrições óbvias à venda presencial, o setor tenta se reafirmar em 2022 sem as contenções mais drásticas impostas pela circulação do coronavírus e com o retorno das atividades presenciais no âmbito local. "O comércio de rua ainda é muito importante em Santa Maria. Uma pesquisa desenvolvida no final do ano passado, por exemplo, mostrou que, para o último Natal, 70% dos entrevistados disseram que comprariam os seus presentes no comércio local, no comércio de rua do Centro da cidade, superando os shoppings e as compras por outros meios", conta Ticiana.
O comércio terminou o ano de 2021 com saldo positivo na geração de empregos, com 8.628 admissões e 7.948 desligamentos, segundo os números oficiais; ainda assim, houve forte oscilação e meses que apresentaram mais perdas. Para 2022, em meio ao otimismo que marca os processos de retomada, espera-se uma curva mais sustentada em direção a novas vagas - e não apenas no setor, mas nas contratações de modo geral. Os três primeiros meses contabilizados do ano corrente mostram números mais alentadores do que os do mesmo período do ano passado, ainda que sem diferenças gritantes para o comércio, a indústria e o serviços.
Para a prefeitura, as peculiaridades do perfil econômico da cidade fazem com que as crises e os momentos de recuperação sejam sentidos de modo mais lento do que em cidades de tamanho e proporção semelhantes. "Santa Maria tem um cenário singular: cerca de 70% do PIB local está vinculado ao comércio e aos serviços, mas a renda pública [que gira em torno do funcionalismo público em suas diferentes esferas], aqui, é muito expressiva. Quando há uma grande crise, demoramos mais para notar, e o mesmo quando ocorre uma recuperação rápida", analisa Fontana, que aponta os setores do comércio e de serviços como os que mais sentiram a ausência dos estudantes no cotidiano da cidade.
Situada em um cenário de crise econômica agravada pela pandemia e a instabilidade nacional, Santa Maria, conta a representante da prefeitura, buscou também saídas próprias para a recuperação econômica do município. "Diminuímos a burocracia e os custos para o empreendedor, prorrogamos licenças, pagamentos de taxas e impostos locais e lançamos pacotes municipais como é o caso do 'Juro Zero', direcionado a microempreendedores formais e informais. Tivemos, durante os últimos dois anos, um diálogo constante com as entidades para tentar aliar as questões econômica e de saúde", afirma a secretária.

Mercado livreiro ainda sofre efeitos da pandemia

Télcio Brezolin destaca aumento na busca por publicações técnicas

Télcio Brezolin destaca aumento na busca por publicações técnicas


Camila Nascimento/divulgação/jc
Mesmo que os sinais de recuperação econômica sejam observados por toda a cadeia produtiva em Santa Maria, nem sempre essa constatação é acompanhada de uma projeção otimista para o futuro. Fundada em 1978 e ligada ao ensino superior da cidade desde os seus começos, a livraria Cesma - Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria - enfrenta, desde o início da pandemia, o momento mais difícil da casa. Situada em um edifício próprio no Centro da cidade, a Cesma é referência há décadas por seu acervo acadêmico, a oferta de livros técnicos e os lançamentos em literatura.
"Na pandemia, vivemos o pior momento da Cesma, uma dificuldade que só se compara ao período inicial, no final dos anos 1970, quando enfrentávamos a desconfiança de quem evitava negociar com uma cooperativa e recém começávamos o trabalho. Depois disso, o momento mais difícil é o de agora, e que se mantém complicado hoje", explica Télcio Brezolin, gerente da Cooperativa. Para ele, se as complicações impostas pela emergência sanitária repercutiram em áreas ditas essenciais, como as de transporte e alimentação, as livrarias sofreram ainda mais. "Houve os que precisaram fechar as portas e os que puderam seguir em funcionamento, só que com dívidas", lamenta Brezolin.
Os estudantes universitários e pesquisadores ligados às universidades formam, justamente, o maior público da Cesma - e parte importante do segmento sequer se encontrava dentro dos limites da cidade no período mais difícil da pandemia. "A Cooperativa é a livraria mais diretamente ligada ao ensino de Santa Maria, de modo que sente ainda mais o baque", explica Télcio, que afirma ter percebido um aumento nas vendas de material técnico e específico para cursos de ensino superior nos primeiros meses do ano, mas que o mesmo impulso ainda não é observado na venda de livros. Santa Maria abrigou, entre 29 de abril e 14 de maio, a 49ª Feira do Livro da cidade, com quarenta livreiros-expositores na Praça Saldanha Marinho; o evento, acredita-se, além de ter promovido diversas atividades de incentivo à leitura, pode ter aliviado as contas do setor.
 

Imobiliárias celebram aquecimento nos aluguéis

Volta do alunos é essencial para impulsionar o mercado imobiliário local

Volta do alunos é essencial para impulsionar o mercado imobiliário local


Ariéli Ziegler/PMSM/divulgação/jc
Antônio Odil Gomes de Castro esteve à frente do Secovi - Sindicato da Habitação do Centro Gaúcho - durante os anos duros da pandemia. Então presidente da entidade, ele reconhece que, à época, o setor imobiliário se deparou com um problema que parecia duplicado: além das exigências da crise e da pandemia, era preciso enfrentar a partida - mesmo que em tese temporária - dos milhares de estudantes que são, também, inquilinos, e que viajaram em meados de 2020 para suas cidades de origem, sem previsão de retorno a Santa Maria.
"O mercado do aluguel sofreu, em Santa Maria, um impacto provavelmente maior do que em outras cidades, incluindo aí também a parcela dos aluguéis comerciais. Houve muitas devoluções de imóveis. Sempre tivemos em Santa Maria uma capacidade instalada expressiva e que vinha crescendo, com investidores comprando e construindo imóveis com fins de locação, mas por dois anos esse cenário ficou muito impactado pela pandemia", conta Gomes de Castro, hoje vice-presidente da direção recém-empossada do Secovi.
Perguntado sobre a fatia da ocupação de imóveis de aluguel pelo público diretamente ligado ao ensino superior da cidade, Gomes de Castro afirma que os estudantes universitários correspondem, conforme estimativas do setor, a cerca de um terço do total de apartamentos alugados. "A verdade é que não temos dados tão precisos sobre o público, falta uma pesquisa aprofundada sobre isso e que ainda deve ser feita, mas acreditamos que 30% dos aluguéis, e uma porcentagem um pouco maior que essa para os imóveis compactos, corresponda aos estudantes de ensino superior e aos que estão matriculados em cursos de preparação para entrar na universidade", descreve o representante do Sindicato.
O anúncio do retorno da presencialidade das aulas, levado adiante no começo do ano pelas principais instituições de Santa Maria, foi um dos acontecimentos-chave para a retomada do setor imobiliário, opina Antônio Odil. "Já se nota a recuperação desde janeiro, quando se anunciou oficialmente a volta às aulas. Houve até preocupação de estudantes que chegavam pela primeira vez na cidade de que faltassem imóveis para locação. Estávamos ansiosos para que esse movimento [de retorno] acontecesse, porque de fato marca a retomada do setor. Os estudantes promovem a cadeia produtiva e de consumo na cidade, cadeia que envolve o comércio, o lazer e o setor de restaurantes", conta, ao mesmo tempo que constata que a oferta esteve longe de se esgotar e que, em maio, ainda há um importante catálogo de imóveis à disposição na cidade.
Cálculos do setor imobiliário dão conta de que, em número absolutos, o número de imóveis locados no atual momento de 2022 já se aproxima do patamar registrado antes da pandemia, em fins de 2019 ou começos de 2020. No entanto, a taxa de ocupação não seria a mesma. Ele explica que a oferta de imóveis para locação seguiu crescendo e que, portanto, mais casas e apartamentos teriam de estar ocupados para que se alcançasse a taxa observada antes da suspensão das atividades presenciais na cidade.
 

O retorno e a rotina de quem permaneceu no campus

Natural de São Borja, Bruna Martins passou quase toda a pandemia na UFSM

Natural de São Borja, Bruna Martins passou quase toda a pandemia na UFSM


arquivo pessoal/divulgação/jc
Mesmo em tempos ditos normais, o campus da UFSM, situado no bairro Camobi, entrega ao visitante a ideia de vastidão. Há longas trilhas e caminhos arborizados, os edifícios são espaçados e, por vezes, entre uma sala de aula e outra é preciso percorrer uma considerável distância a pé. Ao fundo do campus, atrás do prédio que abriga a Reitoria, uma pista de caminhada serpenteia um bonito e amplo bosque. São muitas, também, as áreas inteiramente abertas, com gramados que servem como refúgio para os estudantes que descansam e conversam durante os intervalos e momentos livres. Só que, por mais de dois anos, os vastos espaços do campus estiveram quase que completamente vazios: apenas algumas dezenas de alunos que não voltaram às cidades de origem e optaram por permanecer na Casa do Estudante Universitário (CEU) seguiram vivendo no lugar.
Esse foi o caso de Bruna Martins, estudante do bacharelado em História, que manteve a sua moradia na Casa do Estudante durante quase todo o período de atividades suspensas e aulas remotas por conta da pandemia. "Em 2020, quando começou a pandemia, fiquei dois meses fora de Santa Maria, mas logo depois precisei retornar para a Casa do Estudante", conta Bruna, natural de São Borja. Segundo ela, os meses mais complicados foram os primeiros, tanto pela atmosfera de incerteza que a condição sanitária impunha aos moradores como que pela necessidade de recorrer a auxílios que permitiriam a sobrevivência econômica na CEU. De início, relata Bruna Martins, os estudantes que seguiram vivendo no campus dependiam apenas dos repasses do auxílio emergencial criado pelo governo federal. Depois, a UFSM passou a destinar outras formas de ajuda aos alunos que eram também moradores, com iniciativas que permitiam também o acesso às aulas virtuais.
"Foi um período difícil, houve o choque da primeira semana de aulas com a universidade cheia de gente e de pessoas novas, e dias depois estava tudo vazio e não sabíamos o que ia acontecer", conta a universitária. "Nós, os moradores, fazíamos o possível para sair um pouco, tomando os cuidados, mas não era fácil se deslocar e circular. Eram dias monótonos, mas conseguimos seguir adiante", relata Bruna, que ainda em 2020 adotou uma gata para lhe fazer companhia durante o período de isolamento quase total. Ela relata que, por muito tempo, a rotina se estruturou em um campus praticamente deserto, ocupado apenas por profissionais da vigilância, trabalhadores que realizavam a limpeza cotidiana e pelos que trabalhavam e visitavam o Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).
Após atravessar a exigente experiência de habitar um espaço tão vasto e tão vazio, Bruna afirma que os dias de abril e maio de 2022, com o retorno de milhares de estudantes à universidade, provocam antes que nada alívio: "como vivi o período totalmente vazio do campus, quando estávamos só os moradores e os cachorros, não dá para esconder o alívio e a alegria de ver as pessoas novamente ocupando a universidade. São dias totalmente diferentes do que vimos em 2020 e 2021, e existe a alegria de se reencontrar com colegas e professores e saber que eles estão bem, com saúde". A estudante de História também relata que, com a volta às aulas presenciais, retornam também à rotina, pouco a pouco, os deslocamentos por Santa Maria, antes limitados a trajetos essenciais e familiares.

Evasão de alunos devido ao período sem aulas preocupa a UFSM

Iniciativa será voltada para adultos que completarem 18 anos e não tiverem moradia para ficar na cidade

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Daniel De Carli /divulgação/CIDADES
Quando, em fevereiro deste ano, a UFSM anunciou a data de 11 de abril como a do retorno da presencialidade em toda a instituição, o reitor Luciano Schuch declarou que "desde a suspensão das atividades presenciais, há dois anos, nós vínhamos discutindo o retorno presencial, porque essa é a essência da nossa instituição. Não somos uma universidade que trabalha de forma remota. Por mais que tenhamos um núcleo muito forte de ensino à distância, a UFSM é uma universidade presencial". Na ocasião, a Reitoria também anunciou a obrigatoriedade da apresentação da carteira de vacinação contra a Covid-19 como requisito para frequentar o campus e a série de protocolos sanitários que orientariam a retomada das atividades. O anúncio marcou o fim de um período de constante experimentação e de práticas que se atualizavam e se alteravam, inevitavelmente, a partir do que exigia o contexto sanitário.
Jerônimo Tybusch, pró-reitor de Graduação da Universidade Federal de Santa Maria, afirmou à reportagem que "no dia 17 de março de 2020 a universidade já havia lançado a primeira instrução normativa a respeito [da pandemia]". "Começamos as atividades, nas disciplinas em que isso era possível, à distância ou de modo remoto. Ainda em 2020, alguns cursos da área da Saúde já tinham suas atividades práticas na presencialidade e, em 2021, vivemos um pico da pandemia no início do ano. Depois disso, voltaram as atividades práticas em caráter presencial, com a parte teórica permanecendo em formato remoto. Essas resoluções foram se modificando até que, no final de 2021, tivemos a resolução apontando para o retorno da presencialidade. Somos uma das instituições que está mais em dia com o calendário", afirma o pró-reitor, que destaca o diálogo constante com a comunidade acadêmica como um dos fatores que organizaram o processo.
Para Tybusch, é preciso afastar o discurso recorrente de que a pandemia trouxe acontecimentos positivos; para o professor e pró-reitor, o que as instituições devem apreender do período é que algumas das formas experimentadas num cenário que impunha o ensino à distância como principal ferramenta podem ser também relevantes para o futuro. "Podemos dizer que a gente cresceu no sentido do uso de ferramentas de tecnologia educacional em rede. Aquilo que era muito distante se proliferou, como as ferramentas de webconferência. Na parte administrativa das instituições, o encontro virtual representou economicidade, já que conseguimos nos reunir mais facilmente. Também há incremento pedagógico ao utilizar as novas ferramentas, algo que agora pode ser somado ao formato presencial. Há ganhos, pequenos ganhos, que não queremos perder", analisa.
Questionado sobre a situação dos alunos que, durante a pandemia, permaneceram vivendo na Casa do Estudante, no campus da UFSM, o pró-reitor afirmou que a universidade santa-mariense é reconhecida como a que destina o maior investimento em assistência estudantil, e mais especificamente para a moradia, entre as federais brasileiras. "Temos um condomínio com mais de dois mil e quinhentos inquilinos, os estudantes que são os moradores da Casa. A UFSM investiu em estrutura para hospedar o estudante [no período] e em benefícios socioeconômicos para permitir a manutenção. Durante a pandemia, destinamos recursos recebidos para abrir editais tanto para o auxílio conectividade - para os alunos terem acesso à internet - como para o auxílio equipamento - para os que não possuíam os materiais que dariam acesso às aulas remotas", relata Tybusch.
Agora, com o retorno da presencialidade, um novo desafio se faz presente para a Reitoria da UFSM, problema que ainda não conta com números precisos: trata-se da evasão dos alunos que, por motivos de todo tipo, como a vulnerabilidade econômica provocada pela pandemia, não acompanharam as atividades remotas em nenhum momento e tampouco voltaram a frequentar a instituição quando do retorno das aulas no campus. "Há um acompanhamento de todas as unidades para mapear os prováveis alunos em evasão. Durante o período pandêmico, a estratégia foi permitir que o aluno fizesse o trancamento da sua matrícula, de modo que a evasão não vai impactar agora em 2022, mas irá aparecer apenas em 2023. Então esse aluno vai aparecer no nosso sistema e vamos cuidar disso com muita atenção", informa a pró-reitoria de Graduação.
As ações de assistência estudantil e o controle da evasão dos estudantes serão duas frentes significativas para a continuidade do processo de retomada. A partir de agora, as atividades levadas adiante no âmbito universitário novamente se entrelaçam à vida de Santa Maria e ao desenvolvimento econômico local, como sempre aconteceu. Também é certo que, apesar das circunstâncias, cidade e universidade mantiveram seus laços bem firmes nos últimos e delicados anos. Durante o combate à pandemia, a UFSM foi responsável, entre outras ações direcionadas à comunidade, pela recuperação de respiradores utilizados pelos hospitais da região e pôs à disposição parte da estrutura e do pessoal dos seus cursos para conter a emergência sanitária.

*Iuri Müller é jornalista formado pela UFSM e doutor em Letras pela Pucrs. Foi repórter do jornal Sul21 e editor do site Impedimento, entre outros trabalhos.