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Com a Palavra

- Publicada em 27 de Março de 2022 às 17:08

Autossuficiência na produção de GLP não deve baixar preços

Ricardo Tonietto, presidente da AIGLP, não vê espaço para a uniformização das alíquotas do ICMS para combustíveis entre os estados

Ricardo Tonietto, presidente da AIGLP, não vê espaço para a uniformização das alíquotas do ICMS para combustíveis entre os estados


Alessandro Mendes/AIGLP/JC
Diego Nuñez
A guerra na Ucrânia não deve afetar a cadeia de abastecimento brasileira. Os preços dos combustíveis, porém, devem se manter em um patamar elevado, e o custo de importação do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) poderá aumentar caso cada vez mais países passem a optar por fornecimento dos Estados Unidos, principal fornecedor externo do Brasil, em alternativa ao gás russo. Essa é a análise de Ricardo Tonietto, presidente da Associação Ibero-americana de GLP (AIGLP). Este problema poderia ser solucionado caso a previsão de que o País se torne autossuficiente na produção de GLP até 2031 se torne realidade - algo que o dirigente observa com muita cautela. Tonietto, porém, afirma que essa possível autossuficiência não reduzirá o preço do produto ao consumidor final. Dentre as alternativas propostas nacionalmente frente à escalada de preços, ele não vê espaço para a uniformização das alíquotas do ICMS para combustíveis entre os estados.
A guerra na Ucrânia não deve afetar a cadeia de abastecimento brasileira. Os preços dos combustíveis, porém, devem se manter em um patamar elevado, e o custo de importação do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) poderá aumentar caso cada vez mais países passem a optar por fornecimento dos Estados Unidos, principal fornecedor externo do Brasil, em alternativa ao gás russo. Essa é a análise de Ricardo Tonietto, presidente da Associação Ibero-americana de GLP (AIGLP). Este problema poderia ser solucionado caso a previsão de que o País se torne autossuficiente na produção de GLP até 2031 se torne realidade - algo que o dirigente observa com muita cautela. Tonietto, porém, afirma que essa possível autossuficiência não reduzirá o preço do produto ao consumidor final. Dentre as alternativas propostas nacionalmente frente à escalada de preços, ele não vê espaço para a uniformização das alíquotas do ICMS para combustíveis entre os estados.
JC Empresas & Negócios - A guerra pode ter um impacto permanente nas estruturas de abastecimento primário de combustível no Brasil e no mundo?
Ricardo Tonietto - Acredito que permanente não. Para efeitos de Brasil, acho que é diferente da situação dos países da Europa, que são muito dependentes da Rússia. Eles, sim, estão se reorganizando em questão de suprimentos. Isso não acontece em relação ao Brasil. O País não é dependente de importações de óleo ou GLP da Rússia. Uma vez equacionada essa situação da guerra, que espero que seja o mais rápido possível, voltaremos a uma normalidade. Não vai ser permanente, para o Brasil não.
E&N - Até onde a guerra na Ucrânia pode levar a uma escalada dos preços dos derivados do petróleo?
Tonietto - A Guerra entre Rússia e Ucrânia seguramente afeta a questão de preços no mundo, não só aqui no País. O petróleo é uma commodity. O GLP é derivado do petróleo. Seguramente a guerra afeta e vai afetar o preço do GLP, o que consequentemente afeta o preço no Brasil. Isso é indiscutível. O preço do barril de petróleo já bateu os US$ 130,00. Hoje já se fala em US$ 110,00, US$ 115,00, mas já esteve em US$ 70,00. Então é alto, isso não tem jeito, e vai continuar alto.
E&N - O poder público está propondo alternativas, taxas para importação do etanol foram zeradas, alíquotas de ICMS para combustíveis podem ser fixadas. Essas ações são suficientes?
Tonietto - Diria que não são suficientes, elas ajudam, num modelo de simplificação tributária. Os governos dos estados estão discutindo qual a alíquota, qual o valor que vai ser cobrado uniformemente. Isso implica que aquele que hoje tem uma alíquota mais baixa, se for para a alíquota dele, os outros que têm uma alíquota maior vão ter que reduzir, perder receita. Acho pouco provável que isso aconteça. Com uma alíquota média, os dois lados vão perder. Com uma alíquota mais alta, pode haver até um aumento de carga tributária. Se por um lado é ruim esse movimento inicial, por outro é bom. É uma monofasia, uma simplificação da forma de pagamento de imposto. Esse é o grande ponto. Mas essa discussão ainda está havendo com governos dos estados. Existem as mais variadas posições possíveis e se ouve falar até de questionamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
E&N - Mesmo que o problema seja mundial, existem outras alternativas que possam ser praticadas no Brasil para minimizar esses impactos?
Tonietto - Algumas já estão sendo feitas. Existem projetos de lei no Congresso (Nacional) que falam sobre fundo de estabilização. Teve primeiro o Auxílio Gás, atingindo 5,5 milhões de famílias. É importante que esses benefícios que eles recebem sejam utilizados na compra do GLP. Isso hoje não acontece. É um pagamento que fica a critério do beneficiário. Ele pode comprar GLP ou qualquer outra coisa.
E&N - A previsão é de aumento da produção de GLP acima da demanda. Qual seria a posição do Brasil enquanto país com capacidade de se tornar um fornecedor deste combustível?
Tonietto - São importantes as projeções da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), que indicam autossuficiência de GLP a partir de 2031. Isso sem dúvida é importante para o Brasil na questão de abastecimento nacional. Não tem uma relação direta você ser autossuficiente com o preço final. Como falei, nas commodities se segue ou paridade internacional, ou importação/exportação, e obviamente isso tem um custo para justificar investimentos que vêm sendo feitos por aqueles que querem explorar. Então, não adianta explorar GLP aqui no Brasil, ser autossuficiente, e quando vai vender para fora o seu preço está mais caro do que se compra hoje nos Estados Unidos, por exemplo. Você não vai vender. Precisa ter um equilíbrio e os preços acabam sendo muito próximos. Para a gente é muito bom, porque ganha uma perna que custa muito, que é uma perna logística. Você tem que trazer navios dos EUA, hoje cerca de 25% do GLP é importado, então, você traz dos EUA para o Brasil. Aí vai trazer do próprio Brasil por um sistema, provavelmente, de cabotagem. Porque também, como mostrou a diretora (da EPE) Heloisa (Borges), os principais supridores serão Rio de Janeiro e Sergipe/Alagoas. Essas duas regiões precisarão ter capacidade de armazenar e distribuir esse GLP internamente. Muito mais barato do que trazer de fora, mas por logística, não por preço do produto.
E&N - Acredita que essa autossuficiência é possível?
Tonietto - Previsões são previsões. Espero que esteja certo. O mercado do GLP do Brasil já viu essas previsões não ocorrerem. Há alguns anos, se falava que o Brasil seria autossuficiente em 2018. Era outro cenário, a Petrobras era muito mais presente no mercado tanto de exploração quanto de refino. Havia um plano de construção de várias refinarias. Isso acabou não acontecendo. Hoje em dia, tem um cenário de desinvestimento de refinarias. Então, são previsões. Gostaria muito que acontecesse, mas sinceramente não sei se ocorrerão. Dependem de várias circunstâncias, principalmente estabilidade regulatória para aquele que vai investir aqui ter garantia de que o preço que vai praticar aqui seja um preço compatível pra abastecer mercado interno e para exportar, se for o caso.
E&N - Acredita que a guerra vai impulsionar a busca por fontes alternativas de energia, que não as derivadas do petróleo?
Tonietto - Isso já está acontecendo, mas não especificamente no Brasil. Países da Europa estão agindo dessa forma, procurando outras fontes de suprimento, mas no Brasil isso não afeta. Não mudou a logística de suprimento no Brasil, porque não somos dependentes da Rússia como os europeus. Eles, sim, estão procurando outras fontes de suprimento. No Brasil não vai acontecer nada.
E&N - Não afeta a competitividade do próprio produto?
Tonietto - Continuando a guerra, afeta como um todo. Terminando a guerra, não sabemos se os efeitos de um boicote internacional às operações da Rússia vão continuar, quem vai participar disso. Não vejo como isso afeta diretamente o GLP. Até porque existe GLP no mundo, especialmente nos EUA, que é quem nos abastece melhor. Se as pessoas se deslocarem, por restrições à Rússia, para comprar no mercado americano, seguramente o preço vai se manter mais alto. É a lei da oferta e da procura. Obviamente o preço no Brasil vai continuar mais alto. Não tem saída.
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