O paralelo 32 S é uma linha imaginária que corta o planeta de Leste a Oeste no 32º grau ao Sul do Equador. Medindo exatos 34.017 quilômetros de extensão, esta latitude engloba territórios como o Sul da Austrália; a Cidade do Cabo, na África do Sul; o estado de Copiapo, no Chile; e a Metade Sul do Rio Grande do Sul. Separados por milhares de quilômetros, estes locais estão unidos por uma característica comum: são zonas extremamente propícias para a fruticultura.
Beneficiadas por características semelhantes de temperatura, incidência solar e quantidade de chuva, essas regiões, como a Campanha e o Sul gaúchos, são internacionalmente reconhecidas como zonas produtoras de frutas e, especialmente, uvas e vinhos. Os dados da Emater/Ascar mostram que o Sul do Rio Grande do Sul concentra 10,6% da produção da fruticultura gaúcha, com 3,4 mil unidades produtoras que ocupam 9,4 mil hectares e que, em 2020, produziram 147 mil toneladas de frutas.
Se, por um lado, a comparação com os dados gerais do RS parece não chamar tanto a atenção, o desempenho isolado em culturas de mercados tradicionais como o pêssego, o morango e a uva para a indústria e outros emergentes, como as oliveiras, é capaz de revelar uma aptidão especial da região, que tradicionalmente dedica a maior parte de suas terras para a produção de carne e grãos.
Esse potencial já era percebido há 25 anos quando representantes da sociedade civil, de entidades de ensino e pesquisa e lideranças políticas se juntaram para criar o Programa de Desenvolvimento da Fruticultura Irrigada na Metade Sul do RS, construído sob o slogan "fruticultura na Metade Sul, um novo horizonte no Sul do RS".
O engenheiro agrônomo, viticultor e hoje deputado federal Afonso Hamm (PP) fez parte daquele grupo inicial e lembra que a ideia de constituir uma ação multissetorial, capaz de fomentar tanto a pesquisa quanto políticas públicas de incentivo à fruticultura no Sul do Estado, teve como ponto de partida os resultados de estudos científicos publicados nos Estados Unidos, ainda na década de 1970, que apontavam o paralelo 32 como uma das melhores regiões do planeta para o cultivo de frutas.
"Com o apoio fundamental da Emater, fomos buscar a referência da Embrapa Clima Temperado, que tinha muitos estudos e criamos os ensaios regionais para levar as coleções da Embrapa para estas regiões", lembra Hamm. "Também trabalhamos com a Embrapa Uva e Vinho, de Bento Gonçalves, e nos aproximamos da área empresarial com a realização de fóruns e seminários com o objetivo de despertar o interesse de empreendedores no setor", diz.
A partir destes movimentos, o grupo ganhou apoio de prefeitos e lideranças políticas regionais até finalizar o projeto que, depois de apresentado ao Ministério da Agricultura na gestão de Pratini de Moraes, serviu de base para os programas Pro Frutas e Pro Vinhos, através dos quais se criaram 30 polos de fruticultura no Brasil e uma linha específica de financiamento para a fruticultura perene no Sul gaúcho.
A construção do plano teórico e das políticas públicas que surgiram dele, todavia, só foi possível graças às características naturais da região onde os invernos intensos e os verões com dias longos e grande alternância térmica (variação de temperatura entre dias e noites) favorecem o ciclo de desenvolvimento das espécies de clima temperado ao garantir um acúmulo maior de açúcares durante o dia e menos gasto energético a noite, o que para os consumidores se traduz em frutas mais saborosas, coloridas e aromáticas.