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Reportagem especial

- Publicada em 02 de Janeiro de 2022 às 14:00

Reduzir poluição ainda é um desafio à sobrevivência do rio dos Sinos

No traçado do rio estão 1,3 milhão de habitantes espalhados em cidades como São Leopoldo

No traçado do rio estão 1,3 milhão de habitantes espalhados em cidades como São Leopoldo


digue cardoso/divulgação/jc
Cada cliente que chega ao brew pub (bar no qual a cerveja é produzida e consumida) da Königin Bier, em Sapiranga, naturalmente relaciona a cerveja produzida no Vale dos Sinos com a gastronomia alemã. E, mesmo sem perceber, aproxima-se um pouco mais da relação do Rio dos Sinos com toda a economia ao seu redor.
Cada cliente que chega ao brew pub (bar no qual a cerveja é produzida e consumida) da Königin Bier, em Sapiranga, naturalmente relaciona a cerveja produzida no Vale dos Sinos com a gastronomia alemã. E, mesmo sem perceber, aproxima-se um pouco mais da relação do Rio dos Sinos com toda a economia ao seu redor.
Cerca de 50 quilômetros distante dali, em Canoas, a Concreserv forma, com pelo menos outras quatro empresas do setor, um polo da construção civil às margens do mesmo Rio dos Sinos. De Canoas, sai 7% da produção nacional da empresa, incentivando o crescimento da região.
Em comum, os dois setores tão diferentes têm a água como fator preponderante para a produção. Mais do que isso, a necessidade de água com uma qualidade aceitável. E aí está o desafio para os próximos anos no Vale dos Sinos, região que concentra pelo menos 20% do PIB do Rio Grande do Sul e uma população superior a 1,3 milhão de habitantes entre os 32 municípios da bacia hidrográfica. Além de cidades como São Leopoldo e Novo Hamburgo, o rio chega até Canoas, a maior da região metropolitana de Porto Alegre.

Considerado o quarto rio mais poluído do Brasil, o Sinos impõe atualmente, para a economia, uma perda média de pelo menos R$ 5 a cada R$ 100 investidos. Parece pouco, mas estes 5% representam até R$ 3,1 bilhões que deixam de circular na economia local para dar conta da qualidade necessária do recurso hídrico.
O índice varia em cada setor. Para cada litro de cerveja, por exemplo, são necessários em torno de cinco litros de água. O tratamento chega a representar 20% do custo de produção. Em Campo Bom, onde são produzidas as cervejas da Königin Bier, a captação de água é subterrânea, como uma forma de reduzir os custos de produção.
Já a construção civil, setor que tem na produção de concreto a sua base, é um dos maiores consumidores de água superficial do Sinos. Somente a Concreserv, conforme o Sistema de Outorgas do Rio Grande do Sul (SIOUT-RS), encaminhou pedido de autorização para captar até 100 mil litros de água diariamente. No entanto, o uso não é direto. A empresa investe em bacias de decantação, caminhões-pipa, além da captação de água da chuva para melhorar a qualidade e reduzir a demanda de água do rio.
É que, para garantir produtividade no Vale do Sinos, todos precisaram mudar a postura nos últimos anos. O caminho escolhido por quem tem se dado bem foi ficar mais "amigo" do rio que, desde a década de 1930 já tinha, pela imprensa, relatos de contaminação pela industrialização local, e desde o século XIX foi o grande elo da ocupação populacional da região.
"O rio, além de ser fator primordial para determinar a qualidade de vida e a relação entre os entes desta região, é a força motriz para qualquer atividade econômica", aponta o economista José Antônio Ribeiro de Moura, da Feevale.

Rio necessita de R$ 6 bilhões para eliminar poluição

Bacia hidrográfica abrange 1,3 milhão de pessoas em uma das regiões com maior produção industrial do Rio Grande do Sul

Bacia hidrográfica abrange 1,3 milhão de pessoas em uma das regiões com maior produção industrial do Rio Grande do Sul


Daiton Lima/divulgação/jc
Há dois anos, um levantamento do Consórcio Público do Saneamento Básico da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Pró-Sinos) apontou a necessidade de um investimento de R$ 6 bilhões em 20 anos para que o rio tenha revertida a sua atual concentração de poluentes. Uma fatura que há pouco mais de 15 anos já se mostrou inadiável.
Foi quando, entre os dias 7 e 9 de outubro de 2006, foram recolhidas 86 toneladas de peixes mortos do Sinos, sobretudo na altura de Estância Velha e Portão, onde deságua o Arroio Portão. Constatou-se que uma das maiores tragédias ambientais do País foi resultado de uma conjunção de fatores: a baixa vazão do rio em meses quentes, o excesso de carga orgânica de esgoto sanitário e os despejos industriais sem controle. Naquele caso, três empresas foram identificadas (Utresa, PSA Papéis e o Curtume Kern Mattes) como responsáveis pela descarga de efluentes irregularmente.
Desde então, avançaram tanto os processos de tratamento de efluentes industriais quanto a fiscalização.
 

Consórcio Pró-Sinos elaborou planos de saneamento

Esgoto doméstico é o grande vilão hoje, avisa Leonardo Pascoal

Esgoto doméstico é o grande vilão hoje, avisa Leonardo Pascoal


Eduardo Baratto Leonardi/divulgação/jc
O Consórcio Pró-Sinos foi resultado direto da mobilização que sucedeu à tragédia de 2006. "Aquele episódio fez todos perceberem que, sem ações integradas e regionais, não conseguiríamos reverter a imagem de rio mais poluído do Rio Grande do Sul, que prejudica não só a qualidade de vida na região, como também é um fator que limita investimentos", aponta Leonardo Pascoal, prefeito de Esteio.
O consórcio possibilitou, por exemplo, a elaboração de planos de saneamento para 21 municípios da região, além de diversos projetos relacionados à educação ambiental no Vale do Sinos. A partir destes estudos foi possível projetar o montante necessário para despoluir o rio. Mas o olhar dos gestores está apontado para o futuro. Há um ano foi implantado o Programa de Monitoramento Espacial do Rio dos Sinos, um sistema próprio de coleta e análise da qualidade da água do rio e de seus principais afluentes, com 24 pontos em que a água é recolhida mensalmente, com um investimento de R$ 9 mil a cada mês para manutenção da plataforma.
"É claro que o monitoramento, por si só, não é a solução para os problemas do rio, mas é informação. Temos constatado, a partir das amostras, que realmente o esgoto doméstico é o grande vilão atualmente. As informações apontam o caminho necessário para despoluirmos o rio e, o que será fundamental daqui para frente, com os investimentos esperados a partir do marco do saneamento, nos permitirá sabermos em tempo real o quanto as ações impactarão no nosso ambiente", diz o presidente do Pró-Sinos.
Pensando em investimentos, Pascoal não tem dúvida de que, com os relatórios de amostras mensais nos próximos anos, os prefeitos locais terão diagnósticos científicos prontos servindo como janelas de oportunidades se abrindo para a atração de novos negócios.
"Até 2033 precisamos estar fora da lista dos piores rios do Brasil. Não é um processo imediato, e exige, além de investimentos, ações de todos os setores. Em cinco anos, quem sabe, o cenário já não esteja melhor. O que sabemos, e perseguimos, é a abertura de um canal de novos empreendimentos que estejam alinhados à qualidade de vida na nossa região. Dados de amostras do rio em despoluição contínua serão um excelente cartão de visitas ao empreendedor", avalia.
As chances de novos negócios já começam a partir de agora, sobretudo no setor da construção civil, com os novos contratos de obras para a universalização do saneamento. De acordo com a representante jurídica da Concreserv, Cíntia Romeu, o momento é de crescimento para a empresa, que fornece, por exemplo, canos em concreto para as companhias de saneamento.
Considerando somente o caso da PPP em andamento, do R$ 1 bilhão a ser investido, pelo menos R$ 400 milhões serão diretos no setor de construção relacionado a encanamentos e estações de tratamento. E após os investimentos diretos em obras de saneamento, a estimativa é de que a construção civil movimente em torno de R$ 1 bilhão em outras obras. Em todo o Brasil, o setor estima movimentar em torno de R$ 80 bilhões por ano a partir do marco do saneamento.
"Ainda não é possível projetarmos qual será o tamanho do impacto deste novo momento para as nossas operações na Região Metropolitana, mas é uma grande oportunidade não apenas de mercado para a empresa, como para contribuirmos para a melhoria da saúde da população beneficiada pelas mudanças no saneamento", diz Cíntia.
De acordo com o economista José Antônio Ribeiro de Moura, da Feevale, o investimento na despoluição do rio promove um ciclo virtuoso em toda a cadeia produtiva. Algo que já é sentido pelas empresas que optaram pela produção mais limpa nas proximidades do rio e agora poderá se alastrar a partir de investimentos em saneamento.
"Sendo bem tratada, a tendência é de que a água se torne um fator de lucratividade para a economia local. Temos no Vale do Sinos uma capacidade para ocupar uma área ainda muito propícia à economia sustentável, com atração de empresas. Então, investir em saneamento gera melhoria de renda, de educação, saúde e, por consequência, produtividade. Com mais empresas, geram-se mais impostos. O marco do saneamento pode ser um impulso a tudo isso", aponta o economista.

O primeiro bilhão com a PPP do Saneamento

A expectativa é de que a mudança da realidade do Rio dos Sinos aconteça com investimentos em saneamento. Se for considerado o montante estimado pelo Pró-Sinos em 2019, o primeiro bilhão já está em execução desde 2021 e deve ser todo investido em dez anos nos municípios de Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, Cachoeirinha e Gravataí. Eles fazem parte da PPP do Saneamento, firmada entre a Corsan e a empresa Ambiental Metrosul, que tem como meta universalizar a coleta e tratamento de esgoto para que, em 20 anos, o cenário no rio seja diferente.
Estudo encomendado pela empresa projetou que, entre 2021 e 2055, período de duração da PPP do Saneamento, a partir do investimento de R$ 1 bilhão, haverá um saldo positivo de pelo menos R$ 3,027 bilhões circulando na economia local entre redução de custos com saúde, aumento de produtividade no trabalho, valorização imobiliária, além da renda direta com as obras de saneamento entre os municípios integrantes da parceria público-privada.
Os municípios de Novo Hamburgo, São Leopoldo e Dois Irmãos, que contam com empresas próprias para o saneamento, ainda definem qual será a solução para cumprir as metas do marco do saneamento, que inclusive motivou a PPP nos vizinhos. Os demais municípios do Vale dos Sinos são atendidos pela Corsan, e a espera é pelo que se apresentará a partir da possível privatização da companhia em 2022.

Calçados Beira Rio: atividade industrial com resultado 100% reciclável

Empresa praticamente não utiliza água do rio durante o processo produtivo

Empresa praticamente não utiliza água do rio durante o processo produtivo


calçados beira rio/divulgação/jc
É impossível contar a história da produção econômica do Vale do Sinos sem falar da indústria calçadista. Hoje, mesmo com o enfraquecimento do setor nos últimos anos, são mais de 800 empresas. O rio e os seus afluentes, desde o começo do século XX, foram fatores determinantes para garantirem a produção e serem o destino das sobras desta produção.
Diante da conta a ser paga para recuperar o Rio dos Sinos e manter o prestígio dos setores produtivos locais, a Calçados Beira Rio é exemplar. De acordo com o diretor industrial, João Heinrich, o impacto da empresa no Rio dos Sinos hoje é praticamente zero.
Há cinco anos a empresa não gera resíduos sólidos, tudo é reciclado ou coprocessado. Também não utiliza água na produção nem gera efluentes líquidos industriais. O consumo de água, fornecido pelas companhias de saneamento, resume-se às necessidades dos colaboradores.
"Nós sempre tivemos uma preocupação muito grande com o meio ambiente e com a responsabilidade que temos com as comunidades em que estamos inseridos. Vêm de longo tempo as nossas pesquisas para que conseguíssemos transformar os nossos produtos de maneira mais sustentável", explica Henrich.
Segundo ele, a mudança efetiva começou há cerca de dez anos. Com a evolução do maquinário para a produção de calçados, as estufas, que historicamente consumiam muita água, agora têm outra tecnologia, que dispensa o vapor de água.
Em 2020, por exemplo, a Beira Rio produziu 6 milhões de saltos com material reciclado e outros mais de 17 milhões de pares de palmilhas também recicladas. Para a produção de palmilhas, por exemplo, o material poliuretano é triturado e transformado, ou ainda, materiais em EVA fazem em um ciclo reverso se transformam em palmilhas e solados. A mudança gera uma economia, de acordo com Heinrich, de até 20% em relação ao que era comprado de palmilhas anteriormente.
"Era um custo muito elevado e que, sabíamos, seria problemático no futuro. No mercado, a nossa atitude também faz a diferença. O consumidor tem admiração pelas empresas que têm cuidado com o meio ambiente", avalia João Heinrich.
E o cuidado, como aponta o diretor, está na cadeia completa da produção de calçados. A Beira Rio recolhe não apenas os seus resíduos para reciclar ou processar. Os materiais de todos os fornecedores também são recolhidos pela empresa. Tudo é selecionado e tem destino nas próprias fábricas.
A Beira Rio tem 10 unidades industriais. Em Novo Hamburgo e Sapiranga estão as suas fábricas diretamente relacionadas à região de abrangência do Rio dos Sinos. Dessas duas unidades saem 35% dos sapatos, sapatilhas e botas - elas empregam, ainda, cerca de 2,5 mil funcionários da região.
A estratégia, assegura o diretor industrial, tem dado excelentes resultados no balanço da Beira Rio. Entre 2020 e 2021, houve acréscimo de 15% na produção de pares de calçados e de 20% em valores.

Curtumes foram de vilões a líderes de exportação no vale

Couro acabado produzido na região tem selo de procedência

Couro acabado produzido na região tem selo de procedência


AICSUL/DIVULGAÇÃO/JC
Em 1988, em uma polêmica entrevista, Moacir Berger, atual presidente da Associação das Indústrias de Curtumes do Rio Grande do Sul (AICSul), declarou: "um dia, os curtumes devolverão águas limpas em rio poluídos". A declaração ainda não é a plena realidade, mas está bem próxima disso. Desde a tragédia de 2006, com a mortandade de peixes no Rio dos Sinos, o setor coureiro, visto desde o começo da sua história na região, ainda no século XIX, como um dos vilões da poluição do Sinos, tem vivido, de fato, uma transformação. O resultado está na posição que a região ocupa hoje no mundo do couro. Segundo a associação, 80% da produção gaúcha é destinada à exportação. E as exigências internacionais em relação ao compromisso ambiental destes produtores é rigorosa.
"Desde um acordo com o Ministério Público até as certificações nacionais e internacionais, as empresas têm passado por uma transformação nestes últimos 15 anos. É claro que muitas, sem condições de seguir este ritmo, ficaram pelo caminho. Mas a realidade é esta. Quem não tiver capacidade para cumprir as exigências, principalmente em relação à destinação dos seus efluentes líquidos e sólidos, não vai vender para mais ninguém", aponta Moacir Berger.
O couro acabado que sai dos curtumes do Vale dos Sinos - 70% da produção do Estado - por exemplo, é o único no Brasil com selo de procedência. A chamada Indicação Geográfica foi oficializada em 2009, no entanto, hoje somente uma empresa tem o certificado, e não o utiliza. Berger explica que o cumprimento do caderno de encargos organizado pelo Ministério da Agricultura é oneroso para o setor em questões que envolvem exigências de mercado, ao invés das responsabilidades ambientais, de segurança ou saúde do trabalho.
Mais importante, por exemplo, é a certificação internacional Leather Working Group (LWG), e nesta, os gaúchos são exemplares. Em 2021, 65 curtumes brasileiros garantiram esta certificação na classe ouro (com os mais altos índices de avaliação nas auditorias). Destes, 20 são gaúchos, e 13 estão no Vale do Sinos. São sete deles justamente no eixo Portão-Estância Velha, o epicentro da tragédia ambiental de 15 anos atrás.
A LWG é uma organização sem fins lucrativos criada em 2005 por um grupo de marcas, como Adidas, Nike, New Balance e Timberland, para aumentar a responsabilidade ambiental e social do setor. Entre os quesitos avaliados pelos protocolos estão o uso de água na produção, a destinação de resíduos líquidos e sólidos e o monitoramento também de fornecedores indiretos, desde o começo da cadeia produtiva do couro, com a rastreabilidade do gado que dá origem ao couro. Pelo menos cinco dos 13 curtumes da região, nesta elite de exportadores, têm índice de rastreabilidade do produto acima de 90%.
Parte da mudança no perfil dos curtumes locais pode estar associada às mudanças na produção. Atualmente, poucos deles se dedicam aos primeiros processos de preparação do couro, que historicamente eram mais agressivos ao meio ambiente, se tornando especialistas no couro acabado.
Ainda assim, a rede de monitoramento mantida pelo Consórcio Pró-Sinos aponta a região desde a zona urbana de Portão até a foz do Arroio Portão como uma das mais críticas entre os 24 pontos monitorados na bacia do Sinos, com índices ruins de demanda bioquímica de oxigênio e de coliformes termotolerantes. O Sistema de Outorgas do Rio Grande do Sul também demonstra que o setor demanda, no Vale do Sinos, pelo menos 9,4 milhões de litros de água diariamente.
"Hoje, o volume de água consumido nos processos dos nossos curtumes é 50% menor do que 15 anos atrás. Houve evolução tecnológica em todos os processos e a consciência do produtor de que reciclar e reutilizar a água é mais econômico do que ter que tratar a água captada", garante o presidente da AICSul.
 

Turismo da região valoriza imigração alemã e belezas naturais

Projeto Vale Germânico quer colocar a região como um novo circuito turístico do Rio Grande do Sul

Projeto Vale Germânico quer colocar a região como um novo circuito turístico do Rio Grande do Sul


Christian Thomas/divulgação/jc
"O que nós oferecemos é uma experiência pelos sabores da cerveja, mas também pela nossa cultura. Aqui, por exemplo, o visitante encontra o bolinho de batata, que é um patrimônio de Sapiranga. Ou ainda, o sorvete de cerveja, que é próprio nosso. Nós acreditamos que, cada vez mais, este roteiro vai se firmar e trazer benefícios para toda a região".
Quem diz isso é o Eduardo Jaeger, proprietário da Köningin Bier, de Sapiranga. A cervejaria criada há quase dois anos recebe até 500 pessoas por mês e a meta para 2022 é dobrar o público. Iniciativas como a dele, que agora faz parte de uma rota de 22 cervejarias na região, fazem a diferença entre os projetos que impulsionam a economia como uma aliada do Rio dos Sinos. Algo que vai muito além da produção.
"Temos um potencial turístico em plena fase de descoberta, relacionado principalmente aos fatores ambientais e culturais da nossa região. O turismo não é o investimento que despolui diretamente o rio, mas é o estímulo, o fomento. Quando as pessoas percebem que tudo se valoriza com o turismo, acontece o sentimento de pertencimento, e aí sim, teremos ajudado o rio a ser ressignificado para as pessoas. Todos vão querer investir para que este rio seja o melhor possível", explica Deivid Schu.
Ele é diretor de turismo de Novo Hamburgo e coordenador regional do chamado Vale Germânico. O projeto tem como um dos seus objetivos colocar o caminho da colonização alemã, a partir de São Leopoldo e Novo Hamburgo, na vitrine como uma nova região turística no Rio Grande do Sul. O mote atual para a promoção do Vale Germânico está nos 200 anos da colonização, que serão comemorados em 2024. O Caminho das Cervejarias, por exemplo, é o maior do Brasil e é um dos dez roteiros idealizados pelo Vale Germânico.
Atualmente, nove municípios fazem parte do Vale: São Leopoldo, Novo Hamburgo, Ivoti, Dois Irmãos, Morro Reuter, Santa Maria do Herval, Campo Bom, Sapiranga e Araricá. A perspectiva é de que sejam integrados ainda Estância Velha, Lindolfo Collor, Presidente Lucena, São José do Hortêncio e Nova Hartz. "Começamos a idealizar o Vale Germânico em 2018, pela necessidade de regionalização do turismo. Temos o turismo de negócios já bem estabelecido. Nosso desafio é canalizar este potencial para a ocupação do turismo de lazer. O ambiente é o mais propício possível, porque estamos no limite da região metropolitana industrializada. Em Novo Hamburgo, por exemplo, dois terços do território são área rural", explica Schu. Com um investimento de R$ 700 mil, as rotas idealizadas foram apresentadas em fevereiro de 2020 - logo depois, veio a pandemia. Aí foi o momento de qualificar os potenciais parceiros das rotas turísticas. Parcerias com a Emater e o Sebrae, por exemplo, têm qualificado pequenos produtores da região para estabelecer o Caminho Rural. Este será, de acordo com Deivid Schu, um roteiro plural, que vai desde os produtores que recebem o público para mostrar como trabalham na terra até programações gastronômicas, sítios de lazer ou segmentados.
Além do Caminho das Cervejarias, a outra rota já estabelecida é o Caminho da Contemplação, que inclui os templos religiosos e a arquitetura alemã da região.
Em virtude da pandemia, ainda não foi possível projetar os resultados deste impulso ao turismo. A meta, de acordo com Schu, primeiro é conseguir retomar o ritmo da economia a níveis de 2019. Sabe-se que a região, a partir de Novo Hamburgo, atrai dois milhões de pessoas em eventos oficiais do calendário turístico gaúcho.
 

O rio dos Sinos como protagonista

Possibilidade de desenvolver setor hidroviário também é uma realidade

Possibilidade de desenvolver setor hidroviário também é uma realidade


Daiton Lima/divulgação/jc
No horizonte do projeto turístico da região, o rio é protagonista. "Uma evolução nos investimentos em despoluição nos abrirá portas, porque o rio sempre foi um elemento chave na colonização. Ainda não estabelecemos o turismo náutico, mas está nos nossos planos, por exemplo, retomar projetos como o do barco Martim Pescador, para que as pessoas conheçam a história e as características do Sinos", diz Deivid Schu.
O Instituto Martim Pescador manteve durante 12 anos, até 2015, o barco na água como forma de estímulo à educação ambiental e ao turismo na região, partindo de São Leopoldo, justamente como um resgate do que marcou todo o início da história do desenvolvimento econômico relacionado ao Rio dos Sinos.
"Se conseguirmos atingir um bom nível de despoluição nos próximos anos, o rio como forma de transporte e até mesmo uma via logística, mesmo que limitada a somente uma parte do rio, certamente entra na agenda dos investimentos na região. O potencial é importante, existe, como a história demonstra, e precisa ser pensado para o futuro", diz o economista José Antônio Ribeiro de Moura.
A possibilidade de desenvolver o setor hidroviário faz parte inclusive das metas do Plano Estratégico de Desenvolvimento 2015-2030, que teve a participação do Conselho Regional de Desenvolvimento do Vale do Sinos (Consinos).
Antes disso, em 2014, o Plano Hidroviário do Rio Grande do Sul, desenvolvido pela Metroplan, projetou pelo menos o início da rota hidroviária no Rio dos Sinos. A partir da Ilha dos Marinheiros, ainda em Porto Alegre, teria um primeiro terminal na Praia do Paquetá, em Canoas, e paradas em Nova Santa Rita, Esteio, Sapucaia do Sul e possivelmente em São Leopoldo.
O próprio estudo, no entanto, alerta para limitações impostas, por exemplo, pela ponte sob a via férrea, em Canoas, e para a concorrência rodoviária e ferroviária da região contra um possível projeto de via logística pelo rio. A recomendação, na época, já era de exploração preferencial para o setor do turismo. Isso, contando com melhorias visuais da paisagem, pela despoluição do manancial.
Na prática, a rota hidroviária do Sinos, que já foi a principal forma de escoamento da produção da colônia alemã, hoje se limita à sua foz, em Canoas, onde fica o terminal da empresa Bianchini, que escoa sua produção em direção a Rio Grande.

* Eduardo Torres é jornalista, com passagens pelos jornais Zero Hora, Diário Gaúcho e Correio de Gravataí